Salesianos na África Central: contra a guerra, contra a fome

Segunda, 08 Dezembro 2014 22:29 Escrito por 
A República Centro-Africana “vive no caos porque, depois de mais de um ano de conflito, não há qualquer governo ou instituição”. A afirmação é do missionário salesiano espanhol padre Agustín Cuevas, diretor da Obra Salesiana de Galabadja, em Bangui, Capital da República Centro-Africana. 

Padre Cuevas, 70 anos, passou mais da metade de sua vida no continente africano, sendo que os últimos três foram vividos na República Centro-Africana onde, ao lado de outros quatro salesianos, ele mantém a obra salesiana. O local possui uma escola frequentada por mais de 650 crianças, uma paróquia com centro juvenil e uma clínica médica com seção de maternidade, na qual já nasceram cerca de 500 crianças, desde o início do conflito.

Os confrontos na República Centro-Africana, onde 65% da população é cristã, começaram em 2012, quando os séléka, milícia formada por membros muçulmanos e contrários ao governo, se apropriou das regiões norte e nordeste do país e posteriormente, em 2013, derrubou o então presidente eleito, François Bozizé. Em 5 de dezembro de 2014, os anti-balaka, milícias cristãs, responderam à tomada de poder dos séléka dando início a uma série de ataques violentos contra a população do grupo muçulmano. Desde então, as tensões político-religiosas aumentaram no país obrigando mais de um milhão de pessoas a deixarem suas casas a procura de ambientes seguros. De acordo com dados da ONU, divulgados em abril deste ano, o conflito gerou 935 mil refugiados.

A República Centro-Africana, no entanto, não é o único país da África Central que sofre com as guerras civis. Sudão do Sul e República Democrática do Congo também são palco constante de conflitos, motivados por diferenças religiosas, étnicas ou por questões políticas. Nessas regiões a população está sujeita a todos os tipos de violência e os direitos humanos são constantemente violados. A situação só não é mais drástica graças à ajuda humanitária que chega por meio de organizações internacionais e de missionários ligados a congregações religiosas. Muitos salesianos e salesianas compõem essa base de apoio humanitário. Eles estão presentes em locais esquecidos pelo governo e se dedicam a levar ajuda material, espiritual e esperança a um povo marcado pelo terror da guerra.

 

Em território de guerra

Promover o mínimo de dignidade humana aos refugiados de guerra é o principal objetivo de missionários salesianos e salesianas. Uma tarefa nada fácil diante do grande número de pessoas que procuram abrigo nas obras salesianas (escolas, paróquias, centros sociais) para se protegerem dos ataques, que ocorrem em zonas de conflito, e no caso das mulheres e meninas, do medo de violência sexual. Para se ter ideia, em junho deste ano o número de refugiados abrigados na Igreja de São João Bosco, em Bangui, chegou a 22 mil, sendo a maioria mulheres e crianças “Houve momentos em que passavam de 22 mil, enchendo à cunha os edifícios e todos os espaços disponíveis da obra, ajeitando-se, para dormir, sobre bancos e o pavimento da igreja, enquanto se ouvia o ruído dos disparos, das explosões dos morteiros e das granadas, que não terminava”, relatou padre Cuevas, em um artigo publicado no site ‘El Confidencial’.

Outro problema que os missionários enfrentam é a falta de produtos de higiene, remédios, alimento e água potável para atender as necessidades básicas dos refugiados. No último mês de outubro, por exemplo, os salesianos de Bangui não tinham comida e nem água para oferecer a eles. A situação chegou a esse ponto por causa de uma nova onda de ataques, desta vez desencadeada pelos anti-balakas, que impediu a chegada de auxílio humanitário na obra.

