Artigo: Como ler a Bíblia, esse livro diferente?

Terça, 04 Setembro 2018 16:53 Escrito por  Pe. Alcides Pinto da Silva, SDB – Inspetoria Salesiana de Nossa Senhora Auxiliadora
Ela é um livro diferente: foi escrita não por um autor inspirado somente, mas por muitos (de aí a variedade de estilos…); foi escrita quase toda no Oriente, e nós estamos no Ocidente, onde usos e costumes, além da língua, são diferentes; foi escrita ainda num espaço de tempo longo (mais de 1000 anos!).  

Quando a gente se põe a ler os 73 livros da Bíblia, deve levar tudo isso em conta, consciente de que a mensagem bíblica não é parada, estática, mas movimenta-se para a frente, é dinâmica. Ela vai do menos perfeito para o mais perfeito, até mesmo corrigindo passagens dos livros bíblicos anteriores. Usos e costumes que pareciam ser ensinados pela Bíblia e tidos por corretos (como o divórcio, a poligamia, a prostituição, a violência…) vão sendo corrigidos através dos séculos por autores sagrados posteriores. O ponto de chegada é Jesus com sua mensagem.

 

Se o leitor que vai começar sua leitura da Bíblia quer um conselho, leia por primeiro os evangelhos que são o coração da Bíblia e trazem muitas citações do Antigo Testamento (se começar pelos primeiros livros, além do mais, correrá o perigo de se desanimar pelas dificuldades iniciais que encontrará). Uma das maiores dificuldades foi superada para nós quando cada livro da Bíblia foi dividido em capítulos (no séc. XIII, pelo cardeal Estêvão Langton) e em versículos (em 1551, por Roberto Estêvão, tipógrafo de Paris). Vemos, finalmente – e isso é de fundamental importância – que a Bíblia é um livro diferente por ser PALAVRA DE DEUS, como indicam os nomes que a mesma Bíblia se dá (Sagrado Livro, Escrituras Santas, Sagradas Letras, Livros Santos) e, especialmente , as palavras de São Paulo (queira ler 2Timóteo 3,16).

 

É claro que os contemporâneos dos autores sagrados do Antigo e do Novo Testamento, sobretudo judeus, não tinham muitas das dificuldades que temos. Assim, mesmo que a Bíblia tenha sido escrita PARA O POVO (isso é muito importante!), hoje precisamos da ajuda dos especialistas que a traduzem das línguas originais, hebraico-aramaico e grego, e a interpretam com os métodos da moderna ciência bíblica. O resultado das pesquisas feitas vai para as introduções e notas explicativas ao pé da página para cada livro. Queiram conferir isso nas excelentes traduções que possuímos, como a da BÍBLIA DO PEREGRINO (Ed.Paulus), da BÍBLIA TEB (Ed. Loyola), da NOVA TRADUÇÃO PASTORAL (Ed.Paulus) e de outras. Um trabalho original e muito útil foi o da chamada NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE (Ed.Paulinas).

 

Sobretudo para a Liturgia e a Catequese a Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB) lançou a BÍBLIA SAGRADA como tradução oficial. Em geral as traduções são de cunho literal, isto é, “por equivalência formal”, em que se respeita a índole do hebraico/aramaico e do grego, mas hoje são muito valorizadas as bíblias como a lembrada NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE, em que se traduz “por equivalência dinâmica”. Nela se dá importância ao jeito de pensar e agir das populações atuais (Exemplificando: as traduções literais traduzem Lucas 24,13 como no original “60 estádios”; nas traduções por equivalência dinâmica temos exatamente o equivalente “11 quilômetros”). Além das introduções e das notas ao pé da página, temos hoje muitos subsídios para o aprofundamento bíblico pessoal nas nossas editoras católicas Vozes, Paulus, Loyola e outras. Felizes os que se aproveitam de tudo isso. Afinal de contas, se trata da PALAVRA DE DEUS!

 

O título desse artigo começa com “Como ler a Bíblia,…?” Início propriamente a resposta, dando algumas noções e exemplos, a começar pelas lindas palavras de Santo Agostinho, um dos grandes doutores dos primeiros séculos: “Os múltiplos tesouros e a doutrina tão extensa que as Sagradas Escrituras contêm são compreendidos sem nenhum erro e guardados sem nenhuma fadiga por aquele cujo coração está cheio da caridade… Se, então, não tendes tempo de estudar todas as páginas dos Sagrados Escritos, de desprender as verdades divinas do seu misterioso invólucro, de penetrar todos os segredos da Escritura, ligai-vos à caridade que compreende tudo. Possuireis, então, tudo o que aprendestes e também tudo o que ainda não tínheis aprendido neste divino livro…”.

