Educação da Consciência Moral

Terça, 15 Setembro 2015 11:21 Escrito por 
Nenhuma pessoa nasce formada, educada. Desde que entra no mundo cada pessoa tem muitas potencialidades que precisam ser desenvolvidas. A consciência da pessoa precisa ser educada. Apesar dos condicionamentos diversos, cada pessoa tem o desafio de educar sua consciência dentro de determinados parâmetros e estágios. Por isso, há um incentivo para a educação nos anos iniciais da vida. Nenhuma criança e nenhum adolescente têm condições de fazer essa caminhada sozinhos.

 

Há diversos autores que trataram do desenvolvimento da consciência moral. Um dos mais famosos é o biólogo suíço Jean Piaget. Mas há outros como Norbert Bull, Lawrence Kohlberg e Marciano Vidal. Vamos nos inspirar em Norbert Bull que escreveu um livro chamado A educação moral. Ele diz que toda pessoa em seu processo educativo passa por quatro estágios, etapas ou níveis.

A-NOMIA

O primeiro estágio é a ANOMIA (etapa ou nível “pré-moral”). Esta palavra deriva do grego. Nomos, em grego, significa norma, lei. A anomia seria uma etapa da vida (0 a 6 anos) em que a pessoa ainda não tem condições de emitir um juízo moral sobre qualquer coisa. O comportamento da criança está baseado na instintividade em que os limites são o prazer ou a dor. Faço o que me dá prazer e evito o que me causa dor.

 

HETERO-NOMIA

O segundo estágio é a HETERONOMIA (etapa ou nível da “moral externa”). O prefixo grego hetero- significa outro. Nesta fase da vida a pessoa já tem consciência moral e sabe o que é certo e o que é errado. Não por si, mas pelas pessoas significativas ao seu redor. A família, a escola e a sociedade exercem um papel fundamental. Geralmente as pessoas mais significativas na vida de uma criança são seus pais. Quando estes faltam ou se omitem, outras pessoas podem exercer sua significatividade.

O que não pode é uma criança ficar sem o apoio de pessoas significativas. Muitas vezes esta significatividade é péssima ou má. A criança de sete a oito anos gira ao redor do seu astro como um satélite. O astro é quem a atrai com força.

 

SOCIO-NOMIA

Terceiro estágio: SOCIONOMIA (etapa ou nível de moral interna/externa). É a influência do grupo de coetâneos. Um pré-adolescente de nove a 12 anos está descobrindo o mundo dos outros com maior força. O grupo de amigos da mesma idade tem uma força extraordinária. A norma do grupo exerce um papel preponderante. A sabedoria da educação está em entender este conflito, mais aparente que real, e deixar os pré-adolescentes assumirem aos poucos sua caminhada e tratar desta questão.

 

AUTO-NOMIA

O quarto estágio é a AUTONOMIA (etapa ou nível da moral interna). A finalidade da educação é educar pessoas com convicções pessoais, autônomas. Precisamos fazer uma distinção entre autonomia e autossuficiência. Autossuficientes são pessoas que têm convicções próprias e fazem o que querem, quando querem e como querem em qualquer momento não importando a existência dos outros e da coletividade. Autônoma, ao contrário, é a pessoa que tem convicções e ideias próprias, dialoga, constrói consensos, sabe renunciar a visões pessoais e caminha junto com o grupo e com a comunidade.

A formação para e na autonomia é muito importante porque nenhuma família forma seus filhos para viver trancados a sete chaves. O que vai acontecer depende da significatividade das pessoas que os educaram e, sobretudo, do empenho que todos temos em construir uma sociedade justa, equilibrada e humana. Autônomos, sim; autossuficientes, não!

 

Algumas observações fundamentais

Nem todas as pessoas conseguem passar pelos quatro estágios. Há pessoas que nunca conseguem chegar à autonomia. Há pessoas fixadas na anomia. Suas convicções dependem das conveniências e das vantagens pessoais. “Eu não sou marajá porque não tenho oportunidade. Se tivesse...” É como 'biruta' de aeroporto. Muda de posição conforme o vento. Há pessoas que continuam heterônomas porque nunca têm ideia ou convicção própria. Igualmente há pessoas que não superam a socionomia. Sempre estão pensando como as maiorias. Maioria não é critério moral. Há minorias que carregam grandes convicções morais e ajudam a humanidade a progredir.

A segunda observação é que há pessoas que atingem muito cedo a maturidade e alcançam a autonomia. Mas não é bom quando se coloca nas costas das crianças e dos adolescentes fardos e decisões que ainda não têm condições de assumir. Há crianças que, com 10 anos, assumem a educação de seus irmãos por omissão dos pais ou por necessidade de sobrevivência da família. Há crianças que, muito cedo, não têm acompanhamento personalizado de nenhuma pessoa. Por outro lado, há uma autonomia precoce muito positiva. Há crianças que, às vezes, têm mais juízo que seus pais. Não é o normal, mas há.

Dom Bosco, o grande educador das novas gerações, sempre atuou assim. “Os jovens não são maus. Eles se tornam assim porque ninguém cuida deles”. Na realidade, autonomia absoluta não existe. A consciência é a voz de Deus no interior de cada pessoa. Educar-se para escutar a voz de Deus é a meta última da educação que se fundamenta no seguimento de Jesus Cristo e nas inspirações do Divino Espírito Santo.

