Violência: educação ou repressão?

Quarta, 24 Julho 2019 15:53 Escrito por  Pe. Agnaldo Soares Lima, SDB
Violência: educação ou repressão? iStock.com
O Compromisso Fundamental do “Socioeducativo de resultados”, assumido pelas quase 120 obras da Rede Salesiana Brasil de Ação Social, tem levado gestores e educadores a colocar em pauta o problema da violência, mas também os temas correlatos a esse grave fenômeno: dependência química, atos infracionais, suicídio, “bullying”, entre outros. É o que afirma o assessor da RSB-Social, padre Agnaldo Soares Lima, em seu artigo para o Boletim Salesiano.    

Uma das graves preocupações da população brasileira é a Segurança Pública. Angustia a sociedade o avanço exacerbado da violência e a dificuldade de como enxergar esse problema ou, ainda, qual o caminho para enfrentá-lo.

 

 

Tal inquietação não passa despercebida para a Rede Salesiana Brasil que atua no campo da Ação Social (RSB-Social), até por entender serem, os que vivem em condições de maior vulnerabilidade, os mais expostos à violência, seja na condição de vítimas, seja na de cooptados para promover ações prejudiciais a si, às suas famílias e à sociedade.

 

O Compromisso Fundamental do “Socioeducativo de resultados”, assumido pelas quase 120 obras sociais de salesianos e salesianas, tem levado gestores e educadores a colocar em pauta o problema da violência, mas também os temas correlatos a esse grave fenômeno: dependência química, atos infracionais, suicídio, “bullying”, cultura de morte, redução da maioridade penal, entre outros.

 

Ao assumir tal compromisso, a RSB-Social deixa claro com qual perspectiva quer estabelecer o enfrentamento à violência e às questões que a envolvem. Dom Bosco, fundador dos Salesianos e importante educador de adolescentes e jovens no século XIX, foi capaz de intuir com precisão o que está por trás desse difícil problema. O santo afirmava que “violência é deficiência educativa”. Simples assim!

 

Se queremos enfrentar com êxito essa ameaça que ronda a sociedade, temos que partir de uma ação educativa que direcione crianças e adolescentes para a cultura da paz, para o respeito e a tolerância, para a compaixão e a solidariedade com os que sofrem, para o diálogo e a abertura à diversidade.

 

A máxima, tantas vezes repetidas, de que “violência gera violência” é sempre verdadeira. São necessárias medidas de segurança para estabelecer um enfrentamento ao crime, mas não será com a proliferação de armas nas mãos dos cidadãos que conseguiremos combater a violência. Segurança é responsabilidade do Estado e não dos indivíduos ou das famílias. Enquanto famílias, sociedade, poder público, somos todos responsáveis pela educação, em todas as suas dimensões, na vida de cada pessoa.

 

Há que se pensar, por exemplo, o peso da mídia no processo educativo de crianças, adolescentes e do cidadão de um modo geral. Com o intuito de aumentar audiência e ampliar ganhos publicitários, telejornais e novelas disseminam o tempo todo imagens de violência, pregam vingança, destroem valores. Banalizam a vida repetindo à exaustão os mais diferentes crimes que ocorrem no dia a dia e que hoje são registrados pelas câmeras de segurança. Não se trata de “tapar o sol com a peneira”, mas uma criança que cresce vendo na TV pais, padrastos e madrastas que matam seus filhos, atiradores em escolas disparando contra inocentes, assaltos cometidos com requintes de crueldade etc., vai se habituando e naturalizando no inconsciente essas e tantas outras formas de violência.

 

A atitude de uma mãe que joga uma bebê no lixo choca àqueles que, tendo uma certa idade, sequer imaginavam que tal fato pudesse vir a ocorrer. Quem desde pequeno vê tais cenas com frequência, vai aos poucos perdendo o impacto e a gravidade de barbáries como essa. Nem todos que assistem certas cenas e atitudes estão preparados para rechaçá-las. O que se faz, por vezes, é oferecer ideias para quem tem a mente fraca. Tem sido comum que, apenas se noticia um determinado tipo de ocorrência, logo aparecem novos casos que repetem a mesma forma de violência.

