Nota de falecimento: Padre Casimiro Beksta

Quarta, 22 Julho 2015 11:33 Escrito por  Padre Antonio de Assis Ribeiro (Pe.Bira)
Padre salesiano Casimiro Beksta faleceu em Manaus no início da noite de 21 de julho, aos 92 anos. Nascido na Lituânia, em 1923, Casimiro Beksta chegou ao Amazonas na década de 50, quando foi transferido para São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte do estado.

Conviveu com diversas tribos indígenas que habitavam aquela região, deu início a uma respeitada carreira de documentarista, escritor, linguistico, intelectual e militante dos movimentos indígenas. Sua militância o levou a coordenar a Pastoral Indigenista da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o transformou em uma das figuras principais na criação do Conselho Indigenista Missionária (Cimi), ocorrida na década de 70.

 

Padre Casimiro Beksta lecionou no Centro de Estudos do Comportamento Humano (Cenesch) de Manaus, onde ministrou aulas no curso de Ciências Sociais.

 

Suas obras tornaram-se referências internacionais. Entre elas está a tradução do livro para o português, original em alemão, “Dois anos entre os indígenas – Viagens no Noroeste do Brasil (1903-1905)“, obra do antropólogo Theodor Koch-Grunberg publicada pela FSDB e pela Edua em 2005.

 

Cientista da antropologia cultural, padre Casimiro era referência da etnografia amazônica. Mitólogo, consultor, estudioso da cosmologia indígena e fluente em idiomas nativos. Com domínio do idioma tukano, padre Casimiro contava piada na língua do alto rio Negro. Fluente em outros idiomas como o latim e o grego, aprendeu a falar as línguas nativas e dialogava com os indígenas com naturalidade.

 

Padre Casimiro foi uma biblioteca viva para escritores, antropólogos, teatrólogos e professores como escritor Márcio Souza, a artista plástica Bernadete Andrade, a escritora Regina Melo, a professora de Filosofia Socorro Jatobá, a antropóloga paulista Berta Ribeiro, entre muitos outros, que o tiveram como base para suas obras.

 

Por mais de 20 anos, passou pelas comunidades do alto rio Negro, em missão salesiana. Um dos desejos que padre Casimiro não realizou foi o de reeditar o dicionário de Língua Geral de Nheengatu elaborado por Ermano Stradelli (1852-1926), um clássico da etnografia amazônica que ele dizia que precisa de reparos, especialmente os linguísticos.

 

Aos 18 anos, durante a guerra e perseguido pela ditadura stalinista fugiu da Lituânia, que na época fazia parte da ex-União Soviética, e foi parar na Alemanha. Órfão de pais e muito religioso, entrou para o seminário e ainda estudante queria ir para a Índia. Graças ao convite de um bispo chegou ao Brasil, pelo Rio de Janeiro, em 1950 e em dezembro de 1951 o salesiano chegou ao Amazonas.

 

Estudou Teologia em São Paulo, no Instituto Pio XII, tornou-se padre e retornou para o alto rio Negro onde desbravou a floresta amazônica na descoberta e convívio de aldeias e comunidades pouco contatadas e passou a morar em praticamente toda a área do alto rio Negro e afluentes, como rios Yauaretê e Tiquié, além de São Gabriel da Cachoeira.

 

O acervo pessoal de padre Casimiro é rico. Não são apenas anotações, mas gravações inestimáveis, em equipamento que ele sempre carregava consigo, como seu companheiro de viagem, e estão na Inspetoria Salesiana Missionaria da  Amazônia onde residia.

 

Um resumo de sua vida e trabalho como salesiano na Amazônia, pode ser encontrado no documentário “CASIMIRO” sobre as missões salesianas no Alto Rio Negro, no Amazonas, e sua relação com o processo de colonização dos povos indígenas da região. O filme conta sobre sua vida nas missões nas décadas de 1950 e 1960, e também busca os ex-alunos indígenas que participaram dessa história de processo de colonização dos índios brasileiros. Dirigido por Erlan Souza e Fernanda Bizarria.

