Padre Albera: Um sonho transformado em realidade

Quarta, 11 Agosto 2021 18:31 Escrito por  Pe. Manuel Pérez, SDB
Confira mais um artigo da série sobre a vida e a obra do padre Paulo Albera, segundo sucessor de Dom Bosco, cujo centenário de morte é celebrado neste ano.  

 

Padre Miguel Rúa foi confirmado pelo Papa Leão XIII como Reitor-mor, primeiro sucesso de Dom Bosco, em 11 de fevereiro de 1888. Para o padre Albera, significava um respaldo como inspetor na França, mas haveria uma novidade: em 29 de agosto de 1891, Albera seria eleito como diretor espiritual da Congregação.

 

Era um novo horizonte, que o desafiava a animar a espiritualidade de seus irmãos, da Família Salesiana e dos jovens... esta seria uma constante em sua vida, como escreveu em seu diário pessoal: exigir primeiro de si mesmo o que proporia aos outros. Foram 19 anos.

 

A América

Dom Bosco narrou que em um de seus sonhos missionários percorria toda a extensão da América... Em 1900 celebraram-se as bodas de prata do primeiro envio missionário salesiano e era crescente a expectativa de que padre Rúa visitaria as inspetorias americanas. Mas seria o padre Albera, com 55 anos de idade, o enviado em seu nome, tendo como primeira parada o porto de Montevidéu, no Uruguai.

 

Ele foi percorrendo casa por casa, durante três anos: encontros pessoais e com grupos, celebrações litúrgicas, cerimônias e atos formais. Exerceu seu ministério sacerdotal, predicando exercícios espirituais, dando conferências para as comunidades e associações, sobretudo nas casas de formação dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora, entusiasmando as pessoas com Dom Bosco e incentivando-as, como fez no Equador ao falar sobre a febre amarela ou sobre a guerrilha na Colômbia e na Venezuela.

 

Viajou de tem, de barco, em carruagens, a cavalo, a pé... por cidades e campos, com tempestades de neve, mares revoltos e chuvas torrenciais, adaptando-se a diversos climas, a diversas alturas, e inclusive com momentos de precariedade em sua saúde. Foi de uma república a outra, com a batina ou sem ela, como no México, constatando como o Oratório de Valdocco era o modelo reproduzido com o fervor da vida espiritual, na proposta pedagógica e na atividade evangelizadora. Este foi seu programa cotidiano, confortado pela cordialidade com que o recebiam em todos os lugares.

 

Albera presidiu acontecimentos importantes, como o Capítulo Sul-americano de diretores salesianos, que reuniu 44 diretores, dois bispos e quatro inspetores. Concluiu sua visita com a ordenação de 15 sacerdotes, que celebraram a missa à meia noite da virada de 1900 para 1901, quando Padre Rúa consagrava a Família Salesiana ao Sagrado Coração de Jesus. Impulsionou novas fundações e aceitou pedidos frequentes dos bispos para o envio de salesianos a suas dioceses.

 

Sua experiência pessoal pode ser sintetizada em uma de suas cartas: “Aqui me sinto quase melhor, embora o estilo de vida seja tão diferente ao da Europa. Estou sempre viajando e não tenho tempo para escrever... Os irmãos me cumulam das mais delicadas atenções”.

 

Outro Dom Bosco

Padre Albera fez essa viagem entusiasmando a Família Salesiana, como quando expressou aos Salesianos Cooperadores de Quito, no Equador: “Vocês, meus bons Cooperadores, que amam apaixonadamente a esses jovens pobres, generosos de afeto e de benevolência, com uma caridade desinteressada, serão como pais e mães, buscarão um futuro tranquilo e honrado, o trabalho que dignifica, o estudo que enobrece, a religião que consola, santifica e assegura a felicidade eterna a essas crianças de hoje...”.

 

Sua preocupação era a mesma de Dom Bosco por seus jovens: a Salvação. Em Água de Dios (sanatório para doentes de hanseníase) deixou uma recordação: “Sofrem tanto no corpo, deixem de sofrer ao menos na alma, reconciliando-se com o Senhor, isso depende de vocês. Somos incapazes de curá-los da lepra material, mas permitam que os curemos da espiritual”.

 

O padre Ricardo Pittini, futuro arcebispo em Santo Domingo, na República Dominicana, transcreveu o que ressoava no coração dos que entraram em contato com padre Albera: “Nesses dias, seu rosto, seu sorriso, sua palavra bendita ofereceu-nos a imagem de um pai que não víamos com os olhos materiais, mas que em tudo transparecia a marca de Dom Bosco... O agradecimento é a única promessa que lhe fazemos e que sempre, onde estivermos, procuraremos ser dignos da imagem e do modelo que nos deixaste”.

 

Em 18 e março de 1903, iniciava o regresso a Valdocco, ali chegando em 11 de abril. Todo o Oratório deu graças com o Canto Te Deum. Podia-se concluir que o sonho de Dom Bosco era uma realidade.

 

Padre Manuel Pérez, SDB, é diretor do Centro Salesiano de Formação Permanente América (CSFPA), de Quito, Equador.

