Que faríamos sem os jovens?

Sexta, 12 Junho 2020 11:11 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Os jovens disseram que nos amam, que nos amam de verdade como educadores, como amigos, como irmãos e como pais, porque “nós, jovens de hoje, temos uma grande falta de paternidade. E sobretudo queremos avançar no crescimento espiritual e pessoal e queremos fazê-lo com vocês, salesianos”.  

Talvez lhes pareça estranha esta pergunta, queridos amigos, leitores do Boletim Salesiano e simpatizantes de Dom Bosco.

 

Na minha vida encontrei muitos adultos para quem os jovens são uma categoria de pessoas a tratar com cautela, em relação aos quais é preciso estar alerta, estar pronto a tudo, porque “nunca se sabe o que se pode esperar deles”. Acreditem se lhes disser que isto é mais frequente do que se pode pensar: será por falta de segurança, por medo, por que têm uma mentalidade muito diferente?

 

Sempre disse comigo, e repito a mim mesmo depois do recente Capítulo Geral 28, que decorreu em Valdocco-Turim nos mesmos locais em que Dom Bosco viveu com os seus rapazes, que os jovens são a razão de ser da nossa vida e que nos tornam melhores, dilatando o nosso coração, tornando-nos mais generosos e levando-nos a olhar a vida com esperança e sorriso, como aconteceu a Dom Bosco com os seus rapazes.

 

Acredito sinceramente nisto. Se um educador salesiano, consagrado ou leigo, não sente esta experiência, então é simplesmente alguém que trabalha e ganha a vida com um honesto trabalho educativo, mas não vive com verdadeira paixão “a arte de educar”.

 

O que nos pedem os jovens

No Capítulo Geral participaram 16 jovens provenientes de quatro continentes. Jovens adultos, entre os 25 e os 30 anos. Entraram logo em franco contacto entre eles e conosco. Vale a pena recordar o que eles nos disseram e o que nos pediram: “Conseguimos sintonizar o nosso coração e os nossos sonhos no mesmo ritmo. Deram-nos a oportunidade de aqui nos conectarmos convosco, salesianos, que queremos conosco. Fizeram isso com o seu estilo salesiano. Estar conosco, lado a lado, permitindo-nos ser protagonistas”.

 

Eles, e nós, compreendemos muitas coisas. Uma das quais muito interessante: Os jovens disseram-nos que acham difícil compreender-se, não só pela diversidade das línguas (porque nem todos eram capazes de dialogar em inglês), mas que achavam um pouco difícil compreender conceitos, mentalidade, costumes, valores… E eram todos jovens com idades muito próximas! Não havia qualquer distância geracional.

 

Disse-lhes que os compreendia e pedi-lhes que se esforçassem por compreender também os salesianos que conheciam, quando na mesma comunidade havia pessoas de idades, nacionalidades e mentalidades diferentes. Disseram-me que nunca tinham pensado nisso, mas que agora tinham vivido o problema na sua carne.

 

Concordamos assim no fato de a comunidade e os projetos comuns não se obterem por afinidade e simpatia, mas através da opção pelo mesmo ideal e com valores semelhantes. O resto é o resultado do esforço e da fé.

 

Companheiros de viagem

Aqueles mesmos jovens (rapazes e moças) expressaram-nos sentimentos que nos deixaram sem palavras. Podíamos talvez imaginá-los, mas quando os ouvimos dos seus lábios naquela grande assembleia, tiveram um efeito impressionante.

 

Os jovens disseram que nos amam, que nos amam de verdade como educadores, como amigos, como irmãos e como pais, porque “nós jovens de hoje temos uma grande falta de paternidade”.

 

E pediram-nos que sejamos seus companheiros de viagem. Disseram-nos que não precisam que sejamos nós a dizer-lhes o que fazer ou não fazer. Que não querem que lhes facilitemos as coisas. Não precisam que lhes digamos como pensar e como viver. Mas querem-nos a seu lado, mesmo quando erram. Pediram-nos que os acompanhemos no caminho da vida. Que estejamos junto a eles mesmo na fase das grandes decisões.

 

“Vocês têm os nossos corações em suas mãos. Cuidem deste precioso tesouro. Por favor, não se esqueçam de nós e continuem a nos escutar”, escreveram na sua mensagem.

 

Me comovi ao ouvi-los dizer, com as lágrimas nos olhos, que precisavam de nós para lhes mostrar que Deus os ama, que há um Deus que é Amor e que os ama incondicionalmente. Que alguém deve dizê-lo muitas e muitas vezes a todos os jovens deste mundo.

 

Estamos sem palavras. Os jovens, uma vez mais, nos evangelizaram.

 

“Os jovens nos salvam”

Foi um dos meus predecessores, o Reitor-mor padre Juan Edmundo Vecchi, que uma vez escreveu que “os jovens nos salvam”. É assim mesmo. Salvam-nos da rotina da vida, do cansaço que não desaparece com as horas de repouso. Salvam-nos da segurança confortável, da vida sem esperança e sem fé. Em suma, salvam-nos da mediocridade.

Queridos jovens, nós salesianos do mundo de hoje queremos dizer que os amamos, que a nossa vida é para vocês e que, tal como aconteceu com Dom Bosco, também cada um de nós pode dizer: “Por vós estudo, por vós trabalho, por vós vivo, estou pronto a dar a minha vida por vós”.

Auguro-vos uma grande felicidade no Senhor.

