Foi São Francisco de Sales quem, no início do século XVII, ousou afirmar isso com clareza inédita em sua célebre Filoteia – Introdução à vida devota. Contra a ideia de que a santidade seria reservada a monges ou eremitas, ele mostrou que é possível ser santo no meio das tarefas, dos compromissos, dos afetos e das distrações do mundo, contanto que tudo seja vivido no amor de Deus.
Para ele, a verdadeira devoção não consiste em fugir do mundo, mas em transformar o mundo com o amor de Cristo. Essa espiritualidade serena, acessível e afetiva encantou São João Bosco, que encontrou em Francisco de Sales o modelo ideal de um evangelizador da juventude: gentil, firme, cheio de zelo e profundamente humano. Por isso, deu seu nome à Congregação Salesiana e à Família espiritual que brotou de Valdocco.
Dom Bosco traduziu essa espiritualidade do amor em gestos concretos: o pátio, o estudo, o teatro, a música, a oração, o trabalho honesto e a alegria, todos como caminhos de santificação. A santidade não era para ele um ideal abstrato, mas uma meta concreta, possível e urgente. Assim dizia aos jovens: “A santidade consiste em estar sempre alegres e cumprir bem os próprios deveres”.
Se Francisco de Sales falava do “êxtase da vida e da ação”, Dom Bosco o viveu nas ruas de Turim, ensinando seus meninos que “Deus nos quer felizes agora e na eternidade”. O mesmo chamado à santidade cotidiana percorre suas vidas: rezar e servir, contemplar e trabalhar, ser dóceis e valentes, cultivar o coração e transformar o mundo.
Ambos nos mostram que a santidade nasce do amor e floresce no cotidiano: num sorriso dado com paciência, numa confissão bem-feita, num serviço feito com generosidade, num momento de silêncio com Deus. Não se trata de viver coisas extraordinárias, mas de viver extraordinariamente o ordinário.
Hoje, à luz do Concílio Vaticano II e das palavras do Papa Francisco em Gaudete et Exsultate, essa proposta continua atual e urgente. Somos chamados a formar comunidades onde santidade, alegria, caridade e compromisso se entrelacem como numa bela sinfonia.
Esta é a proposta que o Boletim Salesiano de agosto preparou para você, leitor, apresentando alguns membros da Família Salesiana que já percorreram esse caminho de santidade, vivendo a espiritualidade salesiana.