A genialidade de um santo: preventividade, ontem e hoje

Segunda, 15 Setembro 2014 21:20 Escrito por 
O conceito de preventividade na época de Dom Bosco e em sua obra deve ser compreendido observando dois elementos complementares: o caráter protetor e o caráter construtivo.

A Península Itálica, desde o início do século XIX até o ano de 1870, viveu momentos complicados. Após as Guerras Napoleônicas, a Península teve acentuada sua divisão em diferentes estados. Neste contexto, surge o movimento de unificação e libertação do domínio dos Bourbons e da Áustria. A unificação foi obtida em 1870, a partir do Reino Piemontês, sem traduzir a paz e a prosperidade desejadas. A Península passou a viver uma dura realidade: inúmeros desempregados e camponeses sem terras, que não tinham como sustentar suas famílias.

A Revolução Industrial Clássica, ocorrida a partir da Inglaterra no século XVIII, provocou uma questão social gravíssima. A exploração do trabalho das crianças, dos adolescentes, dos jovens e das mulheres, a omissão do Estado na garantia dos direitos básicos de todo ser humano, a ausência de políticas dos direitos trabalhistas, enfim, aprofundou o total abandono e marginalização das populações empobrecidas. É neste ambiente histórico que nasce, cresce e torna-se sacerdote João Melchior Bosco.

 

A preventividade ontem

Dom Bosco, ao tecer seu Projeto Operativo, definindo-o como preventivo, utilizou ideias e experiências de outras pessoas ou grupos.

·   De São Francisco de Sales (1567-1622), seu maior inspirador, Dom Bosco assumiu elementos fundamentais para o desenvolvimento de seu Projeto Operativo: a mansidão, o zelo apostólico na salvação das almas, a visão otimista de Deus (Deus é amor) e o humanismo crítico, fundamentais para a consolidação da preventividade.

·   A pedagogia preventiva, presente na obra de Ludovico Pavoni (1784-1849), defendia uma ação em prol da juventude em que a religião, a razão, a amabilidade, a doçura e a vigilância-assistência fossem referenciais inegociáveis.

·   Marcelinho Champagnat(1789-1840), fundador da sociedade religiosa dos Irmãos Maristas, defendia uma orientação que sustentava a necessidade de suas obras agirem com ações conexas com uma pedagogia preventiva, ou seja, uma pedagogiavoltadapara salvação das almas, para a Igreja e para o método do amor, cujo objetivo é o de preservar do mal, corrigir os defeitos e formar a vontade.

·   Em Teresa Eustochio Verzeri (1801-1852), Dom Bosco foi buscar uma orientação educacional integral: “Cultivar e custodiar muito e com carinho, a mente e o coração dos jovens, a partir da mais tenra idade, para evitar, de todas as maneiras, o mal e preservá-los com avisos e correções que curariam e corrigiriam”.

·   Com Ferrante Aporti (1791-1858), Dom Bosco reflete a prevalência do método preventivo sobre o repressivo, cuidando de colocar o amor como fundamento da educação, criando um ambiente de serenidade, de bondade que encaminha naturalmente para o bem.

Dom Bosco define o seu Sistema, sem que represente uma cópia, acrescentando as novidades que nascem de suas vivências e reflexões frente aos desafios de uma Turim carregada de problemas.

O conceito de preventividade na época de Dom Bosco e em sua obra deve ser compreendido observando dois elementos complementares.

O caráter protetor que alimenta a ideia de preventividade está relacionado à assistência preventiva. A disciplina é favorável à escuta, à reflexão e à aceitação ou não de normas, regras etc., sem que represente uma mera obediência cega a impulsos e desejos imediatos. Assim os jovens poderão aprender a agir de modo organizado e refletido. Já os limites, enquanto normas básicas de convívio em grupo e respeito, fortalecem um comportamento adequado, promovem a adaptação ao meio social, desenvolvendo a autonomia e a responsabilidade diante dos desafios da vida.

O segundo elemento trata do caráter construtivo e possui como foco o crescimento interior do jovem, a sua maturidade, com o objetivo de desenvolver um excelente desempenho pessoal e social.