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Que faríamos sem os jovens?

Sexta, 12 Junho 2020 11:11 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Os jovens disseram que nos amam, que nos amam de verdade como educadores, como amigos, como irmãos e como pais, porque “nós, jovens de hoje, temos uma grande falta de paternidade. E sobretudo queremos avançar no crescimento espiritual e pessoal e queremos fazê-lo com vocês, salesianos”.  

Talvez lhes pareça estranha esta pergunta, queridos amigos, leitores do Boletim Salesiano e simpatizantes de Dom Bosco.

 

Na minha vida encontrei muitos adultos para quem os jovens são uma categoria de pessoas a tratar com cautela, em relação aos quais é preciso estar alerta, estar pronto a tudo, porque “nunca se sabe o que se pode esperar deles”. Acreditem se lhes disser que isto é mais frequente do que se pode pensar: será por falta de segurança, por medo, por que têm uma mentalidade muito diferente?

 

Sempre disse comigo, e repito a mim mesmo depois do recente Capítulo Geral 28, que decorreu em Valdocco-Turim nos mesmos locais em que Dom Bosco viveu com os seus rapazes, que os jovens são a razão de ser da nossa vida e que nos tornam melhores, dilatando o nosso coração, tornando-nos mais generosos e levando-nos a olhar a vida com esperança e sorriso, como aconteceu a Dom Bosco com os seus rapazes.

 

Acredito sinceramente nisto. Se um educador salesiano, consagrado ou leigo, não sente esta experiência, então é simplesmente alguém que trabalha e ganha a vida com um honesto trabalho educativo, mas não vive com verdadeira paixão “a arte de educar”.

 

O que nos pedem os jovens

No Capítulo Geral participaram 16 jovens provenientes de quatro continentes. Jovens adultos, entre os 25 e os 30 anos. Entraram logo em franco contacto entre eles e conosco. Vale a pena recordar o que eles nos disseram e o que nos pediram: “Conseguimos sintonizar o nosso coração e os nossos sonhos no mesmo ritmo. Deram-nos a oportunidade de aqui nos conectarmos convosco, salesianos, que queremos conosco. Fizeram isso com o seu estilo salesiano. Estar conosco, lado a lado, permitindo-nos ser protagonistas”.

 

Eles, e nós, compreendemos muitas coisas. Uma das quais muito interessante: Os jovens disseram-nos que acham difícil compreender-se, não só pela diversidade das línguas (porque nem todos eram capazes de dialogar em inglês), mas que achavam um pouco difícil compreender conceitos, mentalidade, costumes, valores… E eram todos jovens com idades muito próximas! Não havia qualquer distância geracional.

 

Disse-lhes que os compreendia e pedi-lhes que se esforçassem por compreender também os salesianos que conheciam, quando na mesma comunidade havia pessoas de idades, nacionalidades e mentalidades diferentes. Disseram-me que nunca tinham pensado nisso, mas que agora tinham vivido o problema na sua carne.

 

Concordamos assim no fato de a comunidade e os projetos comuns não se obterem por afinidade e simpatia, mas através da opção pelo mesmo ideal e com valores semelhantes. O resto é o resultado do esforço e da fé.

 

Companheiros de viagem

Aqueles mesmos jovens (rapazes e moças) expressaram-nos sentimentos que nos deixaram sem palavras. Podíamos talvez imaginá-los, mas quando os ouvimos dos seus lábios naquela grande assembleia, tiveram um efeito impressionante.

 

Os jovens disseram que nos amam, que nos amam de verdade como educadores, como amigos, como irmãos e como pais, porque “nós jovens de hoje temos uma grande falta de paternidade”.

 

E pediram-nos que sejamos seus companheiros de viagem. Disseram-nos que não precisam que sejamos nós a dizer-lhes o que fazer ou não fazer. Que não querem que lhes facilitemos as coisas. Não precisam que lhes digamos como pensar e como viver. Mas querem-nos a seu lado, mesmo quando erram. Pediram-nos que os acompanhemos no caminho da vida. Que estejamos junto a eles mesmo na fase das grandes decisões.

 

“Vocês têm os nossos corações em suas mãos. Cuidem deste precioso tesouro. Por favor, não se esqueçam de nós e continuem a nos escutar”, escreveram na sua mensagem.

 

Me comovi ao ouvi-los dizer, com as lágrimas nos olhos, que precisavam de nós para lhes mostrar que Deus os ama, que há um Deus que é Amor e que os ama incondicionalmente. Que alguém deve dizê-lo muitas e muitas vezes a todos os jovens deste mundo.

 

Estamos sem palavras. Os jovens, uma vez mais, nos evangelizaram.

 

“Os jovens nos salvam”

Foi um dos meus predecessores, o Reitor-mor padre Juan Edmundo Vecchi, que uma vez escreveu que “os jovens nos salvam”. É assim mesmo. Salvam-nos da rotina da vida, do cansaço que não desaparece com as horas de repouso. Salvam-nos da segurança confortável, da vida sem esperança e sem fé. Em suma, salvam-nos da mediocridade.

Queridos jovens, nós salesianos do mundo de hoje queremos dizer que os amamos, que a nossa vida é para vocês e que, tal como aconteceu com Dom Bosco, também cada um de nós pode dizer: “Por vós estudo, por vós trabalho, por vós vivo, estou pronto a dar a minha vida por vós”.

Auguro-vos uma grande felicidade no Senhor.

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