Os jovens, a fé e o discernimento vocacional – Parte I

Quarta, 29 Novembro 2017 11:52 Escrito por  Pe. Antonio Ramos do Prado, SDB
Os jovens, a fé e o discernimento vocacional – Parte I Foto: Paolla Itagiba
No momento em que o mundo passa por diversas transformações (guerras, terrorismo, extermínio, suicídios, fundamentalismos etc.), o Papa Francisco convoca o episcopado para olhar mais de perto essa realidade.  

A palavra “sínodo” é uma conjunção de termos da língua grega, cujo significado é “fazer juntos”. O Sínodo dos Bispos é convocado pelo Papa para discutir e aprofundar determinados temas; além dos bispos, o Papa pode convidar outras pessoas para participarem como ouvintes. Todos os sínodos têm como objetivo discutir, aprofundar e encaminhar algumas orientações gerais na Igreja.

 

Por que o sínodo sobre e para a juventude?

No momento em que o mundo passa por diversas transformações (guerras, terrorismo, extermínio, suicídios, fundamentalismos etc.), o Papa Francisco convoca o episcopado para olhar mais de perto essa realidade. Na história da humanidade, quando acontecem essas tragédias as crianças, os adolescentes e os jovens são os mais atingidos.

O Papa acredita que o cenário juvenil mundial é de grande risco. Muitos jovens com tendência suicida e outros tantos entram nos grupos radicais fundamentalistas buscando razão para a vida. A sociedade do descartável não traz mais segurança e nem sentido para a vida da juventude.

 

“As coisas podem mudar?”

Na Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia – Polônia (julho 2016), o Papa perguntou para os jovens: “As coisas podem mudar?”. E eles responderam “sim”. A interpretação do Papa foi de que aquele grito nascia do fundo do coração da juventude. Então o Papa motiva a juventude a não desanimar diante das calamidades e desafios que o mundo apresenta hoje.

O sínodo quer ser uma resposta ou uma motivação para que os jovens continuem em pé. Para que os jovens tenham a coragem do Profeta Jeremias, que escutou a voz de Deus: “Não tenhas medo (...) pois estou contigo para defender-te”(Jr 1,8). Também o sínodo quer motivar os bispos a olharem com carinho para essa porção da Igreja. Uma preocupação importante que o sínodo nos provoca é a perspectiva do acompanhamento, pois sabemos que esse é o maior grito dessa geração que é bombardeada de tantas ofertas. Não se pode pensar em um projeto de vida se não há acompanhamento.

 

Os jovens e o mundo hoje

Os temas centrais que serão discutidos no próximo Sínodo dos Bispos são: Os jovens e o mundo de hoje; Fé, discernimento, vocação e Ação pastoral. Cada tema tem os seus desdobramentos.

Quando se fala de um mundo que muda rapidamente, pretende-se chamar a atenção da Igreja para essa realidade na qual os jovens são protagonistas da mudança, mas também vítimas. Muitos jovens não encontram sentido na vida e não têm prazer, nem vontade, de pertencer a grupos que lutam por liberdade, fraternidade e igualdade. Os pontos de referência pessoal e institucional parecem não funcionar mais para essa geração (hiper) conectada, que usa uma linguagem que os adultos desconhecem e com a qual não conseguem interagir. Outra preocupação do sínodo são as escolhas que os jovens fazem, na sua maioria não acertadas, por causa da fluidez das propostas e ao mesmo tempo da insegurança nos processos de escolha.

 

Fé e discernimento

No segundo tema – Fé, discernimento e vocação – o Papa apresenta reflexões importantes para entender o fenômeno juvenil no mundo atual. O Papa emérito Bento XVI lançou o ano da Fé (2012-2013), pois percebeu que a chama está se apagando. Agora nesse sínodo, o Papa Francisco percebe que o mundo contemporâneo exclui a fé e alimenta o ateísmo e o secularismo.

Quando se fala de discernimento, o Papa Francisco aponta “três nascimentos”: o nascimento natural (como homem ou como mulher) em um mundo capaz de escolher e sustentar a vida; o nascimento do batismo, quando alguém se torna filho de Deus por graça; e o nascimento de quando acontece a passagem “do modo de vida corporal para o espiritual”, que abre o exercício maduro da liberdade. O grande desafio para a juventude é perceber esses três processos no cotidiano da vida.

 

Vocação

No que toca à Vocação, o Papa agrega a dimensão da missão, pois todo processo de discernimento vocacional implica acolher a missão que Deus confia a cada um. O tempo é fundamental para uma tomada de decisão e a Bíblia é a fonte primeira que deve iluminar e fundamentar o chamado. É claro que estamos falando dos cristãos que buscam ouvir a voz do Senhor para serem discípulos missionários autênticos. Na sociedade do barulho, onde os jovens estão imersos, se torna difícil ouvir a voz do Senhor, pois são inúmeras vozes e propostas que ofuscam a fé dos jovens e danificam o discernimento.

Aqui se faz necessário o acompanhamento. Aqui também o Papa apresenta três convicções. A primeira é a de que o Espírito de Deus age no coração de cada ser humano. A segunda é a de que o coração humano, por causa da fragilidade e do pecado, se apresenta sempre dividido. A terceira convicção é que no percurso da vida o indivíduo precisa decidir, fazer escolhas, não pode permanecer indiferente.

A terceira temática fundamental do Sínodo dos Bispos – Ação pastoral – será tratada com maior profundidade no próximo artigo.