 

A preventividade hoje

Oconceito de prevenção pode ser entendido como: Vir antes, avisar; preparar; impedir que se realize; antecipar uma informação; assistir para “curar” e reintegrar para a realização. Sendo assim, pode ser entendido, na área educacional, como um conjunto de elementos que permite planejar e executar ações voltadas para:

·   Consolidar um projeto educativo fundado sobre um diálogo franco entre educador e educando, refletindo coerência entre aquilo que o educador fala e aquilo que faz. Esta ação é identificada com a prevenção primária, com aquela que busca evitar o aparecimento de problemas na vida do jovem.

·   Trabalhar para que os problemas vividos pelos jovens possam ser reduzidos ou solucionados completamente, representando uma ação de prevenção secundária, uma ação voltada para a assistência.

·   Diminuir as consequências dos problemas vividos pelos jovens, motivando-os para a busca de estratégias necessárias para o engajamento em um processo de superação. Tal ação constitui uma prevenção terciária, identificada com a reintegração do jovem na sociedade.

 

Confrontando o ontem com o hoje

Tudo que encontramos hoje, no campo das ideias e das práticas, com relação ao conceito de preventividade pode ser percebido com clareza na origem do Sistema Preventivo.

·   A obsessão de Dom Bosco pelo contato direto com os jovens está radicalmente identificada com a prevenção primária.

·   O desejo constante de Dom Bosco em recuperar os jovens representa o que se denomina, na atualidade, prevenção secundária.

·   A opção de Dom Bosco pelos jovens sujeitos a toda sorte de perigos, com o objetivo de reintegrá-los à sociedade, traduz o que convencionalmente é chamado de prevenção terciária.

Ao percebermos que a ideia de preventividade em Dom Bosco não difere daquilo que é defendido hoje, fica a certeza de que o Sistema Preventivo continua contemporâneo, capaz de responder aos atuais desafios da educação da juventude.

 

José Augusto Abreu Aguiaré professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ.

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A genialidade de um santo: preventividade, ontem e hoje

Segunda, 15 Setembro 2014 21:20 Escrito por 
O conceito de preventividade na época de Dom Bosco e em sua obra deve ser compreendido observando dois elementos complementares: o caráter protetor e o caráter construtivo.

A Península Itálica, desde o início do século XIX até o ano de 1870, viveu momentos complicados. Após as Guerras Napoleônicas, a Península teve acentuada sua divisão em diferentes estados. Neste contexto, surge o movimento de unificação e libertação do domínio dos Bourbons e da Áustria. A unificação foi obtida em 1870, a partir do Reino Piemontês, sem traduzir a paz e a prosperidade desejadas. A Península passou a viver uma dura realidade: inúmeros desempregados e camponeses sem terras, que não tinham como sustentar suas famílias.

A Revolução Industrial Clássica, ocorrida a partir da Inglaterra no século XVIII, provocou uma questão social gravíssima. A exploração do trabalho das crianças, dos adolescentes, dos jovens e das mulheres, a omissão do Estado na garantia dos direitos básicos de todo ser humano, a ausência de políticas dos direitos trabalhistas, enfim, aprofundou o total abandono e marginalização das populações empobrecidas. É neste ambiente histórico que nasce, cresce e torna-se sacerdote João Melchior Bosco.

 

A preventividade ontem

Dom Bosco, ao tecer seu Projeto Operativo, definindo-o como preventivo, utilizou ideias e experiências de outras pessoas ou grupos.

·   De São Francisco de Sales (1567-1622), seu maior inspirador, Dom Bosco assumiu elementos fundamentais para o desenvolvimento de seu Projeto Operativo: a mansidão, o zelo apostólico na salvação das almas, a visão otimista de Deus (Deus é amor) e o humanismo crítico, fundamentais para a consolidação da preventividade.

·   A pedagogia preventiva, presente na obra de Ludovico Pavoni (1784-1849), defendia uma ação em prol da juventude em que a religião, a razão, a amabilidade, a doçura e a vigilância-assistência fossem referenciais inegociáveis.

