Missionários recebem o título de Doutor Honoris Causa em Direitos Humanos

Quarta, 23 Setembro 2015 11:34 Escrito por  Fládima Christofari
Como parte das comemorações pelo bicentenário do nascimento de Dom Bosco, a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), da Inspetoria Salesiana de Campo Grande, concedeu o título “Doctor Honoris Causa" ao salesiano coadjutor Adalbert Heide e aos padres Bartolomeu Giaccaria e Gonçalo Ochoa pela relevante contribuição de seus trabalhos como missionários em meio aos povos indígenas Bororo e Xavante.

A homenagem foi concedida no dia 12 de agosto pelo presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), padre Gildásio Mendes, e pelo reitor da UCDB, padre José Marinoni.

A UCDB agraciou ainda os professores, doutor Antonio Brand e doutora Mariluce Bittar, ambos in memoriam, em reconhecimento à atuação junto aos cursos de graduação e pós-graduação e pela contribuição na construção de conhecimentos capazes de promover uma sociedade mais justa. Os professores foram representados por seus filhos Luciana Brand e André Bittar.  “Concedemos o título a cinco pessoas que se destacaram na defesa dos Direitos Humanos: salesianos missionários que desenvolvem importante trabalho com indígenas e professores que nos deixaram, mas que continuam presentes na memória dos colegas docentes e seus acadêmicos”, enfatizou o padre Marinoni.

 

“Dentro dos cenários sociopolítico e cultural que estamos vivendo no Brasil e no mundo, eles nos ensinam que, por meio do estudo, é possível compreender melhor as sociedades, valorizar suas culturas, dialogar com as diversidades culturais, colocar o conhecimento a serviço da vida, de políticas públicas, promovendo a cidadania, a ética, a espiritualidade e a cultura dos povos”, complementou o presidente da MSMT.

 

Missão Salesiana de Mato Grosso: 121 anos de presença missionária

 

A Missão Salesiana é uma Inspetoria missionária desde as suas origens, o trabalho missionário marcou seu início e continua sendo a sua identidade. Em visita recente à Inspetoria, o conselheiro geral para as Missões Salesianas, padre Guilhermo Basañes, destacou a presença missionária dos salesianos atualmente nas comunidades Bororo e Xavante, em Sangradouro, Meruri e São Marcos.

 

Para ele, “essa variedade de culturas é um grande instrumento de educação e de evangelização”. Bororo e Xavante encontraram nas missões salesianas a presença amiga, fortalecimento da sua cultura, segurança e infraestrutura em suas aldeias. “Dom Bosco está vivo nas comunidades indígenas. Isto, podemos ver na continuação do carisma salesiano entre indígenas”, ressalta o padre salesiano Eloir Inácio de Oliveira.

 

A MSMT tem uma grande história de presença constante junto aos destinatários indígenas, por isso quis expressar a sua gratidão aos missionários estrangeiros que há décadas desenvolvem diversos trabalhos e pesquisas entre as populações indígenas de Mato Grosso e colaboram para o desenvolvimento da região e preservação da cultura.

 

Homenageados

 

Mestre Adalbert Heid


Sistemático, disciplinado, organizado e com grande curiosidade científica, o irmão (ou Mestre – como os coadjutores são conhecidos no Brasil) Adalbert Heide é um alemão apaixonado pela cultura indígena. Sua atuação é tão expressiva que foi personagem de um vídeo documentário premiado no Brasil – O Mestre e o Divino, dirigido por Tiago Campos.

 

Mestre Adalbert nasceu em 1934, em Ratibor, cidade que pertencia à Alemanha e que, depois da guerra, passou a pertencer à Polônia. Logo após a sua profissão religiosa assumiu a sua vocação missionária no Brasil. Aos 23 anos  realizou o seu sonho de entrar em uma missão indígena.  Foi em Sangradouro, em meio ao povo Xavante que ele passou a fazer o que realmente sonhava.

 

O mestre se adaptou rápido à cultura, inclusive no domínio total do idioma xavante. Tanto é que entre as atribuições assumidas por ele estavam as de intérprete, professor da língua Xavante e de cultura religiosa, assessor de jovens índios, escritor e tradutor em Xavante da missa e de muitos textos da bíblia. Um dos trabalhos mais reconhecidos é a autoria da escrita e numeração xavante e a coautoria dos livros “Xavante povo autêntico”, “Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhos”, publicados em 1972 e 1975.