 

Padre  Antonio de Assis Ribeiro (Pe.Bira)

 

 

 

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Última modificação em Quarta, 22 Julho 2015 14:17

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Nota de falecimento: Padre Casimiro Beksta

Quarta, 22 Julho 2015 11:33 Escrito por  Padre Antonio de Assis Ribeiro (Pe.Bira)
Padre salesiano Casimiro Beksta faleceu em Manaus no início da noite de 21 de julho, aos 92 anos. Nascido na Lituânia, em 1923, Casimiro Beksta chegou ao Amazonas na década de 50, quando foi transferido para São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte do estado.

Conviveu com diversas tribos indígenas que habitavam aquela região, deu início a uma respeitada carreira de documentarista, escritor, linguistico, intelectual e militante dos movimentos indígenas. Sua militância o levou a coordenar a Pastoral Indigenista da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o transformou em uma das figuras principais na criação do Conselho Indigenista Missionária (Cimi), ocorrida na década de 70.

 

Padre Casimiro Beksta lecionou no Centro de Estudos do Comportamento Humano (Cenesch) de Manaus, onde ministrou aulas no curso de Ciências Sociais.

 

Suas obras tornaram-se referências internacionais. Entre elas está a tradução do livro para o português, original em alemão, “Dois anos entre os indígenas – Viagens no Noroeste do Brasil (1903-1905)“, obra do antropólogo Theodor Koch-Grunberg publicada pela FSDB e pela Edua em 2005.

 

Cientista da antropologia cultural, padre Casimiro era referência da etnografia amazônica. Mitólogo, consultor, estudioso da cosmologia indígena e fluente em idiomas nativos. Com domínio do idioma tukano, padre Casimiro contava piada na língua do alto rio Negro. Fluente em outros idiomas como o latim e o grego, aprendeu a falar as línguas nativas e dialogava com os indígenas com naturalidade.

 

Padre Casimiro foi uma biblioteca viva para escritores, antropólogos, teatrólogos e professores como escritor Márcio Souza, a artista plástica Bernadete Andrade, a escritora Regina Melo, a professora de Filosofia Socorro Jatobá, a antropóloga paulista Berta Ribeiro, entre muitos outros, que o tiveram como base para suas obras.

 

Por mais de 20 anos, passou pelas comunidades do alto rio Negro, em missão salesiana. Um dos desejos que padre Casimiro não realizou foi o de reeditar o dicionário de Língua Geral de Nheengatu elaborado por Ermano Stradelli (1852-1926), um clássico da etnografia amazônica que ele dizia que precisa de reparos, especialmente os linguísticos.

 

Aos 18 anos, durante a guerra e perseguido pela ditadura stalinista fugiu da Lituânia, que na época fazia parte da ex-União Soviética, e foi parar na Alemanha. Órfão de pais e muito religioso, entrou para o seminário e ainda estudante queria ir para a Índia. Graças ao convite de um bispo chegou ao Brasil, pelo Rio de Janeiro, em 1950 e em dezembro de 1951 o salesiano chegou ao Amazonas.

 

Estudou Teologia em São Paulo, no Instituto Pio XII, tornou-se padre e retornou para o alto rio Negro onde desbravou a floresta amazônica na descoberta e convívio de aldeias e comunidades pouco contatadas e passou a morar em praticamente toda a área do alto rio Negro e afluentes, como rios Yauaretê e Tiquié, além de São Gabriel da Cachoeira.

 

O acervo pessoal de padre Casimiro é rico. Não são apenas anotações, mas gravações inestimáveis, em equipamento que ele sempre carregava consigo, como seu companheiro de viagem, e estão na Inspetoria Salesiana Missionaria da  Amazônia onde residia.

 

Um resumo de sua vida e trabalho como salesiano na Amazônia, pode ser encontrado no documentário “CASIMIRO” sobre as missões salesianas no Alto Rio Negro, no Amazonas, e sua relação com o processo de colonização dos povos indígenas da região. O filme conta sobre sua vida nas missões nas décadas de 1950 e 1960, e também busca os ex-alunos indígenas que participaram dessa história de processo de colonização dos índios brasileiros. Dirigido por Erlan Souza e Fernanda Bizarria.

 

Padre  Antonio de Assis Ribeiro (Pe.Bira)

 

 

 

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