·   Marcelinho Champagnat(1789-1840), fundador da sociedade religiosa dos Irmãos Maristas, defendia uma orientação que sustentava a necessidade de suas obras agirem com ações conexas com uma pedagogia preventiva, ou seja, uma pedagogiavoltadapara salvação das almas, para a Igreja e para o método do amor, cujo objetivo é o de preservar do mal, corrigir os defeitos e formar a vontade.

·   Em Teresa Eustochio Verzeri (1801-1852), Dom Bosco foi buscar uma orientação educacional integral: “Cultivar e custodiar muito e com carinho, a mente e o coração dos jovens, a partir da mais tenra idade, para evitar, de todas as maneiras, o mal e preservá-los com avisos e correções que curariam e corrigiriam”.

·   Com Ferrante Aporti (1791-1858), Dom Bosco reflete a prevalência do método preventivo sobre o repressivo, cuidando de colocar o amor como fundamento da educação, criando um ambiente de serenidade, de bondade que encaminha naturalmente para o bem.

Dom Bosco define o seu Sistema, sem que represente uma cópia, acrescentando as novidades que nascem de suas vivências e reflexões frente aos desafios de uma Turim carregada de problemas.

O conceito de preventividade na época de Dom Bosco e em sua obra deve ser compreendido observando dois elementos complementares.

O caráter protetor que alimenta a ideia de preventividade está relacionado à assistência preventiva. A disciplina é favorável à escuta, à reflexão e à aceitação ou não de normas, regras etc., sem que represente uma mera obediência cega a impulsos e desejos imediatos. Assim os jovens poderão aprender a agir de modo organizado e refletido. Já os limites, enquanto normas básicas de convívio em grupo e respeito, fortalecem um comportamento adequado, promovem a adaptação ao meio social, desenvolvendo a autonomia e a responsabilidade diante dos desafios da vida.

O segundo elemento trata do caráter construtivo e possui como foco o crescimento interior do jovem, a sua maturidade, com o objetivo de desenvolver um excelente desempenho pessoal e social.

 

A preventividade hoje

Oconceito de prevenção pode ser entendido como: Vir antes, avisar; preparar; impedir que se realize; antecipar uma informação; assistir para “curar” e reintegrar para a realização. Sendo assim, pode ser entendido, na área educacional, como um conjunto de elementos que permite planejar e executar ações voltadas para:

·   Consolidar um projeto educativo fundado sobre um diálogo franco entre educador e educando, refletindo coerência entre aquilo que o educador fala e aquilo que faz. Esta ação é identificada com a prevenção primária, com aquela que busca evitar o aparecimento de problemas na vida do jovem.

·   Trabalhar para que os problemas vividos pelos jovens possam ser reduzidos ou solucionados completamente, representando uma ação de prevenção secundária, uma ação voltada para a assistência.

·   Diminuir as consequências dos problemas vividos pelos jovens, motivando-os para a busca de estratégias necessárias para o engajamento em um processo de superação. Tal ação constitui uma prevenção terciária, identificada com a reintegração do jovem na sociedade.

 

Confrontando o ontem com o hoje

Tudo que encontramos hoje, no campo das ideias e das práticas, com relação ao conceito de preventividade pode ser percebido com clareza na origem do Sistema Preventivo.

·   A obsessão de Dom Bosco pelo contato direto com os jovens está radicalmente identificada com a prevenção primária.

·   O desejo constante de Dom Bosco em recuperar os jovens representa o que se denomina, na atualidade, prevenção secundária.

·   A opção de Dom Bosco pelos jovens sujeitos a toda sorte de perigos, com o objetivo de reintegrá-los à sociedade, traduz o que convencionalmente é chamado de prevenção terciária.

Ao percebermos que a ideia de preventividade em Dom Bosco não difere daquilo que é defendido hoje, fica a certeza de que o Sistema Preventivo continua contemporâneo, capaz de responder aos atuais desafios da educação da juventude.

 

José Augusto Abreu Aguiaré professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ.

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