Dom Bosco e a profissionalização dos jovens

Quarta, 14 Junho 2017 12:01 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
Dom Bosco e a profissionalização dos jovens Imagem: Nino Musio e Renato Ventura
Numa época sem leis trabalhistas, Dom Bosco estabeleceu contatos com os empregadores de seus adolescentes e jovens e assinou com eles contratos de trabalho. É o mínimo que se pode fazer em termos de relações trabalhistas.  

Dom Bosco não foi um santo assistencialista. Foi um santo que trabalhou muito com a promoção humana. O grande objetivo de sua obra evangelizadora e educativa era ajudar o jovem a enfrentar a nova realidade da revolução industrial e ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Seu grande desejo era transformar os jovens em cidadãos trabalhadores e bons pais de família. Ele queria que seus jovens, ao sair do Oratório, tivessem um emprego estável garantindo, junto com a religião e a educação moral, a formação de bons cidadãos.

Isto ele o fez, primeiro e acima de tudo, defendendo os seus direitos. Estabelecer contratos de trabalho, dar condições adequadas para realizar o trabalho... foram preocupações constantes de Dom Bosco. Numa época sem leis trabalhistas, ele estabeleceu contatos com os empregadores de seus adolescentes e jovens e assinou com eles contratos de trabalho. É o mínimo que se pode fazer em termos de relações trabalhistas.

 

Educação e profissionalização

Para profissionalizar os jovens, inicialmente Dom Bosco fez contratos com profissionais da cidade e colocou jovens em suas oficinas com contratos de trabalho assinados por ele mesmo e pelo empregador. Depois, construiu oficinas no próprio Oratório e trouxe profissionais que ensinavam a profissão aos jovens e ao mesmo tempo prestavam serviços à comunidade. Depois, ainda, contratou ele mesmo profissionais que eram empregados em suas oficinas para que pudesse fazer uma interação entre ação e profissionalização. Finalmente, formou seus salesianos coadjutores para serem educadores nas diversas oficinas.

É importante dizer que Dom Bosco tinha convicção de que o caminho para melhorar a condição social de um jovem era “através do estudo”. Para ele, a aprendizagem de um ofício era simplesmente a forma de adquirir um meio de vida e nada mais. Dom Bosco não mandaria o jovem às oficinas se ele pudesse seguir um caminho diferente. Por isso já na década de 1850 o número de estudantes era maior que o de aprendizes.

As oficinas e as profissões foram-se multiplicando. Muitas delas serviam o próprio Oratório em expansão predial. Assim surgiram as oficinas e os ofícios de sapataria, alfaiataria, encadernação, carpintaria, tipografia, ferraria, serralheria, marcenaria, padaria, livraria, encadernador, compositor de tipografia, impressor, chapeleiro, músico, artista, fundidor de caracteres tipográficos, produtor de calcógrafo, litógrafo.

 

Salesiano coadjutor

Merece atenção especial em relação à educação profissional a presença do salesiano coadjutor. Na Congregação Salesiana existem os sacerdotes e os irmãos. É claro que sua vocação e sua presença na Família Salesiana é fruto de uma profunda compreensão da espiritualidade da vocação religiosa laical. A presença dos salesianos irmãos, no entanto, se deve ao incremento da educação profissional e gestão desta frente de missão.

A tipografia sempre foi a “menina dos olhos” de Dom Bosco. Esta oficina servia ao seu intento de difundir a boa imprensa, sobretudo através das Leituras Católicas. A tipografia iria desenvolver-se mais do que as outras oficinas. De fato, quando em 1883 foram instaladas máquinas de última geração, ela converteu-se na oficina mais bem equipada de Turim. Era uma comprovação do compromisso de Dom Bosco com o “apostolado da imprensa” e não tanto para formar impressores para a indústria.

 

As Filhas de Maria Auxiliadora

Santa Maria Domingas Mazzarello tinha a mesma visão de Dom Bosco. De fato, as Constituições das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora de 1878, em seu artigo terceiro, dizem que as irmãs “poderão receber em suas casas jovens sem condições, às quais, contudo, não ensinarão jamais as ciências e artes que são próprias de nobres e senhoris condições. Todo o seu empenho será o de formar à piedade e tudo aquilo que poderá servir para tornar boas cristãs, mas que sejam também capazes de, a seu tempo, ganhar honestamente o pão da vida”.