 

Ações solidárias

Uma das preocupações dos Salesianos (SDB) e das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) que estão em zonas de conflito é levar esperança e novas perspectivas ao povo que sofre com as consequências da guerra. Para isso eles trabalham no desenvolvimento e execução de projetos que contribuam efetivamente na vida da população, em curto e longo prazo. Em Wau, Sudão do Sul, por exemplo, o Instituto Internacional de Maria Auxiliadora (IIMA) elaborou um programa para ajudar ‘mulheres rurais’ que perderam o seu trabalho durante a segunda guerra sudanesa, entre 1983 e 2005. O programa incluía visitas porta a porta, para motivar as mulheres;cursos para terem habilidade na manipulação de grande quantidade de alimentos e pequenos empréstimos para iniciar atividades. Entre as mulheres que participaram dos cursos, hoje há 18, em três povoados diferentes, que cultivam e vendem frutas e hortaliças; seis que possuem um pequeno restaurante na cidade próxima, 16 que fazem trabalhos de bordado, oito dque  administram duas casas de chá e 35 cultivam, em terra própria, o trigo e muitas outras estão empenhadas em diversos trabalhos.

A mesma região também foi beneficiada com outro projeto das irmãs salesianas, desta vez na área da saúde. Com a ajuda de autoridades eclesiais elas construíram um hospital que hoje conta com numerosos serviços. Quando as FMA chegaram em Wau, em 1984, o único hospital ativo era o do governo, que funcionava com dificuldade. Tonj, no Sudão do Sul, também ganhará um novo hospital. A inauguração ocorrerá em 2015 e é fruto de um trabalho conjunto entre Salesianos, Filhas e Missionárias de Maria Auxiliadora, a Associação “TonjProject Onlus’, fundada pelo padre Omar Delasa, salesiano da Inspetoria Lombardo-Emiliana (ILE), e jovens voluntários da Lombardia salesiana.

Além do hospital, a comunidade salesiana de Tonj administra escolas primárias e secundárias, dispensários, leprosários e oratórios, onde organizam atividades para crianças, jovens e adolescentes, no espírito de Dom Bosco. Além disso, a Associação TonjProject Onlus, nascida em 2007, leva todos os anos para o Sudão do Sul dezenas de jovens que frequentam o Instituto de Formação Profissional CNOS-FAP de ‘Sesto San Giovanni’, além de outros voluntários lombardos.

 

Educar para a paz

Com a ajuda do projeto “Espaços de Paz, Escolas de Reconciliação na República Centro-Africana”, as comunidades salesianas pretendem sanar o mórbido clima atual por meio do instrumento mais eficaz e urgente: a educação dos jovens. O projeto prevê otimizar os recursos pessoais e estruturais das escolas administradas pelas duas comunidades salesianas para dar esperança aos jovens que abandonaram os estudos por causa da situação crítica no país. Os recursos colocados à disposição para o projeto permitirão contribuir para a normalização da vida do país e a olhar com esperança para o futuro, sobre a base de uma formação sólida para a juventude. “O caminho para a reconstrução da República Centro-Africana passa pela educação dos seus filhos e seus jovens”, afirma o padre Manolo Jiménez, missionário salesiano na África há quase 20 anos e agora superior da África Tropical Equatorial.

A educação também foi o caminho escolhido pela comunidade salesiana da República Democrática do Congo. Lá os salesianos mantêm, desde 1988, o Centro Dom Bosco, espaço sediado em Goma que tem ajudado a acolher e educar gratuitamente, cerca de 40.000 crianças e adolescentes em situação de risco. “O empenho pela paz, junto com a acolhida e o desenvolvimento integral da população, especialmente dos pequenos, é também o que caracteriza o Centro Dom Bosco. A Cruz Vermelha continuamente leva à obra salesiana meninas e meninos ‘não acompanhados’, ex-soldados mirins, crianças vítimas da guerra... E aqui ficam até que se encontre sinal de algum seu parente ou até o tempo que for necessário”, explica o padre salesiano Piero Gavioli, diretor da obra de Goma-Ngangi

 

Fontes: InfoANS, cgfmanet.org, Carta Capital 

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Última modificação em Quarta, 10 Dezembro 2014 12:30

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Salesianos na África Central: contra a guerra, contra a fome

Segunda, 08 Dezembro 2014 22:29 Escrito por 
A República Centro-Africana “vive no caos porque, depois de mais de um ano de conflito, não há qualquer governo ou instituição”. A afirmação é do missionário salesiano espanhol padre Agustín Cuevas, diretor da Obra Salesiana de Galabadja, em Bangui, Capital da República Centro-Africana. 