 

Observo que caridade, da qual fala Santo Agostinho, é o amor que o Espírito Santo derramou nos nossos corações, pelo qual amamos a Deus e os nossos irmãos, especialmente os mais necessitados. Mas Santo Agostinho não nos quer dispensar do contato direto com o Livro Santo. Ele mesmo o disse: “Heresias e outras doutrinas erradas surgem quando não se entende direito o que a Bíblia está dizendo”. E seu contemporâneo São Jerônimo, grande estudioso da Bíblia dos primeiros séculos, acrescenta: “IGNORAR AS ESCRITURAS É IGNORAR CRISTO”.

 

Antes de terminar, uma única recomendação: é importante descobrir o sentido literal, isto é, o sentido que o autor sagrado tinha em mente quando escrevia tais palavras. Já foram oferecidas acima diversas dicas para encontrá-lo. Certo? Nós o buscamos com o estudo e a oração. Descoberto o sentido literal, o trazemos para o nosso hoje e o atualizamos. Isso se chama hermenêutica. Como escreveu o biblista jesuíta belga que leciona em Belo Horizonte, Johan Konings: “A hermenêutica amplia, por assim dizer, o sentido original do texto. Tenha-se, porém, o cuidado de permanecer na mesma lógica, no rastro que o texto original abriu”. Noutra ocasião exporemos o que são os sentidos fundamentalista, que não é correto, e o sentido comodatício, que não deve ser recomendado, pois ambos fogem do sentido literal, que é básico.

 

Deu para o leitor compreender como se pode ler esse livro precioso, mas diferente, com grande proveito espiritual? Se sim, louvemos ao Senhor

Fonte: Inspetoria de Nossa Senhora Auxiliadora (Inspetoria Salesiana de São Paulo): www.salesianos.com.br

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Última modificação em Terça, 04 Setembro 2018 16:56

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Artigo: Como ler a Bíblia, esse livro diferente?

Terça, 04 Setembro 2018 16:53 Escrito por  Pe. Alcides Pinto da Silva, SDB – Inspetoria Salesiana de Nossa Senhora Auxiliadora
Ela é um livro diferente: foi escrita não por um autor inspirado somente, mas por muitos (de aí a variedade de estilos…); foi escrita quase toda no Oriente, e nós estamos no Ocidente, onde usos e costumes, além da língua, são diferentes; foi escrita ainda num espaço de tempo longo (mais de 1000 anos!).  

Quando a gente se põe a ler os 73 livros da Bíblia, deve levar tudo isso em conta, consciente de que a mensagem bíblica não é parada, estática, mas movimenta-se para a frente, é dinâmica. Ela vai do menos perfeito para o mais perfeito, até mesmo corrigindo passagens dos livros bíblicos anteriores. Usos e costumes que pareciam ser ensinados pela Bíblia e tidos por corretos (como o divórcio, a poligamia, a prostituição, a violência…) vão sendo corrigidos através dos séculos por autores sagrados posteriores. O ponto de chegada é Jesus com sua mensagem.

 

Se o leitor que vai começar sua leitura da Bíblia quer um conselho, leia por primeiro os evangelhos que são o coração da Bíblia e trazem muitas citações do Antigo Testamento (se começar pelos primeiros livros, além do mais, correrá o perigo de se desanimar pelas dificuldades iniciais que encontrará). Uma das maiores dificuldades foi superada para nós quando cada livro da Bíblia foi dividido em capítulos (no séc. XIII, pelo cardeal Estêvão Langton) e em versículos (em 1551, por Roberto Estêvão, tipógrafo de Paris). Vemos, finalmente – e isso é de fundamental importância – que a Bíblia é um livro diferente por ser PALAVRA DE DEUS, como indicam os nomes que a mesma Bíblia se dá (Sagrado Livro, Escrituras Santas, Sagradas Letras, Livros Santos) e, especialmente , as palavras de São Paulo (queira ler 2Timóteo 3,16).