É importante assinalar a última expressão “ganhar honestamente o pão da vida”. Nesta época não era costume as mulheres trabalharem para ganhar dinheiro. Isso era competência dos homens. As irmãs, trabalhando sempre e apenas com meninas, têm outra visão. O trabalho é portador de dignidade para a pessoa porque é o que de mais pessoal existe. No trabalho honesto e dignificado a pessoa se encontra e se realiza. Aqui não há diferença de sexo e de gênero.

 

Desafios para a Família Salesiana

De tudo isto ficam alguns desafios para as famílias e, de modo especial, para a Família Salesiana.

  • Valorização do trabalho como meio de realização pessoal e familiar. De fato, é pelo trabalho que as pessoas sustentam a si mesmas e a sua família. Infelizmente a especulação financeira tem mais valor que o trabalho. É mais lucrativo mexer com o dinheiro conseguido com o trabalho dos outros.
  • Engajamento numa verdadeira preparação profissional. No Brasil poucos estão na educação superior. Ao lado do aumento deste percentual é importante lutar para que se possibilite uma educação profissional em nível médio. O desemprego é uma praga. Maior ainda é a inempregabilidade das pessoas por falta de qualificação.
  • Defesa dos direitos trabalhistas de todos. Dom Bosco é um pioneiro na defesa dos contratos e das condições de trabalho. Em 1883 foi aprovada na Itália a lei de regulação do trabalho infantil. Então, uma pessoa menor de nove anos não poderia trabalhar, uma menor de dez anos não poderia trabalhar nas minas e uma menor de doze anos não poderia fazer trabalhos noturnos. Avançamos muito... A luta contra o trabalho infantil é nossa, enquanto Família Salesiana. Defendemos o determinado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

Dom Bosco é o santo da educação profissional e do trabalho. 

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Última modificação em Sábado, 14 Março 2020 13:39

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Dom Bosco e a profissionalização dos jovens

Quarta, 14 Junho 2017 12:01 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
Dom Bosco e a profissionalização dos jovens Imagem: Nino Musio e Renato Ventura
Numa época sem leis trabalhistas, Dom Bosco estabeleceu contatos com os empregadores de seus adolescentes e jovens e assinou com eles contratos de trabalho. É o mínimo que se pode fazer em termos de relações trabalhistas.  

Dom Bosco não foi um santo assistencialista. Foi um santo que trabalhou muito com a promoção humana. O grande objetivo de sua obra evangelizadora e educativa era ajudar o jovem a enfrentar a nova realidade da revolução industrial e ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Seu grande desejo era transformar os jovens em cidadãos trabalhadores e bons pais de família. Ele queria que seus jovens, ao sair do Oratório, tivessem um emprego estável garantindo, junto com a religião e a educação moral, a formação de bons cidadãos.

Isto ele o fez, primeiro e acima de tudo, defendendo os seus direitos. Estabelecer contratos de trabalho, dar condições adequadas para realizar o trabalho... foram preocupações constantes de Dom Bosco. Numa época sem leis trabalhistas, ele estabeleceu contatos com os empregadores de seus adolescentes e jovens e assinou com eles contratos de trabalho. É o mínimo que se pode fazer em termos de relações trabalhistas.

 

Educação e profissionalização

Para profissionalizar os jovens, inicialmente Dom Bosco fez contratos com profissionais da cidade e colocou jovens em suas oficinas com contratos de trabalho assinados por ele mesmo e pelo empregador. Depois, construiu oficinas no próprio Oratório e trouxe profissionais que ensinavam a profissão aos jovens e ao mesmo tempo prestavam serviços à comunidade. Depois, ainda, contratou ele mesmo profissionais que eram empregados em suas oficinas para que pudesse fazer uma interação entre ação e profissionalização. Finalmente, formou seus salesianos coadjutores para serem educadores nas diversas oficinas.

