“Vós sois o agora de Deus”

Quarta, 24 Julho 2019 16:20 Escrito por  Iago Rodrigues Ervanovite
“Vós sois o agora de Deus” iStock.com
Em seu artigo para o Boletim Salesiano, Iago Ervanovite traz um olhar jovem para a Exortação Apostólica Christus Vivit (Cristo Vive), resultado do Sínodo dos Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.    

A juventude está no coração da Igreja. Aliás, como disse o Papa Francisco, “o coração da Igreja é jovem”. Especialmente para a Igreja latino-americana e do Caribe, a juventude tem especial atenção desde as conferências de Medellín (em 1968) e Puebla (em 1979), quando os bispos ali reunidos reafirmaram a opção preferencial da Igreja pelos pobres e pelos jovens, como centro de sua ação caritativa e pastoral.

 

Anos mais tarde, o argentino Jorge Bergoglio foi eleito Sumo Pontífice e levou para a Igreja em todo o mundo os olhares de sua formação catequética e pastoral, à luz das opções adotadas pela Igreja de seu continente natal. Francisco, como decidiu se chamar, reafirmou a opção da Igreja pela juventude, dando um passo ousado: convidou o episcopado de todo o mundo, por meio de um Sínodo, a refletir sobre os jovens, e lançou especialmente para nós (jovens) uma Exortação Apostólica. É sobre o caminho do Sínodo e de seus resultados que quero debruçar-me em pequenas reflexões.

 

Por que falar sobre a juventude?

A opção pela juventude foi reafirmada pela Igreja em diversas oportunidades. O entendimento de que o jovem é protagonista de sua vida e de seus próprios processos de educação, formação e atuação pastoral decorre da compreensão dos textos bíblicos, pela forma que Deus concede aos jovens, ao longo da história, diversos chamados.

 

Como o Papa Francisco nos lembra em sua recente Exortação Christus Vivit (“Cristo Vive”, em latim), o jovem aparece na Bíblia como protagonista desde o Antigo Testamento, numa época em que os jovens representavam pouco para a sociedade. É sinal que Deus já nos via com um olhar diferenciado. Por exemplo, quando o Rei David foi escolhido, era ainda muito jovem. Foi apontado pelo Profeta Samuel dentre pessoas mais velhas e experientes. Mas o profeta disse que o escolhido era David porque “o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1 Sm 16,7).

 

Já no Novo Testamento, nossa referência passa a ser a Sagrada Família: inicialmente com Maria e José, convidados pelo Espírito Santo a serem pais do Filho de Deus, e, depois, com Jesus.

 

No Documento Preparatório do Sínodo, os bispos foram convidados a pensar nos jovens que estão dentro e fora da Igreja, em uma “análise completa da sociedade e do mundo juvenil”. As sondagens feitas pelo episcopado, em preparação à reunião, deveriam pensar na inserção do jovem na sociedade à luz do necessário discernimento vocacional (onde estão? Onde querem chegar? Como querem servir aos desígnios de Deus?).

 

“Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”

A 15ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi realizada em Roma, dos dias 3 a 28 de outubro de 2018, e teve como centro das discussões a vida das juventudes, motivada pelo tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

 

O processo que culminou no Sínodo durou cerca de três anos. As Igrejas particulares foram convidadas a ouvir os jovens sobre suas realidades: quais eram seus sonhos e aspirações? O que lhes era desafiador? Além disso, foi proposto pelo Vaticano um canal direto (um site) no qual os próprios jovens (que participavam ou não da Igreja) puderam responder a um questionário. Com as respostas colhidas (pelos bispos locais ou pelo site), formou-se um instrumento de trabalho que guiaria as discussões e os debates do episcopado, reunido em Sínodo.

 

O Sínodo dos Bispos foi concluído com a aprovação de um Documento Final. O documento teve como fio condutor a passagem do Evangelho de Lucas sobre os discípulos de Emaús. “Caminhava com eles”, “Eles abriram os olhos” e “Partiram sem demora” são os títulos das três partes do texto que inspirou o Papa Francisco a escrever uma carta, na forma de Exortação Apostólica, “que recorda algumas convicções da nossa fé e, ao mesmo tempo, encoraja a crescer na santidade e no compromisso em prol da própria vocação” (CV, 3).

