“A presença da Igreja nas florestas da Amazônia assusta, não as comunidades indígenas, mas a quem quer invadir e explorar esse território para obter os minerais e destruir a natureza. Nós somos uma barreira”. As palavras da padre Wellington Abreu repercutiram na mídia vaticana, exatamente enquanto os líderes do mundo estão no Brasil para participar da COP30, em Belém do Pará, cidade que é porta de entrada para a região amazônica. Elas - as palavras - nos recordam como o empenho diário e corajoso pelo destino do mundo se lança também, e sobretudo, longe dos holofotes: na concretude dos gestos.
O empenho dos Salesianos na Amazônia
Padre Wellington é um jovem sacerdote salesiano, pároco da Paróquia de São Miguel Arcanjo, em Iauaretê, na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, cidade do Estado do Amazonas.
Iauaratê – que significa “Cabeça de Jaguar” – é um cruzamento de 13 etnias e cinco línguas onde o rio é vida; a floresta é casa; e certas árvores são sagradas. Basta pensar a “Cabeça da Onça”, uma aldeia localizada ao longo do Rio Papuri (habitado pelos Hupda, uma população indígena que vive da caça, da pesca e do cultivo da mandioca) sem acesso à internet. No ano passado, a presença constante dos Salesianos levou a um resultado extraordinário: 47 indígenas, 90% da comunidade Hupda, foram batizados depois de um ano intenso de catecismo. Entretanto, a região norte da Amazônia permanece um ponto vulnerável: onde há fronteira, chegam os traficantes de drogas: onde há minerais há invasores; e ali a lei não basta. Mas o sinal telefônico não existe; o estado está longe. E quem fica ao lado dessas pessoas?
Proteger a vida e aquilo que a cerca
“Nós, graças a Deus, conseguimos estar lá e preservar a natureza, mas as coisas não vão muito bem na região vizinha, Roraima, onde, dois anos atrás, a chegada dos garimpeiros destruiu o rio, matou muitos animais e fez a população adoecer gravemente. Acredito que a nossa presença assusta esses grupos que querem invadir o ambiente. E entendemos isso quando as comunidades indígenas nos acolhem, felizes, pela nossa presença, pedindo-nos para não irmos embora. Diria que a presença da Igreja, que é profética, vai para além da religião: Protege a vida e aquilo que nos rodeia. É uma ideia concreta de ecologia integral”, diz o padre Wellington.
Distâncias e narcotráfico: os principais problemas
Na Amazônia, existe, antes de tudo, o problema das distâncias. “A nossa inspetoria é a de Manaus e de Manaus a São Gabriel da Cachoeira são quase duas horas de avião ou quatro dias de barco. Depois, de São Gabriel até a minha aldeia são necessárias 12 horas de embarcação com um motor de 40 cavalos para, no máximo, oito pessoas. Outro problema: o custo do combustível, que é altíssimo. Por vezes há que caminhar quatro ou seis horas”, relata o sacerdote.
Depois, há que considerar o narcotráfico: “nós estamos numa área fronteiriça e, no ano passado, tivemos problemas com os traficantes vindos da Colômbia: queriam invadir o nosso espaço para recuperar terra. Com a ajuda dos militares, a situação agora está tranquila, mas o tráfico de drogas passa pela fronteira e chega a outras cidades do Brasil, terminando por envolver também a comunidade indígena e, sobretudo - lamento dizer isso - os mais jovens. Para eles, trata-se de dinheiro fácil”, pontua o padre Wellington, afirmando: “isso torna a nossa presença ainda mais importante: com as nossas seis escolas, queremos ajudar os mais de 300 jovens que estão conosco e ajudar os habitantes da Amazônia a terem consciência da vida, da sua beleza. Estar presentes: não só na relação com Deus, mas em fazer descobrir a alegria da vida”, conclui o padre Wellington.
Por: Guglielmo Gallone
Vatican News