 

No que tange à atitude de adolescentes e jovens que se automutilam ou chegam a tirar a própria vida, há que se trabalhar na família e na sociedade um olhar de cuidado e de escuta. Estão vivendo um momento de crescimento, amadurecimento e nem sempre encontram as respostas de que necessitam para se desenvolverem em um clima de felicidade e esperança.

 

Como educadores e em uma atitude de apoio às famílias dos jovens que chegam até uma obra salesiana, busca-se oferecer espaços de reflexão, orientação e educação baseada nos princípios salesianos de Dom Bosco e Madre Mazzarello. As novas gerações precisam sentir-se acolhidas, desenvolver-se em um ambiente de referências adultas positivas, repleto de valores morais e espirituais, impregnado de otimismo e de aposta no potencial que cada jovem traz dentro de si.

 

Uma palavra salesiana importante, quando o tema é violência, vai direcionada aos adolescentes que se envolvem com a prática de atos infracionais. A legislação brasileira requer para tais adolescentes a responsabilização calcada não na punição, mas sim no redirecionamento social a partir da educação. Contrariamente aos que apontam como solução a redução da idade penal, a RSB-Social reafirma com Dom Bosco que “mesmo nos jovens mais rebeldes, há sempre um ponto acessível ao bem, e a primeira missão do educador é tocar esse ponto, essa corda sensível do coração”. Mesmo quando um jovem compromete 10%, 20% ou 30% do seu potencial com comportamentos antissociais, na visão preventiva de Dom Bosco, pode-se sempre explorar positivamente toda a capacidade ainda não comprometida. Nessa perspectiva não podemos desistir nunca dos jovens, mas com eles e por meio da educação, precisamos construir juntos uma sociedade de paz.

 

Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social)

 

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Última modificação em Quarta, 24 Julho 2019 16:08

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Violência: educação ou repressão?

Quarta, 24 Julho 2019 15:53 Escrito por  Pe. Agnaldo Soares Lima, SDB
Violência: educação ou repressão? iStock.com
O Compromisso Fundamental do “Socioeducativo de resultados”, assumido pelas quase 120 obras da Rede Salesiana Brasil de Ação Social, tem levado gestores e educadores a colocar em pauta o problema da violência, mas também os temas correlatos a esse grave fenômeno: dependência química, atos infracionais, suicídio, “bullying”, entre outros. É o que afirma o assessor da RSB-Social, padre Agnaldo Soares Lima, em seu artigo para o Boletim Salesiano.    

Uma das graves preocupações da população brasileira é a Segurança Pública. Angustia a sociedade o avanço exacerbado da violência e a dificuldade de como enxergar esse problema ou, ainda, qual o caminho para enfrentá-lo.

 

 

Tal inquietação não passa despercebida para a Rede Salesiana Brasil que atua no campo da Ação Social (RSB-Social), até por entender serem, os que vivem em condições de maior vulnerabilidade, os mais expostos à violência, seja na condição de vítimas, seja na de cooptados para promover ações prejudiciais a si, às suas famílias e à sociedade.

 

O Compromisso Fundamental do “Socioeducativo de resultados”, assumido pelas quase 120 obras sociais de salesianos e salesianas, tem levado gestores e educadores a colocar em pauta o problema da violência, mas também os temas correlatos a esse grave fenômeno: dependência química, atos infracionais, suicídio, “bullying”, cultura de morte, redução da maioridade penal, entre outros.

 

Ao assumir tal compromisso, a RSB-Social deixa claro com qual perspectiva quer estabelecer o enfrentamento à violência e às questões que a envolvem. Dom Bosco, fundador dos Salesianos e importante educador de adolescentes e jovens no século XIX, foi capaz de intuir com precisão o que está por trás desse difícil problema. O santo afirmava que “violência é deficiência educativa”. Simples assim!