 

Cristo Vive

“Ele é a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!”, disse o Papa Francisco no primeiro parágrafo da Exortação Apostólica Christus Vivit. A carta do Santo Padre é dirigida “aos jovens e a todo o povo de Deus” e tem 299 parágrafos repartidos em nove capítulos. Nela, o Papa retoma os ensinamentos da Palavra de Deus sobre os jovens; ensina-nos como a juventude de Jesus deve inspirar nossas vidas, nossas escolhas e nosso comportamento; mostra-nos como somos chamados por Deus, enquanto jovens, a ousar colaborar na resolução das crises do mundo moderno; e chama-nos a espalhar a Palavra de Deus, a partir de nossa vivência.

 

A Exortação relembra-nos da importância de cultivar a história e de respeitar os mais velhos, aprendendo com sua experiência; dá-nos um modelo de Pastoral Juvenil que atue em segmentos diversos da sociedade; desperta-nos a atenção sobre o cuidado com nossa vocação (seja para a amizade, para a família, para o sacerdócio ou para a consagração) e ajuda-nos a discernir.

 

No documento, Francisco retoma a importância de ter os jovens no coração da Igreja: essa opção vem da vontade de Deus, que nos tem em seu coração.

 

O Papa nos relembra que Jesus, em uma de suas parábolas, conta-nos a história de um jovem que sai da casa dos pais em busca de sua independência, mas “seus sonhos de autonomia transformaram-se em libertinagem e devassidão (cf. Lc 15, 13), e provou a dureza da solidão e da pobreza (cf. Lc 15, 14-16)”. Com isso, o jovem pródigo retornou à casa de seu pai, arrependido e pronto a recomeçar. O Papa, então, nos ensina que “é típico do coração jovem estar disposto a mudar, ser capaz de levantar-se e deixar-se instruir pela vida” (CV, 12), pois “Jesus louva mais o jovem pecador que retoma o bom caminho do que aquele que se julga fiel, mas não vive o espírito do amor e da misericórdia”.

 

É nesse modelo, apresentado por Jesus e relembrado pelo Santo Padre, que compreendemos que o chamado à santidade não é impossível a nós, jovens. Ao contrário, é justamente por sermos imperfeitos e estarmos em constante (re)construção que Jesus nos compreende em nossas angústias, aspirações, desejos e ações, e nos tornamos mais próximos do Espírito.

 

Francisco finaliza sua carta com um convite: “Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós”.

 

Em outras palavras: que sejamos jovens capazes de ousar e de transformar.

 

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“Vós sois o agora de Deus”

Quarta, 24 Julho 2019 16:20 Escrito por  Iago Rodrigues Ervanovite
“Vós sois o agora de Deus” iStock.com
Em seu artigo para o Boletim Salesiano, Iago Ervanovite traz um olhar jovem para a Exortação Apostólica Christus Vivit (Cristo Vive), resultado do Sínodo dos Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.    

A juventude está no coração da Igreja. Aliás, como disse o Papa Francisco, “o coração da Igreja é jovem”. Especialmente para a Igreja latino-americana e do Caribe, a juventude tem especial atenção desde as conferências de Medellín (em 1968) e Puebla (em 1979), quando os bispos ali reunidos reafirmaram a opção preferencial da Igreja pelos pobres e pelos jovens, como centro de sua ação caritativa e pastoral.

 

Anos mais tarde, o argentino Jorge Bergoglio foi eleito Sumo Pontífice e levou para a Igreja em todo o mundo os olhares de sua formação catequética e pastoral, à luz das opções adotadas pela Igreja de seu continente natal. Francisco, como decidiu se chamar, reafirmou a opção da Igreja pela juventude, dando um passo ousado: convidou o episcopado de todo o mundo, por meio de um Sínodo, a refletir sobre os jovens, e lançou especialmente para nós (jovens) uma Exortação Apostólica. É sobre o caminho do Sínodo e de seus resultados que quero debruçar-me em pequenas reflexões.

 

Por que falar sobre a juventude?

A opção pela juventude foi reafirmada pela Igreja em diversas oportunidades. O entendimento de que o jovem é protagonista de sua vida e de seus próprios processos de educação, formação e atuação pastoral decorre da compreensão dos textos bíblicos, pela forma que Deus concede aos jovens, ao longo da história, diversos chamados.

 

Como o Papa Francisco nos lembra em sua recente Exortação Christus Vivit (“Cristo Vive”, em latim), o jovem aparece na Bíblia como protagonista desde o Antigo Testamento, numa época em que os jovens representavam pouco para a sociedade. É sinal que Deus já nos via com um olhar diferenciado. Por exemplo, quando o Rei David foi escolhido, era ainda muito jovem. Foi apontado pelo Profeta Samuel dentre pessoas mais velhas e experientes. Mas o profeta disse que o escolhido era David porque “o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1 Sm 16,7).