 

Além dos textos, o mestre Adalbert imortalizou a cultura da região com as suas filmagens de eventos históricos das missões em São Marcos, Meruri e Sangradouro.

 

 Padre Bartolomeo Giaccaria

 

Aos 82 anos  o sacerdote salesiano Bartolomeo Giaccaria, natural de Chiusa Pesio (Cúneo) – Itália, continua a percorrer as missões salesianas em estradas precárias para anunciar o evangelho.

 

Desde 1961, ele leva o amor a Jesus Cristo e a devoção a Dom Bosco aos Bororos e Xavantes por meio da itinerância missionária. Todos os dias, dirigindo o seu carro, vai de aldeia em aldeia partilhando com crianças, jovens e adultos, dores e esperanças, desafios e conquistas nas comunidades São Marcos, Sangradouro e Nova Xavantina.

 

Foi por meio da itinerância missionária que o sacerdote passou a coletar elementos linguísticos e gramaticais da língua Xavante para redigir um dicionário xavante-português. A edição provisória e reduzida da obra foi publicada com mais de mil verbetes, em 1957. A partir do ano seguinte, seguiu com as publicações da cartilha bilíngue e o catecismo bilíngue (xavante – português).

 

Duas de suas obras literárias foram reconhecidas internacionalmente: os livros: “AuweUptabi – UominiVeri: Vita Xavante” e “Jerônimo Xavante Conta e Jerônimo Xavante Sonha” – traduzidos em espanhol e inglês – e publicados pela Universidade de Quito e da Califórnia.

 

Atualmente, por meio da paróquia itinerante São Domingos Sávio, padre Giaccaria passou a atender a todas as aldeias da etnia xavante.

 

Padre Gonçalo Ochoa

 

Padre  Gonçalo Alberto Ochoa Camargo tem 85 anos e há 48 anos trabalha na Aldeia Meruri, da etnia bororo. É autor de vários livros, entre eles uma das partes da Enciclopédia Bororo, “A História Mítica Bororo”, “Lendas Bororo”, “Novo Testamento em Língua Bororo” e de leituras bíblicas usadas em missas e sacramentos.

 

A seriedade de seu trabalho em pesquisas antropológicas, a perseverança para enfrentar as dificuldades do idioma e o aprendizado da nova cultura foram transpassadas pela sua força de vontade em conquistar um sonho: de ser missionário entre os indígenas. Sua imersão na cultura e nos ritos do povo indígena teve início logo que ingressou na Inspetoria. Seus estudos em metodologia linguística e tradução semântica, entre outros cursos, ajudaram-lhe a aprimorar as suas habilidades como escritor e tradutor.

 

Muitas vezes durante o dia, padre Ochoa sai lentamente do seu quarto simples, com seus livros, e caminha na direção da aldeia, para visitar as famílias, rezar com elas, levar conforto e afeto de coração missionário. Os seus olhos registram com profundidade as imagens de um povo que ele ama e levará para sempre nas narrativas do seu coração de pastor, nas suas mãos que acolhem e abençoam, no suor e sangue de quem se doa sem limites, no canto que ressoa dos rituais bororo.

 

Padre Ochoa sempre viveu a mística do estudo e da ação, do rezar a práxis, de ser caminheiro com o povo bororo, de respeitar a cultura e compreendê-la e amá-la para então evangelizar.

 

Cenário das missões indígenas

 

A Missão Salesiana de Mato Grosso mantém quatro presenças missionárias entre as etnias Bororo e Xavante, em Mato Grosso, MT.  São as comunidades salesianas Sagrado Coração de Meruri, São José de Sangradouro, São Marcos e a Casa Filipi Rinaldi, em Nova Xavantina.  Atualmente 15 salesianos entre padres e irmãos (chamados carinhosamente por mestres) desenvolvem atividades de cidadania, educação, evangelização e de sustentabilidade, em sintonia com essas culturas. Muitas delas assumiram o cristianismo em suas histórias e a devoção mariana foi incorporada com muito fervor.

