Jesus: uma comunicação com base no diálogo

Segunda, 03 Mai 2021 22:38 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Jesus: uma comunicação com base no diálogo istock.com
Em nenhum momento dos Evangelhos Jesus impõe ou obriga alguém a fazer alguma coisa; sua atitude é sempre de respeito, uma atitude dialógica, reflexiva, questionadora, que permite liberdade e adesão pessoal.    

No Evangelho de João, Jesus se aproxima da Samaritana pedindo-lhe: “Dá-me de beber” (Jo 4,7); no Evangelho de Lucas, Jesus se aproxima, começa a caminhar com os discípulos de Emaús e pergunta-lhes: “O que é que vocês andam conversando pelo caminho?” (Lc 24, 17); e no Evangelho de Mateus, Jesus estava caminhando pela beira do mar, quando encontra Pedro e André e diz-lhes: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt 4, 19).

 

Além dessas três passagens, há inúmeras outras dos Evangelhos que mostram a atitude de Jesus: aproximar-se e começar a conversar, a tecer um diálogo. Em nenhum momento dos Evangelhos Jesus impõe ou obriga alguém a fazer alguma coisa; sua atitude é sempre de respeito, uma atitude dialógica, reflexiva, questionadora, que permite liberdade e adesão pessoal.

 

Fratelli tutti

Em sua encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco escreve: “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isto se resume no verbo ‘dialogar’”. Papa Francisco dedica um capítulo desta encíclica para o tema do diálogo e da amizade social, refletindo sobre a importância da prática dialógica na atual sociedade em que vivemos.

 

O diálogo é uma postura do ser humano diante do mundo e não se resume ao falar. No mesmo documento, o Papa afirma que o diálogo não pode confundir-se com a “troca febril de opiniões nas redes sociais, muitas vezes pilotada por uma informação mediática nem sempre fiável”, que se caracteriza como um monólogo, em tantas ocasiões agressivo, de quem não quer ouvir o outro.

 

Prática do diálogo

Em um mundo que tende ao fundamentalismo, ao fechamento e à unilateridade, somos convidados a olhar para a pessoa de Jesus Cristo, centro de nossa fé, e aprendermos dele a prática do diálogo. O Papa Bento XVI lembrava em um de seus escritos que: “Uma comunicação eficaz, como as parábolas de Jesus, necessita do envolvimento da imaginação e da sensibilidade afetiva daqueles que queremos convidar para um encontro com o mistério do amor de Deus”.

 

O diálogo só existe onde há liberdade, onde há aceitação do outro, do diferente. Embora Jesus seja o Caminho, a Verdade e a Vida, deixou a liberdade para que o jovem rico fizesse a opção por segui-lo ou seguir o seu próprio caminho (Mt 19,22; Mc 10,22; Lc 18,22); também não se enfureceu com os nazarenos porque não tinham fé o suficiente (Mt 13, 54) para realizar milagres em Nazaré.

 

Uma comunicação autêntica, no mundo de hoje, só é possível através da prática do diálogo que humaniza e permite a alteridade. Conforme Paulo Freire, “o diálogo é o encontro amoroso dos homens”, porque não impõe, não domina e não fere. Na pedagogia salesiana, o tripé: Razão, Fé e Amorevolezza só acontece mediante o diálogo. O amor educativo e a proximidade empática se concretizam mediante o diálogo, conforme ensinado e praticado por Jesus.

 

Artífices da fraternidade

É interessante o fato que aconteceu no oratório de Valdocco em 1874, quando o jovem sacerdote José Vespignani foi falar a Dom Bosco que não se sentia apto a fazer parte dos jogos e movimentos que os meninos estavam acostumados. Dom Bosco, então, lhe recomenda dirigir-se ao local onde ficava a torneira: para lá os meninos iam após o café para tomar água e ficavam conversando sobre diversos assuntos.

 

Sobre o fato, Vespignani escreve: “Esse conselho restituiu-me a vida, enquanto alguns bebem, outros conversam sobre os mais variados assuntos relativos à vida escolar. Um fala sobre a dificuldade encontrada na redação, outro manifesta o desejo de ser isso ou aquilo. Eu me aproximo e participo da conversa. E vejo, então, acercar-se de mim, aos poucos, um grande número daqueles traquinas que, antes, me causavam tantos problemas na aula. E com todos eu passo a me dar bem”. É assim, mediante o diálogo simples e aberto, que se cria proximidade, confiança. Dom Bosco sabia disso, porque o seu coração e a sua vida estavam alicerçados em Jesus de Nazaré.

 

O bom discípulo quer seguir os passos do Mestre, foi o que Dom Bosco, Madre Mazzarello e tantos outros santos da Igreja fizeram e continuam fazendo. A vida cristã é um grande diálogo com Deus, que se manifesta na história de seu povo, na Palavra de Deus, na prática cotidiana entre filhos e filhas amados por Deus. Que possamos viver o diálogo tal como Jesus pregou e testemunhou e sejamos também artífices da paz e da fraternidade em nosso mundo.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

 

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Jesus: uma comunicação com base no diálogo

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Em nenhum momento dos Evangelhos Jesus impõe ou obriga alguém a fazer alguma coisa; sua atitude é sempre de respeito, uma atitude dialógica, reflexiva, questionadora, que permite liberdade e adesão pessoal.    