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Última modificação em Terça, 15 Setembro 2015 18:18

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Educação da Consciência Moral

Terça, 15 Setembro 2015 11:21 Escrito por 
Nenhuma pessoa nasce formada, educada. Desde que entra no mundo cada pessoa tem muitas potencialidades que precisam ser desenvolvidas. A consciência da pessoa precisa ser educada. Apesar dos condicionamentos diversos, cada pessoa tem o desafio de educar sua consciência dentro de determinados parâmetros e estágios. Por isso, há um incentivo para a educação nos anos iniciais da vida. Nenhuma criança e nenhum adolescente têm condições de fazer essa caminhada sozinhos.

 

Há diversos autores que trataram do desenvolvimento da consciência moral. Um dos mais famosos é o biólogo suíço Jean Piaget. Mas há outros como Norbert Bull, Lawrence Kohlberg e Marciano Vidal. Vamos nos inspirar em Norbert Bull que escreveu um livro chamado A educação moral. Ele diz que toda pessoa em seu processo educativo passa por quatro estágios, etapas ou níveis.

A-NOMIA

O primeiro estágio é a ANOMIA (etapa ou nível “pré-moral”). Esta palavra deriva do grego. Nomos, em grego, significa norma, lei. A anomia seria uma etapa da vida (0 a 6 anos) em que a pessoa ainda não tem condições de emitir um juízo moral sobre qualquer coisa. O comportamento da criança está baseado na instintividade em que os limites são o prazer ou a dor. Faço o que me dá prazer e evito o que me causa dor.

 

HETERO-NOMIA

O segundo estágio é a HETERONOMIA (etapa ou nível da “moral externa”). O prefixo grego hetero- significa outro. Nesta fase da vida a pessoa já tem consciência moral e sabe o que é certo e o que é errado. Não por si, mas pelas pessoas significativas ao seu redor. A família, a escola e a sociedade exercem um papel fundamental. Geralmente as pessoas mais significativas na vida de uma criança são seus pais. Quando estes faltam ou se omitem, outras pessoas podem exercer sua significatividade.

O que não pode é uma criança ficar sem o apoio de pessoas significativas. Muitas vezes esta significatividade é péssima ou má. A criança de sete a oito anos gira ao redor do seu astro como um satélite. O astro é quem a atrai com força.

 

SOCIO-NOMIA

Terceiro estágio: SOCIONOMIA (etapa ou nível de moral interna/externa). É a influência do grupo de coetâneos. Um pré-adolescente de nove a 12 anos está descobrindo o mundo dos outros com maior força. O grupo de amigos da mesma idade tem uma força extraordinária. A norma do grupo exerce um papel preponderante. A sabedoria da educação está em entender este conflito, mais aparente que real, e deixar os pré-adolescentes assumirem aos poucos sua caminhada e tratar desta questão.

 

AUTO-NOMIA

O quarto estágio é a AUTONOMIA (etapa ou nível da moral interna). A finalidade da educação é educar pessoas com convicções pessoais, autônomas. Precisamos fazer uma distinção entre autonomia e autossuficiência. Autossuficientes são pessoas que têm convicções próprias e fazem o que querem, quando querem e como querem em qualquer momento não importando a existência dos outros e da coletividade. Autônoma, ao contrário, é a pessoa que tem convicções e ideias próprias, dialoga, constrói consensos, sabe renunciar a visões pessoais e caminha junto com o grupo e com a comunidade.

A formação para e na autonomia é muito importante porque nenhuma família forma seus filhos para viver trancados a sete chaves. O que vai acontecer depende da significatividade das pessoas que os educaram e, sobretudo, do empenho que todos temos em construir uma sociedade justa, equilibrada e humana. Autônomos, sim; autossuficientes, não!

 

Algumas observações fundamentais

Nem todas as pessoas conseguem passar pelos quatro estágios. Há pessoas que nunca conseguem chegar à autonomia. Há pessoas fixadas na anomia. Suas convicções dependem das conveniências e das vantagens pessoais. “Eu não sou marajá porque não tenho oportunidade. Se tivesse...” É como 'biruta' de aeroporto. Muda de posição conforme o vento. Há pessoas que continuam heterônomas porque nunca têm ideia ou convicção própria. Igualmente há pessoas que não superam a socionomia. Sempre estão pensando como as maiorias. Maioria não é critério moral. Há minorias que carregam grandes convicções morais e ajudam a humanidade a progredir.

A segunda observação é que há pessoas que atingem muito cedo a maturidade e alcançam a autonomia. Mas não é bom quando se coloca nas costas das crianças e dos adolescentes fardos e decisões que ainda não têm condições de assumir. Há crianças que, com 10 anos, assumem a educação de seus irmãos por omissão dos pais ou por necessidade de sobrevivência da família. Há crianças que, muito cedo, não têm acompanhamento personalizado de nenhuma pessoa. Por outro lado, há uma autonomia precoce muito positiva. Há crianças que, às vezes, têm mais juízo que seus pais. Não é o normal, mas há.

Dom Bosco, o grande educador das novas gerações, sempre atuou assim. “Os jovens não são maus. Eles se tornam assim porque ninguém cuida deles”. Na realidade, autonomia absoluta não existe. A consciência é a voz de Deus no interior de cada pessoa. Educar-se para escutar a voz de Deus é a meta última da educação que se fundamenta no seguimento de Jesus Cristo e nas inspirações do Divino Espírito Santo.

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