“O ponto de partida desta situação não é tanto querer entrar ou não na Europa: talvez isto valha para uma minoria que vive nas regiões mais ocidentais. Para a maioria há, entretanto, vontade de respirar liberdade e democracia” – recontam fontes próximas aos salesianos de L’viv, Capital da homônima região (oblast), exatamente uma das mais ocidentais, geográfica e culturalmente .
“Nos dias da revolta pacífica, daqui de L'viv partiam todos os dias carros e ônibus cheios de estudantes para Kiev a fim de participar de manifestações. As escolas salesianas nesses dias se esvaziaram: a comunidade educativa não quis nem pôde impor as aulas…: tal se dava em todas as escolas, universidades, praças (maydan). Havia entre as pessoas uma grande vontade de encontrar-se. E os protagonistas foram, sobretudo, os jovens, os estudantes, que igualmente organizaram festas e eventos para levantar fundos para comprar remédios para os manifestantes feridos, em Kiev”.
A situação atual não é absolutamente nítida. Mas algumas dificuldades já preexistiam à intervenção russa na Crimeia: relacionam-se com a fragilidade do sistema político ucrânio: “Em 2004 houve a assim chamada Revolução Cor Laranja, que tinha o aspecto de uma grande festa: parecia a expectativa por uma primavera para o Estado, capaz de fazer esquecer o passado. Mas deu em nada e isso criou uma grande frustração. (…) Fundamentalmente a democracia na Ucrânia ainda não aconteceu, por causa de dois fatores: a ligação com o passado é ainda muito forte e viva; e depois porque as jovens forças ainda não se formaram, nem tiveram um confronto com sistemas diferentes do soviético”.
Enquanto o futuro do país parece estar em desequilíbrio entre decisões geopolíticas de alcance mundial, a recente realidade ucraniana já demonstrou alguma coisa, isto é, como as religiões podem contribuir para a paz: “A presença de religiosos foi sob todos os aspectos forte: em cada ‘maydan’ , (praça) havia um palco reservado aos sacerdotes, de quaisquer credos, que estavam ali para rezar com a população, a fim de que a revolta mantivesse parâmetros civis e pacíficos. E não se tratava apenas de episódios isolados: às vezes em um palco havia de 8 a 10 sacerdotes. E viu-se também outro caso significativo: sábado passado, um sacerdote passou toda a noite na frente do Consulado russo, paramentado e segurando na mão um ícone, para evitar que houvesse represálias por parte da população ucraniana e que a situação não degenerasse”.
A Crise
A Ucrânia vive um momento de crise política e econômica que vem resultando em frequentes manifestações da população. A crise no país teve início em novembro de 2013, após o governo do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych anunciar que havia abandonado um acordo que estreitaria as relações do país com a União Europeia. A Ucrânia está dividida entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade com a Rússia. No mês de fevereiro, Viktor Yanukovich foi deposto, um governo interino foi empossado e novas eleições foram convocadas. Agora as atenções se voltaram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia de maioria alinhada à Rússia e que convocou um referendo sobre sua soberania. Teme-se que a tensão se espalhe por outras partes da Ucrânia.
InfoANS, com informações Último Segundo e Uol Notícias