 

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Padre Albera: Um sonho transformado em realidade

Quarta, 11 Agosto 2021 18:31 Escrito por  Pe. Manuel Pérez, SDB
Confira mais um artigo da série sobre a vida e a obra do padre Paulo Albera, segundo sucessor de Dom Bosco, cujo centenário de morte é celebrado neste ano.  

 

Padre Miguel Rúa foi confirmado pelo Papa Leão XIII como Reitor-mor, primeiro sucesso de Dom Bosco, em 11 de fevereiro de 1888. Para o padre Albera, significava um respaldo como inspetor na França, mas haveria uma novidade: em 29 de agosto de 1891, Albera seria eleito como diretor espiritual da Congregação.

 

Era um novo horizonte, que o desafiava a animar a espiritualidade de seus irmãos, da Família Salesiana e dos jovens... esta seria uma constante em sua vida, como escreveu em seu diário pessoal: exigir primeiro de si mesmo o que proporia aos outros. Foram 19 anos.

 

A América

Dom Bosco narrou que em um de seus sonhos missionários percorria toda a extensão da América... Em 1900 celebraram-se as bodas de prata do primeiro envio missionário salesiano e era crescente a expectativa de que padre Rúa visitaria as inspetorias americanas. Mas seria o padre Albera, com 55 anos de idade, o enviado em seu nome, tendo como primeira parada o porto de Montevidéu, no Uruguai.

 

Ele foi percorrendo casa por casa, durante três anos: encontros pessoais e com grupos, celebrações litúrgicas, cerimônias e atos formais. Exerceu seu ministério sacerdotal, predicando exercícios espirituais, dando conferências para as comunidades e associações, sobretudo nas casas de formação dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora, entusiasmando as pessoas com Dom Bosco e incentivando-as, como fez no Equador ao falar sobre a febre amarela ou sobre a guerrilha na Colômbia e na Venezuela.

 

Viajou de tem, de barco, em carruagens, a cavalo, a pé... por cidades e campos, com tempestades de neve, mares revoltos e chuvas torrenciais, adaptando-se a diversos climas, a diversas alturas, e inclusive com momentos de precariedade em sua saúde. Foi de uma república a outra, com a batina ou sem ela, como no México, constatando como o Oratório de Valdocco era o modelo reproduzido com o fervor da vida espiritual, na proposta pedagógica e na atividade evangelizadora. Este foi seu programa cotidiano, confortado pela cordialidade com que o recebiam em todos os lugares.

 

Albera presidiu acontecimentos importantes, como o Capítulo Sul-americano de diretores salesianos, que reuniu 44 diretores, dois bispos e quatro inspetores. Concluiu sua visita com a ordenação de 15 sacerdotes, que celebraram a missa à meia noite da virada de 1900 para 1901, quando Padre Rúa consagrava a Família Salesiana ao Sagrado Coração de Jesus. Impulsionou novas fundações e aceitou pedidos frequentes dos bispos para o envio de salesianos a suas dioceses.

 

Sua experiência pessoal pode ser sintetizada em uma de suas cartas: “Aqui me sinto quase melhor, embora o estilo de vida seja tão diferente ao da Europa. Estou sempre viajando e não tenho tempo para escrever... Os irmãos me cumulam das mais delicadas atenções”.

 

Outro Dom Bosco

Padre Albera fez essa viagem entusiasmando a Família Salesiana, como quando expressou aos Salesianos Cooperadores de Quito, no Equador: “Vocês, meus bons Cooperadores, que amam apaixonadamente a esses jovens pobres, generosos de afeto e de benevolência, com uma caridade desinteressada, serão como pais e mães, buscarão um futuro tranquilo e honrado, o trabalho que dignifica, o estudo que enobrece, a religião que consola, santifica e assegura a felicidade eterna a essas crianças de hoje...”.

 

Sua preocupação era a mesma de Dom Bosco por seus jovens: a Salvação. Em Água de Dios (sanatório para doentes de hanseníase) deixou uma recordação: “Sofrem tanto no corpo, deixem de sofrer ao menos na alma, reconciliando-se com o Senhor, isso depende de vocês. Somos incapazes de curá-los da lepra material, mas permitam que os curemos da espiritual”.

 

O padre Ricardo Pittini, futuro arcebispo em Santo Domingo, na República Dominicana, transcreveu o que ressoava no coração dos que entraram em contato com padre Albera: “Nesses dias, seu rosto, seu sorriso, sua palavra bendita ofereceu-nos a imagem de um pai que não víamos com os olhos materiais, mas que em tudo transparecia a marca de Dom Bosco... O agradecimento é a única promessa que lhe fazemos e que sempre, onde estivermos, procuraremos ser dignos da imagem e do modelo que nos deixaste”.

 

Em 18 e março de 1903, iniciava o regresso a Valdocco, ali chegando em 11 de abril. Todo o Oratório deu graças com o Canto Te Deum. Podia-se concluir que o sonho de Dom Bosco era uma realidade.

 

Padre Manuel Pérez, SDB, é diretor do Centro Salesiano de Formação Permanente América (CSFPA), de Quito, Equador.

 

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