Um reencontro que atravessa décadas marca as missões indígenas do Mato Grosso. Entre os dias 18 e 28 de setembro, o casal suíço Christof Hürlliman e sua esposa Ângela percorreu as aldeias da região, revivendo a história de dedicação que conecta a família às comunidades indígenas brasileiras.
Christof é filho de José Hürlliman (in memoriam), um dos fundadores do Projeto Assistência Missionária Ambulante (AMA), departamento da Missão Salesiana de Mato Grosso que oferece suporte técnico aos salesianos que atuam junto aos povos indígenas, especialmente com as etnias Xavante e Boe-Bororo. O projeto foi criado em parceria com os irmãos Würstle, estabelecendo uma ponte duradoura entre a Suíça e as missões brasileiras.
Nos anos 1976-1978, ainda com 22 anos, Christof trabalhou como voluntário no AMA, dedicando-se aos reparos mecânicos de caminhões, ônibus, máquinas e outros equipamentos essenciais para o funcionamento das missões. Após 47 anos vivendo na Suíça, ele retornou ao Brasil acompanhado da esposa, em uma jornada que combina nostalgia, gratidão e renovação dos laços com as comunidades indígenas.
A peregrinação teve início no dia 18 de setembro com a chegada do casal em Cuiabá, MT, onde foram acolhidos no aeroporto pelo mestre Mário Bordignon e pelo diácono José Alves. No dia seguinte, visitaram o Projeto AMA, sendo recebidos pelo mestre Alois Würstle e sua equipe, conhecendo as instalações e os avanços conquistados ao longo das décadas.
Vivência nas aldeias Xavante e Bororo
Os dias 19 e 20 foram dedicados à Terra Indígena Sangradouro, onde o casal vivenciou a hospitalidade da comunidade salesiana, participaram do ritual Pahoriwa na aldeia central e visitaram as aldeias Dom Bosco e São Carlos, mergulhando na rica cultura Xavante.
Em 21 de setembro, a visita se estendeu a Meruri, com participação na santa missa presidida pelo padre João Bosco Maciel. O momento foi especialmente significativo com a visita ao túmulo dos Servos de Deus Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo, figuras emblemáticas da missão salesiana entre os povos indígenas. O casal também conheceu o Centro de Cultura local, importante espaço de preservação das tradições bororo.
Na noite do dia 21 chegaram a São Marcos, permanecendo até a manhã do dia 23. Durante este período, visitaram as aldeias Maria Nossa Mãe e Obra de Maria, além de auxiliarem o diácono na troca de bomba d’água na aldeia Maria Auxiliadora, demonstrando que o espírito colaborativo permanece vivo.
O dia 23 foi reservado para descanso no Distrito Cachoeira da Fumaça, em Novo São Joaquim, oferecendo um momento de contemplação em meio à exuberante natureza mato-grossense.
No dia seguinte, 24, a jornada incluiu uma visita emocionante ao local onde faleceu afogado o diácono Wilton, irmão do Diácono José Alves, seguida de almoço com o grupo Operação Mato Grosso, finalizando com pernoite em Campinápolis.
A etapa final da visita, em Campinápolis, foi marcada por atividades práticas e institucionais. O casal visitou a Casa de Saúde Indígena (CASAI), o Ministério Público e escolas locais, além de realizar manutenção e visitas nas aldeias Santa Rita de Cássia, Corpo de Cristo, Santa Benedita, Hernandares, Maratedewa, Canaã e Betânia.
Memórias, encontros e esperança de continuidade
Esta jornada representa mais do que um simples retorno às origens. É o testemunho vivo de como os laços construídos através do trabalho missionário transcendem fronteiras e gerações, mantendo-se fortes mesmo após décadas de distância. O trabalho dos salesianos, especialmente através do Projeto AMA, continua promovendo ações voltadas à melhoria das condições sanitárias nas aldeias, perpetuando o legado iniciado por José Hürlliman e seus companheiros.
A etapa final da visita, em Campinápolis, foi marcada por atividades práticas e institucionais. O casal visitou a Casa de Saúde Indígena (CASAI), o Ministério Público e escolas locais, além de realizar manutenção e visitas nas aldeias Santa Rita de Cássia, Corpo de Cristo, Santa Benedita, Hernandares, Maratedewa, Canaã e Betânia.
