O Senhor colocou-nos no mundo para os outros

Terça, 01 Dezembro 2020 01:14 Escrito por  Pe. Osmar A. Bezutte, SDB
Cf. Memórias Biográficas, vol. VII, pg. 30-31, em italiano. Este original já foi traduzido para o português e está em vias de publicação.    

As audiências eram para Dom Bosco uma cruz torturante e meritória. Muitas vezes sujeitava-se a um sério desconforto físico: com saúde frágil, com problemas de estômago, sujeito a sérias inflamações, devia continuamente falar forte. Depois de um tempo sentia como que faltar a respiração… Às vezes ficava tão cansado que nem mais se escutava sua voz… Mas ele continuava sua penosa ocupação. O padre José Oreglia SJ, afirmava que se Dom Bosco não tivesse feito outra penitência em sua vida, esta seria suficiente para se declarar a heroicidade da sua virtude.

Realmente a vida de Dom Bosco foi um contínuo dar atenção às pessoas onde quer que se encontrasse. A quem o aconselhava a desistir disso, dizia:

‑ Não é conveniente, não tenho coragem, é gente pobre, muitos vêm de longe. Coitados: ficam tanto tempo na sala de espera, sinto compaixão dele; depois, é uma oportunidade de fazer um pouco de bem.

E não faltava uma brincadeira. Alguém lhe perguntava:

‑ Não tem um jeito para diminuir esse martírio de tantas audiências que na verdade são inúteis?

‑ Oh, sim, dizia. Claro que haveria um meio para libertar-me de tanta gente!

‑ E qual?

‑ Com certeza! Bastaria que eu me fingisse de louco e idiota: as pessoas deixariam de vir! Mas este meio seria reprovável e prejudicial para a nossa Congregação, porque nós precisamos de todos.

Um dia os clérigos exortaram-no a fixar um horário de atendimento para não receber em qualquer momento… Respondia:

‑ Eh! Deus nos colocou neste mundo para os outros.

Por isso recomendava aos seus colaboradores a vida de contínuo sacrifício para o bem do próximo. Exortava-os a não descuidar de atender as pessoas para praticar a caridade…

Falava que deviam ter grande cuidado em não despedir alguém descontente. Dizia ao secretário:

‑ Procure contentar todo mundo, como faz Dom Bosco. Nestas ocasiões, a calma, sem nenhuma aspereza, elimina ou diminui bastante uma impressão desagradável. Mas para conseguir este efeito é necessária uma preparação: oração, madura reflexão, amabilidade, junto com grande paciência e amor à verdade.

No mais, clérigos, padres e alunos recebiam constantes lições práticas de acolhida frutuosa cada vez que iam ao seu aposento conversar com ele.

 

Essa página fala por si. A importância do acolher, ouvir, atender com paciência e sacrifício. Que o digam os especialistas da medicina alternativa e da psicologia, terapeutas em geral, acompanhantes espirituais e confessores… O exemplo de nosso Pai e Mestre é paradigmático!

 

Anselm Grün, em seu livro Reencontrar a própria alegria, nos fala de uma pesquisa americana de 1997 cuja constatação é: pessoas que ajudam outras se sentem mais saudáveis do que outras pessoas da mesma faixa etária; quem ajuda os outros sente em si calor repentino, aumento de energia e sentimento de euforia. Aliás, foi o próprio Senhor Jesus quem disse: Há mais alegria em dar do que em receber.

 

Rubem Alves, em seu famoso texto A Escutatória nos diz: “É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra”.

 

Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).

 

Leia também:

Memórias Biográficas: Lembranças aos jovens II

O Sistema Preventivo e a promoção dos Direitos Humanos

Como Dom Bosco “pescava” os jovens

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O Senhor colocou-nos no mundo para os outros

Terça, 01 Dezembro 2020 01:14 Escrito por  Pe. Osmar A. Bezutte, SDB
Cf. Memórias Biográficas, vol. VII, pg. 30-31, em italiano. Este original já foi traduzido para o português e está em vias de publicação.    

As audiências eram para Dom Bosco uma cruz torturante e meritória. Muitas vezes sujeitava-se a um sério desconforto físico: com saúde frágil, com problemas de estômago, sujeito a sérias inflamações, devia continuamente falar forte. Depois de um tempo sentia como que faltar a respiração… Às vezes ficava tão cansado que nem mais se escutava sua voz… Mas ele continuava sua penosa ocupação. O padre José Oreglia SJ, afirmava que se Dom Bosco não tivesse feito outra penitência em sua vida, esta seria suficiente para se declarar a heroicidade da sua virtude.

Realmente a vida de Dom Bosco foi um contínuo dar atenção às pessoas onde quer que se encontrasse. A quem o aconselhava a desistir disso, dizia:

‑ Não é conveniente, não tenho coragem, é gente pobre, muitos vêm de longe. Coitados: ficam tanto tempo na sala de espera, sinto compaixão dele; depois, é uma oportunidade de fazer um pouco de bem.

E não faltava uma brincadeira. Alguém lhe perguntava:

‑ Não tem um jeito para diminuir esse martírio de tantas audiências que na verdade são inúteis?

‑ Oh, sim, dizia. Claro que haveria um meio para libertar-me de tanta gente!

‑ E qual?

‑ Com certeza! Bastaria que eu me fingisse de louco e idiota: as pessoas deixariam de vir! Mas este meio seria reprovável e prejudicial para a nossa Congregação, porque nós precisamos de todos.

Um dia os clérigos exortaram-no a fixar um horário de atendimento para não receber em qualquer momento… Respondia:

‑ Eh! Deus nos colocou neste mundo para os outros.

Por isso recomendava aos seus colaboradores a vida de contínuo sacrifício para o bem do próximo. Exortava-os a não descuidar de atender as pessoas para praticar a caridade…

Falava que deviam ter grande cuidado em não despedir alguém descontente. Dizia ao secretário:

‑ Procure contentar todo mundo, como faz Dom Bosco. Nestas ocasiões, a calma, sem nenhuma aspereza, elimina ou diminui bastante uma impressão desagradável. Mas para conseguir este efeito é necessária uma preparação: oração, madura reflexão, amabilidade, junto com grande paciência e amor à verdade.

No mais, clérigos, padres e alunos recebiam constantes lições práticas de acolhida frutuosa cada vez que iam ao seu aposento conversar com ele.

 

Essa página fala por si. A importância do acolher, ouvir, atender com paciência e sacrifício. Que o digam os especialistas da medicina alternativa e da psicologia, terapeutas em geral, acompanhantes espirituais e confessores… O exemplo de nosso Pai e Mestre é paradigmático!

 

Anselm Grün, em seu livro Reencontrar a própria alegria, nos fala de uma pesquisa americana de 1997 cuja constatação é: pessoas que ajudam outras se sentem mais saudáveis do que outras pessoas da mesma faixa etária; quem ajuda os outros sente em si calor repentino, aumento de energia e sentimento de euforia. Aliás, foi o próprio Senhor Jesus quem disse: Há mais alegria em dar do que em receber.

 

Rubem Alves, em seu famoso texto A Escutatória nos diz: “É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra”.

 

Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).

 

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