Repensando o mundo digital pós-pandemia

Quarta, 15 Dezembro 2021 01:02 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
“A necessidade de manter o distanciamento social forçou as pessoas a se relacionarem ainda mais por meio das tecnologias eletrônicas e digitais, de forma especial. O contato com o mundo exterior dá-se, cada vez mais, de forma midiatizada pelo celular e seus aplicativos e redes sociais.”    

Se antes do mundo passar pela situação de pandemia já vivíamos imersos nas redes sociais, saturados de informação, com o surgimento da Covid 19 essa realidade se ampliou. A necessidade de manter o distanciamento social forçou as pessoas a se relacionarem ainda mais por meio das tecnologias eletrônicas e digitais e, de forma especial, pelo celular. O contato com o mundo exterior dá-se, cada vez mais, de forma midiatizada pelo celular e seus aplicativos e redes sociais.

 

Segundo o filósofo e escritor Byung-Chul Han, vivemos obcecados por informações, o que nos faz mergulhar em um turbilhão de surpresas que nos tira a tranquilidade e nos enche de ansiedade e instabilidade. De certa forma, a ampla divulgação de informações estatísticas em tempo real criou como que uma necessidade vital de acompanharmos os dados da atualidade. É como se uma ânsia de medo e expectativa tomasse conta de todos, de modo que nossas ações e cotidianidade passaram a ser definidas pelas informações que recebíamos a cada momento.

 

Parece uma dicotomia, mas, quanto mais as pessoas buscam informações sobre o que está acontecendo no mundo, mais se afastam do mundo real. O problema é que toda realidade midiatizada é editável, ou seja, é narrada e contada a partir de pontos de vista específicos. As informações, por mais que sejam dadas em tempo real e tragam dados concretos, passam por um sistema de controle e vigilância que influencia diretamente o comportamento de todas as pessoas.

 

Controle e vigilância

Embora a ideia de controle e vigilância esteja comumente associada à existência de regimes autoritários, também pode manifestar-se de forma vedada e imperceptível pelo viés da liberdade. Neste caso, a manipulação não acontece pela repressão, mas sim pela sedução. As redes sociais funcionam e se proliferam pela atração e sedução; elas oferecem aquilo que a pessoa deseja de maneira ampliada e personalizada, formando nichos e grupos de interesse que se alimentam das próprias visões de mundo, distanciando qualquer forma de pensamento alheio ou contrário.

 

Diante dessa realidade, educadores, pais e pessoas formadoras de opinião precisam tomar consciência das consequências que o mundo midiatizado acarreta. Não significa que tenhamos que deixar de participar das redes sociais, ou banir os celulares do nosso cotidiano, até porque isso seria totalmente impossível no estágio de desenvolvimento que vivemos. Mas é preciso, sim, que se discuta sobre questões como: privacidade de dados, controle, vigilância, desinformação e discurso de ódio.

 

Durante toda a história da humanidade, vimos o surgimento de novas tecnologias que foram mudando as maneiras de nos relacionarmos, de vermos o mundo e também incorporando ou criando novas formas de manipulação, dependência e controle. Isso não é uma situação nova. Porém, é preciso ter presente que as mudanças tecnológicas de hoje se dão num tempo muito rápido; a velocidade com que as novidades surgem, muitas vezes, dificulta a compreensão racional e inibe uma reflexão mais ampla sobre como os aspectos essenciais de nossa vida cotidiana são impactados por essas novas tecnologias.

 

Compreensão crítica

A convivência saudável e consciente nesses ambientes digitais requer de todos nós o esforço de passarmos por um processo de alfabetização midiática e informacional, conforme termo utilizado pela UNESCO para referir-se ao processo de compreensão não apenas técnica, mas também, e principalmente, uma compreensão crítica deste mundo digitalizado que se impõe ao nosso redor.

 

Os nossos ambientes educativos precisam ser espaços de diálogo e compreensão crítica, que tragam presente reflexões amplas e práticas sobre as estruturas de produção e disseminação de conteúdo, bem como de suas implicações sociais, econômicas, morais, psicológicas, políticas e religiosas que impactam cotidianamente na vida de cada um.