No Evangelho de João, Jesus se aproxima da Samaritana pedindo-lhe: “Dá-me de beber” (Jo 4,7); no Evangelho de Lucas, Jesus se aproxima, começa a caminhar com os discípulos de Emaús e pergunta-lhes: “O que é que vocês andam conversando pelo caminho?” (Lc 24, 17); e no Evangelho de Mateus, Jesus estava caminhando pela beira do mar, quando encontra Pedro e André e diz-lhes: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt 4, 19).

 

Além dessas três passagens, há inúmeras outras dos Evangelhos que mostram a atitude de Jesus: aproximar-se e começar a conversar, a tecer um diálogo. Em nenhum momento dos Evangelhos Jesus impõe ou obriga alguém a fazer alguma coisa; sua atitude é sempre de respeito, uma atitude dialógica, reflexiva, questionadora, que permite liberdade e adesão pessoal.

 

Fratelli tutti

Em sua encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco escreve: “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isto se resume no verbo ‘dialogar’”. Papa Francisco dedica um capítulo desta encíclica para o tema do diálogo e da amizade social, refletindo sobre a importância da prática dialógica na atual sociedade em que vivemos.

 

O diálogo é uma postura do ser humano diante do mundo e não se resume ao falar. No mesmo documento, o Papa afirma que o diálogo não pode confundir-se com a “troca febril de opiniões nas redes sociais, muitas vezes pilotada por uma informação mediática nem sempre fiável”, que se caracteriza como um monólogo, em tantas ocasiões agressivo, de quem não quer ouvir o outro.

 

Prática do diálogo

Em um mundo que tende ao fundamentalismo, ao fechamento e à unilateridade, somos convidados a olhar para a pessoa de Jesus Cristo, centro de nossa fé, e aprendermos dele a prática do diálogo. O Papa Bento XVI lembrava em um de seus escritos que: “Uma comunicação eficaz, como as parábolas de Jesus, necessita do envolvimento da imaginação e da sensibilidade afetiva daqueles que queremos convidar para um encontro com o mistério do amor de Deus”.

 

O diálogo só existe onde há liberdade, onde há aceitação do outro, do diferente. Embora Jesus seja o Caminho, a Verdade e a Vida, deixou a liberdade para que o jovem rico fizesse a opção por segui-lo ou seguir o seu próprio caminho (Mt 19,22; Mc 10,22; Lc 18,22); também não se enfureceu com os nazarenos porque não tinham fé o suficiente (Mt 13, 54) para realizar milagres em Nazaré.

 

Uma comunicação autêntica, no mundo de hoje, só é possível através da prática do diálogo que humaniza e permite a alteridade. Conforme Paulo Freire, “o diálogo é o encontro amoroso dos homens”, porque não impõe, não domina e não fere. Na pedagogia salesiana, o tripé: Razão, Fé e Amorevolezza só acontece mediante o diálogo. O amor educativo e a proximidade empática se concretizam mediante o diálogo, conforme ensinado e praticado por Jesus.

 

Artífices da fraternidade

É interessante o fato que aconteceu no oratório de Valdocco em 1874, quando o jovem sacerdote José Vespignani foi falar a Dom Bosco que não se sentia apto a fazer parte dos jogos e movimentos que os meninos estavam acostumados. Dom Bosco, então, lhe recomenda dirigir-se ao local onde ficava a torneira: para lá os meninos iam após o café para tomar água e ficavam conversando sobre diversos assuntos.

 

Sobre o fato, Vespignani escreve: “Esse conselho restituiu-me a vida, enquanto alguns bebem, outros conversam sobre os mais variados assuntos relativos à vida escolar. Um fala sobre a dificuldade encontrada na redação, outro manifesta o desejo de ser isso ou aquilo. Eu me aproximo e participo da conversa. E vejo, então, acercar-se de mim, aos poucos, um grande número daqueles traquinas que, antes, me causavam tantos problemas na aula. E com todos eu passo a me dar bem”. É assim, mediante o diálogo simples e aberto, que se cria proximidade, confiança. Dom Bosco sabia disso, porque o seu coração e a sua vida estavam alicerçados em Jesus de Nazaré.

 

O bom discípulo quer seguir os passos do Mestre, foi o que Dom Bosco, Madre Mazzarello e tantos outros santos da Igreja fizeram e continuam fazendo. A vida cristã é um grande diálogo com Deus, que se manifesta na história de seu povo, na Palavra de Deus, na prática cotidiana entre filhos e filhas amados por Deus. Que possamos viver o diálogo tal como Jesus pregou e testemunhou e sejamos também artífices da paz e da fraternidade em nosso mundo.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

 

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