 

Fládima Christofari 

 

 

 

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Última modificação em Quarta, 23 Setembro 2015 14:56

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Missionários recebem o título de Doutor Honoris Causa em Direitos Humanos

Quarta, 23 Setembro 2015 11:34 Escrito por  Fládima Christofari
Como parte das comemorações pelo bicentenário do nascimento de Dom Bosco, a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), da Inspetoria Salesiana de Campo Grande, concedeu o título “Doctor Honoris Causa" ao salesiano coadjutor Adalbert Heide e aos padres Bartolomeu Giaccaria e Gonçalo Ochoa pela relevante contribuição de seus trabalhos como missionários em meio aos povos indígenas Bororo e Xavante.

A homenagem foi concedida no dia 12 de agosto pelo presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), padre Gildásio Mendes, e pelo reitor da UCDB, padre José Marinoni.

A UCDB agraciou ainda os professores, doutor Antonio Brand e doutora Mariluce Bittar, ambos in memoriam, em reconhecimento à atuação junto aos cursos de graduação e pós-graduação e pela contribuição na construção de conhecimentos capazes de promover uma sociedade mais justa. Os professores foram representados por seus filhos Luciana Brand e André Bittar.  “Concedemos o título a cinco pessoas que se destacaram na defesa dos Direitos Humanos: salesianos missionários que desenvolvem importante trabalho com indígenas e professores que nos deixaram, mas que continuam presentes na memória dos colegas docentes e seus acadêmicos”, enfatizou o padre Marinoni.

 

“Dentro dos cenários sociopolítico e cultural que estamos vivendo no Brasil e no mundo, eles nos ensinam que, por meio do estudo, é possível compreender melhor as sociedades, valorizar suas culturas, dialogar com as diversidades culturais, colocar o conhecimento a serviço da vida, de políticas públicas, promovendo a cidadania, a ética, a espiritualidade e a cultura dos povos”, complementou o presidente da MSMT.

 

Missão Salesiana de Mato Grosso: 121 anos de presença missionária

 

A Missão Salesiana é uma Inspetoria missionária desde as suas origens, o trabalho missionário marcou seu início e continua sendo a sua identidade. Em visita recente à Inspetoria, o conselheiro geral para as Missões Salesianas, padre Guilhermo Basañes, destacou a presença missionária dos salesianos atualmente nas comunidades Bororo e Xavante, em Sangradouro, Meruri e São Marcos.

 

Para ele, “essa variedade de culturas é um grande instrumento de educação e de evangelização”. Bororo e Xavante encontraram nas missões salesianas a presença amiga, fortalecimento da sua cultura, segurança e infraestrutura em suas aldeias. “Dom Bosco está vivo nas comunidades indígenas. Isto, podemos ver na continuação do carisma salesiano entre indígenas”, ressalta o padre salesiano Eloir Inácio de Oliveira.

 

A MSMT tem uma grande história de presença constante junto aos destinatários indígenas, por isso quis expressar a sua gratidão aos missionários estrangeiros que há décadas desenvolvem diversos trabalhos e pesquisas entre as populações indígenas de Mato Grosso e colaboram para o desenvolvimento da região e preservação da cultura.

 

Homenageados

 

Mestre Adalbert Heid


Sistemático, disciplinado, organizado e com grande curiosidade científica, o irmão (ou Mestre – como os coadjutores são conhecidos no Brasil) Adalbert Heide é um alemão apaixonado pela cultura indígena. Sua atuação é tão expressiva que foi personagem de um vídeo documentário premiado no Brasil – O Mestre e o Divino, dirigido por Tiago Campos.

 

Mestre Adalbert nasceu em 1934, em Ratibor, cidade que pertencia à Alemanha e que, depois da guerra, passou a pertencer à Polônia. Logo após a sua profissão religiosa assumiu a sua vocação missionária no Brasil. Aos 23 anos  realizou o seu sonho de entrar em uma missão indígena.  Foi em Sangradouro, em meio ao povo Xavante que ele passou a fazer o que realmente sonhava.

 

O mestre se adaptou rápido à cultura, inclusive no domínio total do idioma xavante. Tanto é que entre as atribuições assumidas por ele estavam as de intérprete, professor da língua Xavante e de cultura religiosa, assessor de jovens índios, escritor e tradutor em Xavante da missa e de muitos textos da bíblia. Um dos trabalhos mais reconhecidos é a autoria da escrita e numeração xavante e a coautoria dos livros “Xavante povo autêntico”, “Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhos”, publicados em 1972 e 1975.