 

Já no Novo Testamento, nossa referência passa a ser a Sagrada Família: inicialmente com Maria e José, convidados pelo Espírito Santo a serem pais do Filho de Deus, e, depois, com Jesus.

 

No Documento Preparatório do Sínodo, os bispos foram convidados a pensar nos jovens que estão dentro e fora da Igreja, em uma “análise completa da sociedade e do mundo juvenil”. As sondagens feitas pelo episcopado, em preparação à reunião, deveriam pensar na inserção do jovem na sociedade à luz do necessário discernimento vocacional (onde estão? Onde querem chegar? Como querem servir aos desígnios de Deus?).

 

“Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”

A 15ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi realizada em Roma, dos dias 3 a 28 de outubro de 2018, e teve como centro das discussões a vida das juventudes, motivada pelo tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

 

O processo que culminou no Sínodo durou cerca de três anos. As Igrejas particulares foram convidadas a ouvir os jovens sobre suas realidades: quais eram seus sonhos e aspirações? O que lhes era desafiador? Além disso, foi proposto pelo Vaticano um canal direto (um site) no qual os próprios jovens (que participavam ou não da Igreja) puderam responder a um questionário. Com as respostas colhidas (pelos bispos locais ou pelo site), formou-se um instrumento de trabalho que guiaria as discussões e os debates do episcopado, reunido em Sínodo.

 

O Sínodo dos Bispos foi concluído com a aprovação de um Documento Final. O documento teve como fio condutor a passagem do Evangelho de Lucas sobre os discípulos de Emaús. “Caminhava com eles”, “Eles abriram os olhos” e “Partiram sem demora” são os títulos das três partes do texto que inspirou o Papa Francisco a escrever uma carta, na forma de Exortação Apostólica, “que recorda algumas convicções da nossa fé e, ao mesmo tempo, encoraja a crescer na santidade e no compromisso em prol da própria vocação” (CV, 3).

 

Cristo Vive

“Ele é a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!”, disse o Papa Francisco no primeiro parágrafo da Exortação Apostólica Christus Vivit. A carta do Santo Padre é dirigida “aos jovens e a todo o povo de Deus” e tem 299 parágrafos repartidos em nove capítulos. Nela, o Papa retoma os ensinamentos da Palavra de Deus sobre os jovens; ensina-nos como a juventude de Jesus deve inspirar nossas vidas, nossas escolhas e nosso comportamento; mostra-nos como somos chamados por Deus, enquanto jovens, a ousar colaborar na resolução das crises do mundo moderno; e chama-nos a espalhar a Palavra de Deus, a partir de nossa vivência.

 

A Exortação relembra-nos da importância de cultivar a história e de respeitar os mais velhos, aprendendo com sua experiência; dá-nos um modelo de Pastoral Juvenil que atue em segmentos diversos da sociedade; desperta-nos a atenção sobre o cuidado com nossa vocação (seja para a amizade, para a família, para o sacerdócio ou para a consagração) e ajuda-nos a discernir.

 

No documento, Francisco retoma a importância de ter os jovens no coração da Igreja: essa opção vem da vontade de Deus, que nos tem em seu coração.

 

O Papa nos relembra que Jesus, em uma de suas parábolas, conta-nos a história de um jovem que sai da casa dos pais em busca de sua independência, mas “seus sonhos de autonomia transformaram-se em libertinagem e devassidão (cf. Lc 15, 13), e provou a dureza da solidão e da pobreza (cf. Lc 15, 14-16)”. Com isso, o jovem pródigo retornou à casa de seu pai, arrependido e pronto a recomeçar. O Papa, então, nos ensina que “é típico do coração jovem estar disposto a mudar, ser capaz de levantar-se e deixar-se instruir pela vida” (CV, 12), pois “Jesus louva mais o jovem pecador que retoma o bom caminho do que aquele que se julga fiel, mas não vive o espírito do amor e da misericórdia”.

 

É nesse modelo, apresentado por Jesus e relembrado pelo Santo Padre, que compreendemos que o chamado à santidade não é impossível a nós, jovens. Ao contrário, é justamente por sermos imperfeitos e estarmos em constante (re)construção que Jesus nos compreende em nossas angústias, aspirações, desejos e ações, e nos tornamos mais próximos do Espírito.

 

Francisco finaliza sua carta com um convite: “Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós”.

 

Em outras palavras: que sejamos jovens capazes de ousar e de transformar.

 

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