Padre Cuevas, 70 anos, passou mais da metade de sua vida no continente africano, sendo que os últimos três foram vividos na República Centro-Africana onde, ao lado de outros quatro salesianos, ele mantém a obra salesiana. O local possui uma escola frequentada por mais de 650 crianças, uma paróquia com centro juvenil e uma clínica médica com seção de maternidade, na qual já nasceram cerca de 500 crianças, desde o início do conflito.

Os confrontos na República Centro-Africana, onde 65% da população é cristã, começaram em 2012, quando os séléka, milícia formada por membros muçulmanos e contrários ao governo, se apropriou das regiões norte e nordeste do país e posteriormente, em 2013, derrubou o então presidente eleito, François Bozizé. Em 5 de dezembro de 2014, os anti-balaka, milícias cristãs, responderam à tomada de poder dos séléka dando início a uma série de ataques violentos contra a população do grupo muçulmano. Desde então, as tensões político-religiosas aumentaram no país obrigando mais de um milhão de pessoas a deixarem suas casas a procura de ambientes seguros. De acordo com dados da ONU, divulgados em abril deste ano, o conflito gerou 935 mil refugiados.

A República Centro-Africana, no entanto, não é o único país da África Central que sofre com as guerras civis. Sudão do Sul e República Democrática do Congo também são palco constante de conflitos, motivados por diferenças religiosas, étnicas ou por questões políticas. Nessas regiões a população está sujeita a todos os tipos de violência e os direitos humanos são constantemente violados. A situação só não é mais drástica graças à ajuda humanitária que chega por meio de organizações internacionais e de missionários ligados a congregações religiosas. Muitos salesianos e salesianas compõem essa base de apoio humanitário. Eles estão presentes em locais esquecidos pelo governo e se dedicam a levar ajuda material, espiritual e esperança a um povo marcado pelo terror da guerra.

 

Em território de guerra

Promover o mínimo de dignidade humana aos refugiados de guerra é o principal objetivo de missionários salesianos e salesianas. Uma tarefa nada fácil diante do grande número de pessoas que procuram abrigo nas obras salesianas (escolas, paróquias, centros sociais) para se protegerem dos ataques, que ocorrem em zonas de conflito, e no caso das mulheres e meninas, do medo de violência sexual. Para se ter ideia, em junho deste ano o número de refugiados abrigados na Igreja de São João Bosco, em Bangui, chegou a 22 mil, sendo a maioria mulheres e crianças “Houve momentos em que passavam de 22 mil, enchendo à cunha os edifícios e todos os espaços disponíveis da obra, ajeitando-se, para dormir, sobre bancos e o pavimento da igreja, enquanto se ouvia o ruído dos disparos, das explosões dos morteiros e das granadas, que não terminava”, relatou padre Cuevas, em um artigo publicado no site ‘El Confidencial’.

Outro problema que os missionários enfrentam é a falta de produtos de higiene, remédios, alimento e água potável para atender as necessidades básicas dos refugiados. No último mês de outubro, por exemplo, os salesianos de Bangui não tinham comida e nem água para oferecer a eles. A situação chegou a esse ponto por causa de uma nova onda de ataques, desta vez desencadeada pelos anti-balakas, que impediu a chegada de auxílio humanitário na obra.

