Dom Bosco era um místico?

Quinta, 09 Abril 2015 11:26 Escrito por  Zenit
Dom Bosco era um místico? InfoANS
  Padre Roberto Spataro revela a religiosidade do fundador dos Salesianos e fala sobre sua vocação.   À época, Giovanni Bosco foi criticado pelos leigos porque era um padre muito dinâmico, muito envolvido com projetos de construção de escolas, oficinas, gráficas. Ele também foi criticado por alguns sacerdotes porque diziam que ele pregava pouco e dedicava pouco tempo para a liturgia. No entanto, muitos falavam de sua espiritualidade intensa, profunda e comovente. O que há de verdade nisso?   A Agência de notícias ZENIT entrevistou o padre Spataro, secretário da Pontifícia Academia Latinitatis e professor da Pontifícia Salesiana. Confira abaixo:  

Zenit: Fala-se muito sobre o dinamismo de Dom Bosco, um pouco menos de sua espiritualidade e de sua intensa vida religiosa. Alguns dizem que ao celebrar a Missa, chorava durante a consagração. O senhor pode nos ajudar a entender mais sobre a espiritualidade deste homem santo?
 

Padre Roberto: Dom Bosco é um sacerdote tipicamente "postridentino", ou seja, um sacerdote dedicado a salus animarum com uma poderosa vida interior, alimentada por uma piedade substancial e regular: missa diária, confissão semanal, visita diária a Jesus Eucarístico, devoção mariana, especialmente o rosário, veneração dos santos, jaculatórias, como são chamadas as pequenas orações frequentes.


Dom Bosco foi formado no Seminário de Chieri, mas um impacto muito forte sobre a sua identidade sacerdotal é decorrente dos três anos que passou, logo após sua ordenação, no Convento Eclesiástico de Turim, sob a direção espiritual de São José Cafasso. Lá, ele definiu a organização de sua vida interior. Ao longo dos anos, enriquecido por carismas sobrenaturais, sua alma foi ficando cada vez mais concentrada e ‘recolhida’ em Deus.

 

Padre Achille Ratti, futuro Pio XI, também percebeu isso, quando visitando o Oratório de Dom Bosco, nos anos em que a obra salesiana passava por uma expansão significativa, ficou impressionado pelo espírito contemplativo de Don Bosco. Pio XI, depois de muitos anos, falou sobre este encontro: "Ele estava presente em tudo (...) entre uma multidão de pedidos e consultas, e com o espírito sempre além, sempre ao alto, sempre sereno, onde a calma dominava. Para ele o trabalho era oração, e se tornava realidade o grande princípio da vida cristã: qui laborat orat. Diria que seus pensamentos estavam em outro lugar, e era realmente assim: estava em outro lugar, com Deus, em espírito de união. Mas, em seguida, respondia a todos: tinha a palavra certa para tudo e para si mesmo.

 

Durante o processo de beatificação, que foi cheio de obstáculos, houve também a seguinte objeção: "Mas quando Dom Bosco rezava?". E a "resposta", que refutou a observação, foi dada por Pio XI: "Mas Dom Bosco, quando não rezava?".
 

Sim, Dom Bosco era um místico, apesar de termos pouca documentação sobre este ponto. Na verdade, como um bom piemontês, era zeloso com sua vida interior. Deixou muito pouco em seus escritos. A santidade de Dom Bosco é tão entrelaçada com a vida comum, que pode ser acolhida apenas pelas almas mais sensíveis e capazes de vibrar pelas coisas de Deus. Aqueles que estavam perto ou tiveram a oportunidade de conhecê-lo, dotados de uma particular intuição, percebiam que por trás daquela normalidade, estava escondido algo mais profundo.

 

Impressão, por exemplo, da Marquesa Barolo que percebeu nele "aquele ar de recolhimento e simplicidade das almas santas", a ponto de abrir as portas de suas obras. Bem como Maria Santa Domingos Mazzarello em Mornese quando encontrou Dom Bosco pela primeira vez, disse: "Dom Bosco é um santo e eu sinto isso". O beato Michele Rua, que esteve ao lado dele por quase 40 anos, seu primeiro sucessor, confessou que ficava mais impressionado ao observá-lo, mesmo nas pequenas atitudes, do que ao ler ou meditar qualquer livro devocional.
 

Zenit: Como o senhor descobriu Dom Bosco?
 

Padre Roberto: Ah, boa pergunta! Isso me faz voltar no tempo: 1977,  sábado à tarde, início do outono. Lembro-me como se fosse hoje. Com apenas 12  anos, entro pela primeira vez, um pouco intimidado, no oratório salesiano de Potenza e sou recebido como se estivesse sido esperado por muito tempo. Fui imediatamente atraído e envolvido nas atividades: jogos, formação cristã, esporte, teatro, voluntariado. Depois de algum tempo, eu descobri que na origem dessa feliz experiência que acompanhou o meu crescimento, estava Dom Bosco. Todos o conhecem assim: salesianos, educadores, crianças, pais, em suma, os "habitantes" que povoam o ambiente salesiano. Eu aprendi a conhecê-lo e, conhecendo-o, não podia não amá-lo. Eu sinto que ele está perto de nós. Claro, eu li sua biografia e outros livros que ilustram a sua personalidade, mas descobri Dom Bosco, dia após dia, no ambiente salesiano que eu frequentava, pelo testemunho e  compromisso de educadores que são inspirados por ele, salesianos inesquecíveis, diferentes em idade, sensibilidade, capacidade, mas todos uma reprodução fiel do amor pedagógico de Dom Bosco para com os jovens. Eu fui atraído por ele, como se fosse um ímã.
 

