Caríssimos amigos do Boletim Salesiano e de Dom Bosco, um raio luminoso de esperança interrompe os sombrios pensamentos deste tempo, marcado pela pandemia e, sobretudo, por tantas guerras, em particular na Ucrânia, que trazem morte, dor e destruição. Uma grande e boa notícia: a Igreja reconhece oficialmente e certifica a santidade de um salesiano ‘do fim do mundo’: Artêmides Zatti.
O nosso caríssimo “São” Zatti é uma figura belíssima, a manifestação da santidade vivida no dia a dia, na simplicidade, no serviço humilde e jovial, em particular aos doentes. Encarnou o coração de Dom Bosco e a riqueza do carisma salesiano. Nele brilha o aspeto mais humano e carinhoso da Família Salesiana.
Era dotado de um coração amável que conhecia o sofrimento. Sabia bem o que eram a pobreza, a emigração, a fragilidade e a doença. Como também as dúvidas, as decisões difíceis – até a de ficar com Dom Bosco, vivendo plenamente a sua vocação original de salesiano coadjutor como Dom Bosco queria: testemunha, próximo das pessoas, dedicado ao serviço dos doentes e dos pobres.
Preocupação com os doentes
Responsável pelo hospital de San José de Viedma, alargou o círculo dos seus pacientes, chegando, na sua inseparável bicicleta, a todos os doentes da cidade, sobretudo aos mais pobres. Geria dinheiro, mas a sua vida era paupérrima: para a viagem à Itália, na época da canonização de Dom Bosco, tiveram de lhe emprestar roupa, chapéu e mala.
Era amado e estimado pelos doentes; amado e estimado pelos médicos, que depositavam nele toda a confiança e se abriam à influência que brotava da sua santidade: “Quando estou com Zatti, não posso deixar de acreditar em Deus”, exclamou um dia um médico que se havia autoproclamado ateu. Porque para Zatti cada doente era o próprio Jesus. Quando certa vez os seus superiores lhe recomendaram que não admitisse mais de 30 pacientes, ouviu-se murmurar: “E se o 31º paciente fosse Jesus?”.
O testemunho de Artêmides como verdadeiro bom samaritano diário, misericordioso como o Pai, era uma missão e um estilo que envolvia todos aqueles que de algum modo se dedicavam ao hospital: médicos, enfermeiros, auxiliares e cuidadores dos doentes, irmãs, voluntários que dedicavam tempo precioso a quem sofre. Estava atento a escutar os pacientes, as suas histórias, as suas angústias, os seus medos. Sabia que, mesmo quando não se pode superar a doença, se pode sempre cuidar, se pode sempre consolar, se pode sempre fazer sentir uma proximidade que mostra preocupação pela pessoa frente à sua doença.
Salesiano Irmão
Em tudo e sempre, era salesiano e salesiano “coadjutor”, isto é, não sacerdote. A vocação do salesiano irmão faz parte da fisionomia que Dom Bosco quis dar à Congregação Salesiana. Aos salesianos coadjutores (irmãos) Dom Bosco disse claramente: “Eu preciso de vós”.
Precisamente o Papa Francisco experimentou a intercessão eficaz de Artêmides Zatti a respeito da vocação do leigo consagrado, quando era provincial dos Jesuítas na Argentina. Numa carta, ele escreve: “Em 1976, durante uma visita canônica aos missionários jesuítas no norte da Argentina, permaneci durante alguns dias no arcebispado de Salta. Ali, entre uma conversa e outra no fim das refeições, o arcebispo Pérez falou-me da vida do senhor Zatti. Deu-me também a oportunidade de ler o livro da sua vida. Impressionou-me que fosse um coadjutor para todos os efeitos. Naquele momento senti que devia pedir ao Senhor, por intercessão do senhor Zatti, que nos enviasse vocações de coadjutores. Fiz novenas e pedi às noviças que as fizessem”. Depois continua: “Desde que iniciamos as nossas orações ao senhor Zatti, entraram no instituto 18 jovens Irmãos que perseveram e outros 5 que já terminaram o noviciado. Ao todo 23 vocações. Estou convencido da sua intercessão neste problema, dado que, atendendo ao número, é um caso raro na Sociedade. Repito que estou convencido da sua intercessão, porque sei quanto lhe suplicamos como intercessor”.
Um esplêndido e autorizado encorajamento também para nós a recorrer à intercessão de Artêmides Zatti pelo aumento das boas e santas vocações dos Salesianos Coadjutores.
O amor de Deus na vida cotidiana
Neste ano dedicado a São Francisco de Sales, defensor e promotor da vocação à santidade para todos, o testemunho de Artêmides Zatti recorda-nos, como afirma o Concílio Vaticano II: “Todos os fiéis de qualquer estado e condição são chamados pelo Senhor, cada um a seu modo, a uma santidade cuja perfeição é a mesma do Pai celeste”. Francisco de Sales, Dom Bosco e Artêmides fazem da vida cotidiana uma expressão do amor de Deus, que é recebido e retribuído. Os nossos santos queriam aproximar a relação com Deus da vida e a vida da relação com Deus. Esta é a proposta da “santidade da porta ao lado”, de que o Papa Francisco nos fala com tanto afeto.
A figura de Artêmides Zatti é um estímulo e uma inspiração para nós a tornar-nos sinais e portadores do amor de Deus aos jovens e aos pobres. Como escrevi na Estreia deste ano: “Também nós precisamos alargar o carisma da visitação” como desejo do coração de anunciar, sem esperar que sejam eles a vir ao nosso encontro, indo a espaços e lugares habitados por tantas pessoas para as quais uma palavra amável, um encontro, um olhar cheio de respeito pode abrir os seus horizontes para uma vida melhor. Artêmides Zatti foi um homem da Visitação, levando Jesus no seu coração, reconhecendo-O e servindo-O nos seus irmãos doentes e pobres com alegria e generosidade.
Santo Artêmides Zatti, intercedei por todos nós!