 

Esse olhar educomunicativo sobre a realidade é um elemento fundamental para construirmos ecossistemas mais ricos de humanidades, mais solidários com o sofrimento alheio e mais conscientes de que fazemos parte de uma grande casa comum, onde todos devem ser respeitados e acolhidos em igual dignidade.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

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Repensando o mundo digital pós-pandemia

Quarta, 15 Dezembro 2021 01:02 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
“A necessidade de manter o distanciamento social forçou as pessoas a se relacionarem ainda mais por meio das tecnologias eletrônicas e digitais, de forma especial. O contato com o mundo exterior dá-se, cada vez mais, de forma midiatizada pelo celular e seus aplicativos e redes sociais.”    

Se antes do mundo passar pela situação de pandemia já vivíamos imersos nas redes sociais, saturados de informação, com o surgimento da Covid 19 essa realidade se ampliou. A necessidade de manter o distanciamento social forçou as pessoas a se relacionarem ainda mais por meio das tecnologias eletrônicas e digitais e, de forma especial, pelo celular. O contato com o mundo exterior dá-se, cada vez mais, de forma midiatizada pelo celular e seus aplicativos e redes sociais.

 

Segundo o filósofo e escritor Byung-Chul Han, vivemos obcecados por informações, o que nos faz mergulhar em um turbilhão de surpresas que nos tira a tranquilidade e nos enche de ansiedade e instabilidade. De certa forma, a ampla divulgação de informações estatísticas em tempo real criou como que uma necessidade vital de acompanharmos os dados da atualidade. É como se uma ânsia de medo e expectativa tomasse conta de todos, de modo que nossas ações e cotidianidade passaram a ser definidas pelas informações que recebíamos a cada momento.

 

Parece uma dicotomia, mas, quanto mais as pessoas buscam informações sobre o que está acontecendo no mundo, mais se afastam do mundo real. O problema é que toda realidade midiatizada é editável, ou seja, é narrada e contada a partir de pontos de vista específicos. As informações, por mais que sejam dadas em tempo real e tragam dados concretos, passam por um sistema de controle e vigilância que influencia diretamente o comportamento de todas as pessoas.

 

Controle e vigilância

Embora a ideia de controle e vigilância esteja comumente associada à existência de regimes autoritários, também pode manifestar-se de forma vedada e imperceptível pelo viés da liberdade. Neste caso, a manipulação não acontece pela repressão, mas sim pela sedução. As redes sociais funcionam e se proliferam pela atração e sedução; elas oferecem aquilo que a pessoa deseja de maneira ampliada e personalizada, formando nichos e grupos de interesse que se alimentam das próprias visões de mundo, distanciando qualquer forma de pensamento alheio ou contrário.

 

Diante dessa realidade, educadores, pais e pessoas formadoras de opinião precisam tomar consciência das consequências que o mundo midiatizado acarreta. Não significa que tenhamos que deixar de participar das redes sociais, ou banir os celulares do nosso cotidiano, até porque isso seria totalmente impossível no estágio de desenvolvimento que vivemos. Mas é preciso, sim, que se discuta sobre questões como: privacidade de dados, controle, vigilância, desinformação e discurso de ódio.

 

Durante toda a história da humanidade, vimos o surgimento de novas tecnologias que foram mudando as maneiras de nos relacionarmos, de vermos o mundo e também incorporando ou criando novas formas de manipulação, dependência e controle. Isso não é uma situação nova. Porém, é preciso ter presente que as mudanças tecnológicas de hoje se dão num tempo muito rápido; a velocidade com que as novidades surgem, muitas vezes, dificulta a compreensão racional e inibe uma reflexão mais ampla sobre como os aspectos essenciais de nossa vida cotidiana são impactados por essas novas tecnologias.

 

Compreensão crítica

A convivência saudável e consciente nesses ambientes digitais requer de todos nós o esforço de passarmos por um processo de alfabetização midiática e informacional, conforme termo utilizado pela UNESCO para referir-se ao processo de compreensão não apenas técnica, mas também, e principalmente, uma compreensão crítica deste mundo digitalizado que se impõe ao nosso redor.

 

Os nossos ambientes educativos precisam ser espaços de diálogo e compreensão crítica, que tragam presente reflexões amplas e práticas sobre as estruturas de produção e disseminação de conteúdo, bem como de suas implicações sociais, econômicas, morais, psicológicas, políticas e religiosas que impactam cotidianamente na vida de cada um.

 

Esse olhar educomunicativo sobre a realidade é um elemento fundamental para construirmos ecossistemas mais ricos de humanidades, mais solidários com o sofrimento alheio e mais conscientes de que fazemos parte de uma grande casa comum, onde todos devem ser respeitados e acolhidos em igual dignidade.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

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