Zenit: O carisma de Dom Bosco influenciou a sua vocação?
 

Padre Roberto: Muito. Aos 13 anos, me lembro muito bem, comecei a querer tornar-me sacerdote. Eu me identifiquei com o modelo "dombosquiano" de padre, diligentemente apostólico, cordialmente sorridente, assim como os salesianos que conheci e que me acompanharam com sabedoria. Com o passar do tempo, quando eu comecei a entender que o meu desejo era na verdade uma "vocação", eu não tive dúvida: padre salesiano, com Dom Bosco.
 

Em particular, uma atividade me ajudou muito no discernimento vocacional: o serviço no altar. No oratório, os salesianos realizavam um itinerário vocacional, que remonta ao próprio Dom Bosco: o amor à liturgia e ao grupo do "pequeno clero", como diziam. Dom Bosco foi, à sua maneira, um precursor do movimento litúrgico e instou a ‘participatio’ dos meninos. O cuidado com o "pequeno clero" sempre foi característica das comunidades salesianas e sempre se mostrou uma ‘schola vocationis’. Permita-me, a este respeito, expressar o desejo de que as comunidades eclesiais nunca subestimem esta forma de educação vocacional e que, por este motivo, o serviço ao altar seja reservado aos meninos.
 

Os anos se passaram, eu fui para o noviciado, continuei a minha formação, e descobri outro aspecto da santidade sacerdotal de Dom Bosco: a profundidade de sua vida espiritual. Um livro que influenciou muito o meu amadurecimento foi um livreto, intitulado Dom Bosco. A união com Deus. A definição é do cardeal Alimonda, arcebispo de Turim, que consolou com o seu carinho os últimos anos de Dom Bosco nesta terra. O autor do livro é o padre Eugenio Ceria, um dos melhores biógrafos de Dom Bosco, que foi capaz, entre outras coisas, de conhecer. Assim, eu compreendi bem que buscar inspiração para o próprio sacerdócio em Dom Bosco significa tornar-se uma alma de oração.

 

Zenit

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Última modificação em Sexta, 10 Abril 2015 14:00

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Quinta, 09 Abril 2015 11:26 Escrito por  Zenit
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  Padre Roberto Spataro revela a religiosidade do fundador dos Salesianos e fala sobre sua vocação.   À época, Giovanni Bosco foi criticado pelos leigos porque era um padre muito dinâmico, muito envolvido com projetos de construção de escolas, oficinas, gráficas. Ele também foi criticado por alguns sacerdotes porque diziam que ele pregava pouco e dedicava pouco tempo para a liturgia. No entanto, muitos falavam de sua espiritualidade intensa, profunda e comovente. O que há de verdade nisso?   A Agência de notícias ZENIT entrevistou o padre Spataro, secretário da Pontifícia Academia Latinitatis e professor da Pontifícia Salesiana. Confira abaixo:  

Zenit: Fala-se muito sobre o dinamismo de Dom Bosco, um pouco menos de sua espiritualidade e de sua intensa vida religiosa. Alguns dizem que ao celebrar a Missa, chorava durante a consagração. O senhor pode nos ajudar a entender mais sobre a espiritualidade deste homem santo?
 

Padre Roberto: Dom Bosco é um sacerdote tipicamente "postridentino", ou seja, um sacerdote dedicado a salus animarum com uma poderosa vida interior, alimentada por uma piedade substancial e regular: missa diária, confissão semanal, visita diária a Jesus Eucarístico, devoção mariana, especialmente o rosário, veneração dos santos, jaculatórias, como são chamadas as pequenas orações frequentes.


Dom Bosco foi formado no Seminário de Chieri, mas um impacto muito forte sobre a sua identidade sacerdotal é decorrente dos três anos que passou, logo após sua ordenação, no Convento Eclesiástico de Turim, sob a direção espiritual de São José Cafasso. Lá, ele definiu a organização de sua vida interior. Ao longo dos anos, enriquecido por carismas sobrenaturais, sua alma foi ficando cada vez mais concentrada e ‘recolhida’ em Deus.

 

Padre Achille Ratti, futuro Pio XI, também percebeu isso, quando visitando o Oratório de Dom Bosco, nos anos em que a obra salesiana passava por uma expansão significativa, ficou impressionado pelo espírito contemplativo de Don Bosco. Pio XI, depois de muitos anos, falou sobre este encontro: "Ele estava presente em tudo (...) entre uma multidão de pedidos e consultas, e com o espírito sempre além, sempre ao alto, sempre sereno, onde a calma dominava. Para ele o trabalho era oração, e se tornava realidade o grande princípio da vida cristã: qui laborat orat. Diria que seus pensamentos estavam em outro lugar, e era realmente assim: estava em outro lugar, com Deus, em espírito de união. Mas, em seguida, respondia a todos: tinha a palavra certa para tudo e para si mesmo.