No sábado, dia 27, Christof permaneceu em Cuiabá pela manhã, dedicando-se à elaboração de relatórios sobre a viagem. À tarde, junto com Ângela, conheceu pontos turísticos da Chapada dos Guimarães, como o centro histórico, o mirante e a Casa dos Sonhos. Já à noite, participaram de um encontro no Colégio Santo Antônio, organizado pelos ex-alunos salesianos. Na ocasião, Christof apresentou imagens históricas de sua estadia no Mato Grosso, incluindo fotografias de ônibus, caminhões e máquinas que chegaram da Suíça para a região por meio do Projeto AMA. Muitos ex-alunos se emocionaram ao reviver a memória desse período por meio das imagens.
No domingo, dia 28, o casal participou da santa missa no Santuário Nossa Senhora Auxiliadora. Após a celebração, foram acolhidos pelo padre Thiago Figueiró na casa salesiana, onde foi servido um café da manhã. Na ocasião, o casal recebeu um livro que registra os 130 anos da presença salesiana no Mato Grosso.
Segundo o diácono José Alves, a visita deixou uma forte impressão no casal suíço. “Eles ficaram muito impactados com a realidade das aldeias. Ângela, em especial, manifestou várias vezes a surpresa diante das dificuldades enfrentadas pelas comunidades, como o acesso à água potável, à energia elétrica e à alimentação. Para eles, foi um choque ver de perto essa situação”.
“Como salesiano de Dom Bosco, para mim foi muito importante acompanhar esse casal. Acredito que o Projeto AMA está em um momento de realinhamento e de busca por parcerias que possam fortalecer e dar continuidade ao trabalho. A demanda é real e a missão não terminou. Pelo contrário, continua sendo desafiadora para todos nós. A vinda de Christof e Ângela representa alegria, esperança e a continuidade dessa missão, especialmente pela parceria com a Suíça”, completa.
Durante o percurso, o casal percorreu cerca de 1.300 km, conhecendo missões, aldeias e comunidades ligadas à atuação salesiana. Além disso, ficaram encantados com o trabalho desenvolvido pela Operação Mato Grosso, em especial no internato de Novo São Joaquim e na Aldeia Santa Clara. Nessas localidades, puderam conhecer obras de construção de igrejas, escolas e postos de saúde, práticas que unem ação missionária e caridade.
Força e coragem
O casal também compartilhou sua visão sobre a experiência vivida. Para Christoph Hürlimann, a questão da água foi o ponto que mais chamou a atenção: “água significa vida. Nos últimos dias, durante a visita a várias aldeias, vimos no local o que uma fonte de água significa para os necessitados. Infelizmente, muitos poços já não estão em funcionamento. Para garantir a sobrevivência das comunidades, a manutenção dos poços é vital. Esperamos que o empenho incansável de José Alves seja apoiado pelos responsáveis da Congregação Salesiana, para que ele possa continuar a desenvolver a sua missão. Desejamos a José Alves muita força e coragem para o futuro”.
A esposa, Ângela, também destacou a profundidade da vivência: “nossa aventura nas missões foi muito impressionante e permanecerá como uma experiência inesquecível. Graças a José Alves, pudemos conhecer a realidade nas várias aldeias Xavante. Por um lado, esses indígenas ainda vivem suas tradições, por outro lado, enfrentam os efeitos das mudanças climáticas com a redução da água nos rios e a que existe não deve ser consumida. Felizmente, José se empenha muito e faz o que pode. Poder assistir à renovação de algumas bombas e ver a água jorrar novamente foi uma experiência gratificante. Uma questão que me chamou a atenção foi a questão ambiental. Por isso, penso que não é importante apenas cuidar das almas e do corpo, mas também reduzir os resíduos e reciclá-los. Para terminar, gostaríamos de agradecer a todos aqueles que nos receberam e nos fizeram sentir em casa. Vocês permanecerão em nossos corações”.
A presença do casal suíço nas missões de Mato Grosso reforça os vínculos internacionais da obra salesiana e demonstra como o compromisso com os povos indígenas permanece atual e necessário, conectando passado, presente e futuro em uma única missão de amor e serviço.
Por: Eduarda Victória
Missão Salesiana de Mato Grosso