 

Além dos textos, o mestre Adalbert imortalizou a cultura da região com as suas filmagens de eventos históricos das missões em São Marcos, Meruri e Sangradouro.

 

 Padre Bartolomeo Giaccaria

 

Aos 82 anos  o sacerdote salesiano Bartolomeo Giaccaria, natural de Chiusa Pesio (Cúneo) – Itália, continua a percorrer as missões salesianas em estradas precárias para anunciar o evangelho.

 

Desde 1961, ele leva o amor a Jesus Cristo e a devoção a Dom Bosco aos Bororos e Xavantes por meio da itinerância missionária. Todos os dias, dirigindo o seu carro, vai de aldeia em aldeia partilhando com crianças, jovens e adultos, dores e esperanças, desafios e conquistas nas comunidades São Marcos, Sangradouro e Nova Xavantina.

 

Foi por meio da itinerância missionária que o sacerdote passou a coletar elementos linguísticos e gramaticais da língua Xavante para redigir um dicionário xavante-português. A edição provisória e reduzida da obra foi publicada com mais de mil verbetes, em 1957. A partir do ano seguinte, seguiu com as publicações da cartilha bilíngue e o catecismo bilíngue (xavante – português).

 

Duas de suas obras literárias foram reconhecidas internacionalmente: os livros: “AuweUptabi – UominiVeri: Vita Xavante” e “Jerônimo Xavante Conta e Jerônimo Xavante Sonha” – traduzidos em espanhol e inglês – e publicados pela Universidade de Quito e da Califórnia.

 

Atualmente, por meio da paróquia itinerante São Domingos Sávio, padre Giaccaria passou a atender a todas as aldeias da etnia xavante.

 

Padre Gonçalo Ochoa

 

Padre  Gonçalo Alberto Ochoa Camargo tem 85 anos e há 48 anos trabalha na Aldeia Meruri, da etnia bororo. É autor de vários livros, entre eles uma das partes da Enciclopédia Bororo, “A História Mítica Bororo”, “Lendas Bororo”, “Novo Testamento em Língua Bororo” e de leituras bíblicas usadas em missas e sacramentos.

 

A seriedade de seu trabalho em pesquisas antropológicas, a perseverança para enfrentar as dificuldades do idioma e o aprendizado da nova cultura foram transpassadas pela sua força de vontade em conquistar um sonho: de ser missionário entre os indígenas. Sua imersão na cultura e nos ritos do povo indígena teve início logo que ingressou na Inspetoria. Seus estudos em metodologia linguística e tradução semântica, entre outros cursos, ajudaram-lhe a aprimorar as suas habilidades como escritor e tradutor.

 

Muitas vezes durante o dia, padre Ochoa sai lentamente do seu quarto simples, com seus livros, e caminha na direção da aldeia, para visitar as famílias, rezar com elas, levar conforto e afeto de coração missionário. Os seus olhos registram com profundidade as imagens de um povo que ele ama e levará para sempre nas narrativas do seu coração de pastor, nas suas mãos que acolhem e abençoam, no suor e sangue de quem se doa sem limites, no canto que ressoa dos rituais bororo.

 

Padre Ochoa sempre viveu a mística do estudo e da ação, do rezar a práxis, de ser caminheiro com o povo bororo, de respeitar a cultura e compreendê-la e amá-la para então evangelizar.

 

Cenário das missões indígenas

 

A Missão Salesiana de Mato Grosso mantém quatro presenças missionárias entre as etnias Bororo e Xavante, em Mato Grosso, MT.  São as comunidades salesianas Sagrado Coração de Meruri, São José de Sangradouro, São Marcos e a Casa Filipi Rinaldi, em Nova Xavantina.  Atualmente 15 salesianos entre padres e irmãos (chamados carinhosamente por mestres) desenvolvem atividades de cidadania, educação, evangelização e de sustentabilidade, em sintonia com essas culturas. Muitas delas assumiram o cristianismo em suas histórias e a devoção mariana foi incorporada com muito fervor.

 

Fládima Christofari 

 

 

 

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