 

Durante o processo de beatificação, que foi cheio de obstáculos, houve também a seguinte objeção: "Mas quando Dom Bosco rezava?". E a "resposta", que refutou a observação, foi dada por Pio XI: "Mas Dom Bosco, quando não rezava?".
 

Sim, Dom Bosco era um místico, apesar de termos pouca documentação sobre este ponto. Na verdade, como um bom piemontês, era zeloso com sua vida interior. Deixou muito pouco em seus escritos. A santidade de Dom Bosco é tão entrelaçada com a vida comum, que pode ser acolhida apenas pelas almas mais sensíveis e capazes de vibrar pelas coisas de Deus. Aqueles que estavam perto ou tiveram a oportunidade de conhecê-lo, dotados de uma particular intuição, percebiam que por trás daquela normalidade, estava escondido algo mais profundo.

 

Impressão, por exemplo, da Marquesa Barolo que percebeu nele "aquele ar de recolhimento e simplicidade das almas santas", a ponto de abrir as portas de suas obras. Bem como Maria Santa Domingos Mazzarello em Mornese quando encontrou Dom Bosco pela primeira vez, disse: "Dom Bosco é um santo e eu sinto isso". O beato Michele Rua, que esteve ao lado dele por quase 40 anos, seu primeiro sucessor, confessou que ficava mais impressionado ao observá-lo, mesmo nas pequenas atitudes, do que ao ler ou meditar qualquer livro devocional.
 

Zenit: Como o senhor descobriu Dom Bosco?
 

Padre Roberto: Ah, boa pergunta! Isso me faz voltar no tempo: 1977,  sábado à tarde, início do outono. Lembro-me como se fosse hoje. Com apenas 12  anos, entro pela primeira vez, um pouco intimidado, no oratório salesiano de Potenza e sou recebido como se estivesse sido esperado por muito tempo. Fui imediatamente atraído e envolvido nas atividades: jogos, formação cristã, esporte, teatro, voluntariado. Depois de algum tempo, eu descobri que na origem dessa feliz experiência que acompanhou o meu crescimento, estava Dom Bosco. Todos o conhecem assim: salesianos, educadores, crianças, pais, em suma, os "habitantes" que povoam o ambiente salesiano. Eu aprendi a conhecê-lo e, conhecendo-o, não podia não amá-lo. Eu sinto que ele está perto de nós. Claro, eu li sua biografia e outros livros que ilustram a sua personalidade, mas descobri Dom Bosco, dia após dia, no ambiente salesiano que eu frequentava, pelo testemunho e  compromisso de educadores que são inspirados por ele, salesianos inesquecíveis, diferentes em idade, sensibilidade, capacidade, mas todos uma reprodução fiel do amor pedagógico de Dom Bosco para com os jovens. Eu fui atraído por ele, como se fosse um ímã.
 

Zenit: O carisma de Dom Bosco influenciou a sua vocação?
 

Padre Roberto: Muito. Aos 13 anos, me lembro muito bem, comecei a querer tornar-me sacerdote. Eu me identifiquei com o modelo "dombosquiano" de padre, diligentemente apostólico, cordialmente sorridente, assim como os salesianos que conheci e que me acompanharam com sabedoria. Com o passar do tempo, quando eu comecei a entender que o meu desejo era na verdade uma "vocação", eu não tive dúvida: padre salesiano, com Dom Bosco.
 

Em particular, uma atividade me ajudou muito no discernimento vocacional: o serviço no altar. No oratório, os salesianos realizavam um itinerário vocacional, que remonta ao próprio Dom Bosco: o amor à liturgia e ao grupo do "pequeno clero", como diziam. Dom Bosco foi, à sua maneira, um precursor do movimento litúrgico e instou a ‘participatio’ dos meninos. O cuidado com o "pequeno clero" sempre foi característica das comunidades salesianas e sempre se mostrou uma ‘schola vocationis’. Permita-me, a este respeito, expressar o desejo de que as comunidades eclesiais nunca subestimem esta forma de educação vocacional e que, por este motivo, o serviço ao altar seja reservado aos meninos.
 

Os anos se passaram, eu fui para o noviciado, continuei a minha formação, e descobri outro aspecto da santidade sacerdotal de Dom Bosco: a profundidade de sua vida espiritual. Um livro que influenciou muito o meu amadurecimento foi um livreto, intitulado Dom Bosco. A união com Deus. A definição é do cardeal Alimonda, arcebispo de Turim, que consolou com o seu carinho os últimos anos de Dom Bosco nesta terra. O autor do livro é o padre Eugenio Ceria, um dos melhores biógrafos de Dom Bosco, que foi capaz, entre outras coisas, de conhecer. Assim, eu compreendi bem que buscar inspiração para o próprio sacerdócio em Dom Bosco significa tornar-se uma alma de oração.

 

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