 

É claro que os contemporâneos dos autores sagrados do Antigo e do Novo Testamento, sobretudo judeus, não tinham muitas das dificuldades que temos. Assim, mesmo que a Bíblia tenha sido escrita PARA O POVO (isso é muito importante!), hoje precisamos da ajuda dos especialistas que a traduzem das línguas originais, hebraico-aramaico e grego, e a interpretam com os métodos da moderna ciência bíblica. O resultado das pesquisas feitas vai para as introduções e notas explicativas ao pé da página para cada livro. Queiram conferir isso nas excelentes traduções que possuímos, como a da BÍBLIA DO PEREGRINO (Ed.Paulus), da BÍBLIA TEB (Ed. Loyola), da NOVA TRADUÇÃO PASTORAL (Ed.Paulus) e de outras. Um trabalho original e muito útil foi o da chamada NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE (Ed.Paulinas).

 

Sobretudo para a Liturgia e a Catequese a Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB) lançou a BÍBLIA SAGRADA como tradução oficial. Em geral as traduções são de cunho literal, isto é, “por equivalência formal”, em que se respeita a índole do hebraico/aramaico e do grego, mas hoje são muito valorizadas as bíblias como a lembrada NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE, em que se traduz “por equivalência dinâmica”. Nela se dá importância ao jeito de pensar e agir das populações atuais (Exemplificando: as traduções literais traduzem Lucas 24,13 como no original “60 estádios”; nas traduções por equivalência dinâmica temos exatamente o equivalente “11 quilômetros”). Além das introduções e das notas ao pé da página, temos hoje muitos subsídios para o aprofundamento bíblico pessoal nas nossas editoras católicas Vozes, Paulus, Loyola e outras. Felizes os que se aproveitam de tudo isso. Afinal de contas, se trata da PALAVRA DE DEUS!

 

O título desse artigo começa com “Como ler a Bíblia,…?” Início propriamente a resposta, dando algumas noções e exemplos, a começar pelas lindas palavras de Santo Agostinho, um dos grandes doutores dos primeiros séculos: “Os múltiplos tesouros e a doutrina tão extensa que as Sagradas Escrituras contêm são compreendidos sem nenhum erro e guardados sem nenhuma fadiga por aquele cujo coração está cheio da caridade… Se, então, não tendes tempo de estudar todas as páginas dos Sagrados Escritos, de desprender as verdades divinas do seu misterioso invólucro, de penetrar todos os segredos da Escritura, ligai-vos à caridade que compreende tudo. Possuireis, então, tudo o que aprendestes e também tudo o que ainda não tínheis aprendido neste divino livro…”.

 

Observo que caridade, da qual fala Santo Agostinho, é o amor que o Espírito Santo derramou nos nossos corações, pelo qual amamos a Deus e os nossos irmãos, especialmente os mais necessitados. Mas Santo Agostinho não nos quer dispensar do contato direto com o Livro Santo. Ele mesmo o disse: “Heresias e outras doutrinas erradas surgem quando não se entende direito o que a Bíblia está dizendo”. E seu contemporâneo São Jerônimo, grande estudioso da Bíblia dos primeiros séculos, acrescenta: “IGNORAR AS ESCRITURAS É IGNORAR CRISTO”.

 

Antes de terminar, uma única recomendação: é importante descobrir o sentido literal, isto é, o sentido que o autor sagrado tinha em mente quando escrevia tais palavras. Já foram oferecidas acima diversas dicas para encontrá-lo. Certo? Nós o buscamos com o estudo e a oração. Descoberto o sentido literal, o trazemos para o nosso hoje e o atualizamos. Isso se chama hermenêutica. Como escreveu o biblista jesuíta belga que leciona em Belo Horizonte, Johan Konings: “A hermenêutica amplia, por assim dizer, o sentido original do texto. Tenha-se, porém, o cuidado de permanecer na mesma lógica, no rastro que o texto original abriu”. Noutra ocasião exporemos o que são os sentidos fundamentalista, que não é correto, e o sentido comodatício, que não deve ser recomendado, pois ambos fogem do sentido literal, que é básico.

 

Deu para o leitor compreender como se pode ler esse livro precioso, mas diferente, com grande proveito espiritual? Se sim, louvemos ao Senhor

Fonte: Inspetoria de Nossa Senhora Auxiliadora (Inspetoria Salesiana de São Paulo): www.salesianos.com.br

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