 

Se queremos enfrentar com êxito essa ameaça que ronda a sociedade, temos que partir de uma ação educativa que direcione crianças e adolescentes para a cultura da paz, para o respeito e a tolerância, para a compaixão e a solidariedade com os que sofrem, para o diálogo e a abertura à diversidade.

 

A máxima, tantas vezes repetidas, de que “violência gera violência” é sempre verdadeira. São necessárias medidas de segurança para estabelecer um enfrentamento ao crime, mas não será com a proliferação de armas nas mãos dos cidadãos que conseguiremos combater a violência. Segurança é responsabilidade do Estado e não dos indivíduos ou das famílias. Enquanto famílias, sociedade, poder público, somos todos responsáveis pela educação, em todas as suas dimensões, na vida de cada pessoa.

 

Há que se pensar, por exemplo, o peso da mídia no processo educativo de crianças, adolescentes e do cidadão de um modo geral. Com o intuito de aumentar audiência e ampliar ganhos publicitários, telejornais e novelas disseminam o tempo todo imagens de violência, pregam vingança, destroem valores. Banalizam a vida repetindo à exaustão os mais diferentes crimes que ocorrem no dia a dia e que hoje são registrados pelas câmeras de segurança. Não se trata de “tapar o sol com a peneira”, mas uma criança que cresce vendo na TV pais, padrastos e madrastas que matam seus filhos, atiradores em escolas disparando contra inocentes, assaltos cometidos com requintes de crueldade etc., vai se habituando e naturalizando no inconsciente essas e tantas outras formas de violência.

 

A atitude de uma mãe que joga uma bebê no lixo choca àqueles que, tendo uma certa idade, sequer imaginavam que tal fato pudesse vir a ocorrer. Quem desde pequeno vê tais cenas com frequência, vai aos poucos perdendo o impacto e a gravidade de barbáries como essa. Nem todos que assistem certas cenas e atitudes estão preparados para rechaçá-las. O que se faz, por vezes, é oferecer ideias para quem tem a mente fraca. Tem sido comum que, apenas se noticia um determinado tipo de ocorrência, logo aparecem novos casos que repetem a mesma forma de violência.

 

No que tange à atitude de adolescentes e jovens que se automutilam ou chegam a tirar a própria vida, há que se trabalhar na família e na sociedade um olhar de cuidado e de escuta. Estão vivendo um momento de crescimento, amadurecimento e nem sempre encontram as respostas de que necessitam para se desenvolverem em um clima de felicidade e esperança.

 

Como educadores e em uma atitude de apoio às famílias dos jovens que chegam até uma obra salesiana, busca-se oferecer espaços de reflexão, orientação e educação baseada nos princípios salesianos de Dom Bosco e Madre Mazzarello. As novas gerações precisam sentir-se acolhidas, desenvolver-se em um ambiente de referências adultas positivas, repleto de valores morais e espirituais, impregnado de otimismo e de aposta no potencial que cada jovem traz dentro de si.

 

Uma palavra salesiana importante, quando o tema é violência, vai direcionada aos adolescentes que se envolvem com a prática de atos infracionais. A legislação brasileira requer para tais adolescentes a responsabilização calcada não na punição, mas sim no redirecionamento social a partir da educação. Contrariamente aos que apontam como solução a redução da idade penal, a RSB-Social reafirma com Dom Bosco que “mesmo nos jovens mais rebeldes, há sempre um ponto acessível ao bem, e a primeira missão do educador é tocar esse ponto, essa corda sensível do coração”. Mesmo quando um jovem compromete 10%, 20% ou 30% do seu potencial com comportamentos antissociais, na visão preventiva de Dom Bosco, pode-se sempre explorar positivamente toda a capacidade ainda não comprometida. Nessa perspectiva não podemos desistir nunca dos jovens, mas com eles e por meio da educação, precisamos construir juntos uma sociedade de paz.

 

Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social)

 

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