Na gruta de Belém, onde o frio penetra e o cheiro é o da palha, o impossível acontece: o Infinito faz-se recém-nascido e o Criador decide depender de mãos humanas. É o escândalo da gratuidade — um amor que não exige condições, não mede méritos e se oferece como presente puro.
Essa lógica do dom gratuito é também a raiz dos oratórios salesianos. Quando Dom Bosco encontrou Bartolomeu Garelli, naquele 8 de dezembro de 1841, ele viu, naquele jovem confuso e prestes a ser expulso, a mesma verdade revelada na noite de Belém: ninguém pode ser deixado de fora. O santo aproxima-se, escuta, acolhe e desperta naquele rapaz a alegria de ser valorizado. Desse encontro simples nasce uma obra que se tornaria casa, escola, igreja e pátio para milhões de jovens.
Hoje, os oratórios continuam a ser espaços onde a vida renasce. Como mostram os testemunhos de nossas presenças, eles assumem formas diversas — pátios urbanos, aldeias indígenas, centros sociais —, mas mantêm o mesmo coração: a proximidade que educa, a alegria que integra, a confiança que transforma. Ali, cada jovem encontra alguém disposto a caminhar com ele, a reconhecer seus dons e a oferecer horizontes mais amplos.
O Natal, portanto, não é apenas um acontecimento litúrgico. Ele nos ensina a escolher aproximar-se, acolher, acompanhar. É acreditar que cada história humana, com suas feridas e buscas, pode tornar-se lugar de luz quando encontra alguém que ama gratuitamente. Foi assim com Garelli. É assim com tantos jovens que continuam atravessando a soleira de nossos oratórios.
Somos convidados a revisitar a pergunta que atravessa toda a cena de Belém: “Há lugar para Ele?” Há espaço, em nossas obras, para a mesma gratuidade que marcou Dom Bosco? Para acolher sem excluir, acompanhar sem julgar, servir sem esperar retorno? Para fazer de cada presença salesiana uma verdadeira gruta aberta?
Que este Natal renove em nós o ardor de Dom Bosco e fortaleça nossa missão de criar ambientes onde os jovens se sintam amados, respeitados e acompanhados. Onde a vida cotidiana se torne lugar de encontro com Deus. Onde a esperança cresça como luz na noite.
A toda a Família Salesiana, um Natal de paz e proximidade, e a coragem de manter nossas portas sempre abertas ao Menino Deus e aos jovens que Ele continua a nos confiar.