 

Ações solidárias

Uma das preocupações dos Salesianos (SDB) e das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) que estão em zonas de conflito é levar esperança e novas perspectivas ao povo que sofre com as consequências da guerra. Para isso eles trabalham no desenvolvimento e execução de projetos que contribuam efetivamente na vida da população, em curto e longo prazo. Em Wau, Sudão do Sul, por exemplo, o Instituto Internacional de Maria Auxiliadora (IIMA) elaborou um programa para ajudar ‘mulheres rurais’ que perderam o seu trabalho durante a segunda guerra sudanesa, entre 1983 e 2005. O programa incluía visitas porta a porta, para motivar as mulheres;cursos para terem habilidade na manipulação de grande quantidade de alimentos e pequenos empréstimos para iniciar atividades. Entre as mulheres que participaram dos cursos, hoje há 18, em três povoados diferentes, que cultivam e vendem frutas e hortaliças; seis que possuem um pequeno restaurante na cidade próxima, 16 que fazem trabalhos de bordado, oito dque  administram duas casas de chá e 35 cultivam, em terra própria, o trigo e muitas outras estão empenhadas em diversos trabalhos.

A mesma região também foi beneficiada com outro projeto das irmãs salesianas, desta vez na área da saúde. Com a ajuda de autoridades eclesiais elas construíram um hospital que hoje conta com numerosos serviços. Quando as FMA chegaram em Wau, em 1984, o único hospital ativo era o do governo, que funcionava com dificuldade. Tonj, no Sudão do Sul, também ganhará um novo hospital. A inauguração ocorrerá em 2015 e é fruto de um trabalho conjunto entre Salesianos, Filhas e Missionárias de Maria Auxiliadora, a Associação “TonjProject Onlus’, fundada pelo padre Omar Delasa, salesiano da Inspetoria Lombardo-Emiliana (ILE), e jovens voluntários da Lombardia salesiana.

Além do hospital, a comunidade salesiana de Tonj administra escolas primárias e secundárias, dispensários, leprosários e oratórios, onde organizam atividades para crianças, jovens e adolescentes, no espírito de Dom Bosco. Além disso, a Associação TonjProject Onlus, nascida em 2007, leva todos os anos para o Sudão do Sul dezenas de jovens que frequentam o Instituto de Formação Profissional CNOS-FAP de ‘Sesto San Giovanni’, além de outros voluntários lombardos.

 

Educar para a paz

Com a ajuda do projeto “Espaços de Paz, Escolas de Reconciliação na República Centro-Africana”, as comunidades salesianas pretendem sanar o mórbido clima atual por meio do instrumento mais eficaz e urgente: a educação dos jovens. O projeto prevê otimizar os recursos pessoais e estruturais das escolas administradas pelas duas comunidades salesianas para dar esperança aos jovens que abandonaram os estudos por causa da situação crítica no país. Os recursos colocados à disposição para o projeto permitirão contribuir para a normalização da vida do país e a olhar com esperança para o futuro, sobre a base de uma formação sólida para a juventude. “O caminho para a reconstrução da República Centro-Africana passa pela educação dos seus filhos e seus jovens”, afirma o padre Manolo Jiménez, missionário salesiano na África há quase 20 anos e agora superior da África Tropical Equatorial.

A educação também foi o caminho escolhido pela comunidade salesiana da República Democrática do Congo. Lá os salesianos mantêm, desde 1988, o Centro Dom Bosco, espaço sediado em Goma que tem ajudado a acolher e educar gratuitamente, cerca de 40.000 crianças e adolescentes em situação de risco. “O empenho pela paz, junto com a acolhida e o desenvolvimento integral da população, especialmente dos pequenos, é também o que caracteriza o Centro Dom Bosco. A Cruz Vermelha continuamente leva à obra salesiana meninas e meninos ‘não acompanhados’, ex-soldados mirins, crianças vítimas da guerra... E aqui ficam até que se encontre sinal de algum seu parente ou até o tempo que for necessário”, explica o padre salesiano Piero Gavioli, diretor da obra de Goma-Ngangi

 

Fontes: InfoANS, cgfmanet.org, Carta Capital 

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