 

Padre Antonio Ramos do Prado, SDB (Padre Toninho) é assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
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Os jovens, a fé e o discernimento vocacional – Parte I

Quarta, 29 Novembro 2017 11:52 Escrito por  Pe. Antonio Ramos do Prado, SDB
Os jovens, a fé e o discernimento vocacional – Parte I Foto: Paolla Itagiba
No momento em que o mundo passa por diversas transformações (guerras, terrorismo, extermínio, suicídios, fundamentalismos etc.), o Papa Francisco convoca o episcopado para olhar mais de perto essa realidade.  

A palavra “sínodo” é uma conjunção de termos da língua grega, cujo significado é “fazer juntos”. O Sínodo dos Bispos é convocado pelo Papa para discutir e aprofundar determinados temas; além dos bispos, o Papa pode convidar outras pessoas para participarem como ouvintes. Todos os sínodos têm como objetivo discutir, aprofundar e encaminhar algumas orientações gerais na Igreja.

 

Por que o sínodo sobre e para a juventude?

No momento em que o mundo passa por diversas transformações (guerras, terrorismo, extermínio, suicídios, fundamentalismos etc.), o Papa Francisco convoca o episcopado para olhar mais de perto essa realidade. Na história da humanidade, quando acontecem essas tragédias as crianças, os adolescentes e os jovens são os mais atingidos.

O Papa acredita que o cenário juvenil mundial é de grande risco. Muitos jovens com tendência suicida e outros tantos entram nos grupos radicais fundamentalistas buscando razão para a vida. A sociedade do descartável não traz mais segurança e nem sentido para a vida da juventude.

 

“As coisas podem mudar?”

Na Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia – Polônia (julho 2016), o Papa perguntou para os jovens: “As coisas podem mudar?”. E eles responderam “sim”. A interpretação do Papa foi de que aquele grito nascia do fundo do coração da juventude. Então o Papa motiva a juventude a não desanimar diante das calamidades e desafios que o mundo apresenta hoje.

O sínodo quer ser uma resposta ou uma motivação para que os jovens continuem em pé. Para que os jovens tenham a coragem do Profeta Jeremias, que escutou a voz de Deus: “Não tenhas medo (...) pois estou contigo para defender-te”(Jr 1,8). Também o sínodo quer motivar os bispos a olharem com carinho para essa porção da Igreja. Uma preocupação importante que o sínodo nos provoca é a perspectiva do acompanhamento, pois sabemos que esse é o maior grito dessa geração que é bombardeada de tantas ofertas. Não se pode pensar em um projeto de vida se não há acompanhamento.

 

Os jovens e o mundo hoje

Os temas centrais que serão discutidos no próximo Sínodo dos Bispos são: Os jovens e o mundo de hoje; Fé, discernimento, vocação e Ação pastoral. Cada tema tem os seus desdobramentos.

Quando se fala de um mundo que muda rapidamente, pretende-se chamar a atenção da Igreja para essa realidade na qual os jovens são protagonistas da mudança, mas também vítimas. Muitos jovens não encontram sentido na vida e não têm prazer, nem vontade, de pertencer a grupos que lutam por liberdade, fraternidade e igualdade. Os pontos de referência pessoal e institucional parecem não funcionar mais para essa geração (hiper) conectada, que usa uma linguagem que os adultos desconhecem e com a qual não conseguem interagir. Outra preocupação do sínodo são as escolhas que os jovens fazem, na sua maioria não acertadas, por causa da fluidez das propostas e ao mesmo tempo da insegurança nos processos de escolha.

 

Fé e discernimento

No segundo tema – Fé, discernimento e vocação – o Papa apresenta reflexões importantes para entender o fenômeno juvenil no mundo atual. O Papa emérito Bento XVI lançou o ano da Fé (2012-2013), pois percebeu que a chama está se apagando. Agora nesse sínodo, o Papa Francisco percebe que o mundo contemporâneo exclui a fé e alimenta o ateísmo e o secularismo.

Quando se fala de discernimento, o Papa Francisco aponta “três nascimentos”: o nascimento natural (como homem ou como mulher) em um mundo capaz de escolher e sustentar a vida; o nascimento do batismo, quando alguém se torna filho de Deus por graça; e o nascimento de quando acontece a passagem “do modo de vida corporal para o espiritual”, que abre o exercício maduro da liberdade. O grande desafio para a juventude é perceber esses três processos no cotidiano da vida.

 

Vocação

No que toca à Vocação, o Papa agrega a dimensão da missão, pois todo processo de discernimento vocacional implica acolher a missão que Deus confia a cada um. O tempo é fundamental para uma tomada de decisão e a Bíblia é a fonte primeira que deve iluminar e fundamentar o chamado. É claro que estamos falando dos cristãos que buscam ouvir a voz do Senhor para serem discípulos missionários autênticos. Na sociedade do barulho, onde os jovens estão imersos, se torna difícil ouvir a voz do Senhor, pois são inúmeras vozes e propostas que ofuscam a fé dos jovens e danificam o discernimento.

Aqui se faz necessário o acompanhamento. Aqui também o Papa apresenta três convicções. A primeira é a de que o Espírito de Deus age no coração de cada ser humano. A segunda é a de que o coração humano, por causa da fragilidade e do pecado, se apresenta sempre dividido. A terceira convicção é que no percurso da vida o indivíduo precisa decidir, fazer escolhas, não pode permanecer indiferente.

A terceira temática fundamental do Sínodo dos Bispos – Ação pastoral – será tratada com maior profundidade no próximo artigo.

 

Padre Antonio Ramos do Prado, SDB (Padre Toninho) é assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
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