É importante dizer que Dom Bosco tinha convicção de que o caminho para melhorar a condição social de um jovem era “através do estudo”. Para ele, a aprendizagem de um ofício era simplesmente a forma de adquirir um meio de vida e nada mais. Dom Bosco não mandaria o jovem às oficinas se ele pudesse seguir um caminho diferente. Por isso já na década de 1850 o número de estudantes era maior que o de aprendizes.

As oficinas e as profissões foram-se multiplicando. Muitas delas serviam o próprio Oratório em expansão predial. Assim surgiram as oficinas e os ofícios de sapataria, alfaiataria, encadernação, carpintaria, tipografia, ferraria, serralheria, marcenaria, padaria, livraria, encadernador, compositor de tipografia, impressor, chapeleiro, músico, artista, fundidor de caracteres tipográficos, produtor de calcógrafo, litógrafo.

 

Salesiano coadjutor

Merece atenção especial em relação à educação profissional a presença do salesiano coadjutor. Na Congregação Salesiana existem os sacerdotes e os irmãos. É claro que sua vocação e sua presença na Família Salesiana é fruto de uma profunda compreensão da espiritualidade da vocação religiosa laical. A presença dos salesianos irmãos, no entanto, se deve ao incremento da educação profissional e gestão desta frente de missão.

A tipografia sempre foi a “menina dos olhos” de Dom Bosco. Esta oficina servia ao seu intento de difundir a boa imprensa, sobretudo através das Leituras Católicas. A tipografia iria desenvolver-se mais do que as outras oficinas. De fato, quando em 1883 foram instaladas máquinas de última geração, ela converteu-se na oficina mais bem equipada de Turim. Era uma comprovação do compromisso de Dom Bosco com o “apostolado da imprensa” e não tanto para formar impressores para a indústria.

 

As Filhas de Maria Auxiliadora

Santa Maria Domingas Mazzarello tinha a mesma visão de Dom Bosco. De fato, as Constituições das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora de 1878, em seu artigo terceiro, dizem que as irmãs “poderão receber em suas casas jovens sem condições, às quais, contudo, não ensinarão jamais as ciências e artes que são próprias de nobres e senhoris condições. Todo o seu empenho será o de formar à piedade e tudo aquilo que poderá servir para tornar boas cristãs, mas que sejam também capazes de, a seu tempo, ganhar honestamente o pão da vida”.

É importante assinalar a última expressão “ganhar honestamente o pão da vida”. Nesta época não era costume as mulheres trabalharem para ganhar dinheiro. Isso era competência dos homens. As irmãs, trabalhando sempre e apenas com meninas, têm outra visão. O trabalho é portador de dignidade para a pessoa porque é o que de mais pessoal existe. No trabalho honesto e dignificado a pessoa se encontra e se realiza. Aqui não há diferença de sexo e de gênero.

 

Desafios para a Família Salesiana

De tudo isto ficam alguns desafios para as famílias e, de modo especial, para a Família Salesiana.

  • Valorização do trabalho como meio de realização pessoal e familiar. De fato, é pelo trabalho que as pessoas sustentam a si mesmas e a sua família. Infelizmente a especulação financeira tem mais valor que o trabalho. É mais lucrativo mexer com o dinheiro conseguido com o trabalho dos outros.
  • Engajamento numa verdadeira preparação profissional. No Brasil poucos estão na educação superior. Ao lado do aumento deste percentual é importante lutar para que se possibilite uma educação profissional em nível médio. O desemprego é uma praga. Maior ainda é a inempregabilidade das pessoas por falta de qualificação.
  • Defesa dos direitos trabalhistas de todos. Dom Bosco é um pioneiro na defesa dos contratos e das condições de trabalho. Em 1883 foi aprovada na Itália a lei de regulação do trabalho infantil. Então, uma pessoa menor de nove anos não poderia trabalhar, uma menor de dez anos não poderia trabalhar nas minas e uma menor de doze anos não poderia fazer trabalhos noturnos. Avançamos muito... A luta contra o trabalho infantil é nossa, enquanto Família Salesiana. Defendemos o determinado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

Dom Bosco é o santo da educação profissional e do trabalho. 

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