Pais e filhos: decálogo da disciplina

Domingo, 24 Novembro 2013 22:48 Escrito por  Bruno Ferrero
A palavra disciplina não significa a imposição de castigos, mas sim um aprendizado que se fundamenta no exemplo, no amor e na confiança.   A coisa mais importante que pais e mães podem ensinar a seus filhos, depois do amor, é a disciplina. A palavra disciplina quer dizer simplesmente ensino. E, portanto, nada tem a ver com a ideia de “castigos e penitências”. Apresento assim, abaixo, dez reflexões simples sobre a disciplina:

1 - A disciplina se aprende mais com os olhos que com os ouvidos. Não se faz com sermões. Os pais não devem se esquecer nunca de que eles são exatamente o modelo e o espelho para tudo que pedem a seus filhos. Têm de expressar uma autoridade que derive de sua credibilidade pessoal. Não quer dizer que tenham de ser perfeitos, mas sim que estejam em atenção permanente para dar seu testemunho consciente às questões que fundamentam o conhecimento humano.

2 – A disciplina nasce do amor. Só pode pretender receber muito quem também se doa muito. Toda aprendizagem, inclusive a dos limites e estruturas, começa pela presença, da qual a criança aprende a confiança, o calor, a intimidade e o vínculo afetivo nas relações com aqueles que a rodeiam. As crianças buscam a felicidade: amam aos que se dedicam a elas e querem sua aprovação e respeito. Se a disciplina é considerada um aprendizado, e se é transmitida com afeto, atenção e dedicação, as crianças se sentirão bem ao ter de cumpri-la. Saber ser luz para os olhos de outros é uma sensação que traz realização e infunde o amor.

3 – Como todas as formas de aprendizado, a disciplina é uma tarefa de longo prazo. Apelar para castigos só traz a ilusão de alcançar esse aprendizado. Trata-se de construir uma estrutura, e para isso se exige muito trabalho. Os pais têm de aproveitar cada oportunidade que tenham para se sentar junto aos filhos e lhes dizer: “Quando você se comportar dessa maneira, vou ter sempre de repreendê-lo, até que aprenda a ser responsável e agir bem por si mesmo”.

4 – O pai e a mãe precisam trabalhar juntos, em equipe. Isso só vai acontecer se cultivarem entre si a intimidade, o afeto e a compreensão. Muitos pais não se preocupam com seus filhos porque estão mais preocupados consigo mesmos.

5 – A disciplina não é uma guerra. Não há vencedores, muito menos vencidos. É necessário fazer o maior esforço possível para que as regras sejam construídas entre todos e sejam respeitadas por todos. Os filhos estarão mais dispostos a aceitar aquilo que contribuíram para elaborar. Principalmente se tiverem consciência da ideia básica de que cada forma de convivência necessita de uma “plataforma” que lhe dê sentido, coerência e coesão, para que se possa viver em comunidade.

6 – A boa disciplina é preventiva. As regras têm de estar claramente definidas e combinadas. Os pais têm de ser claros e precisos, porque a disciplina é fonte de segurança. Têm de decidir com antecedência as condutas que querem que seus filhos mudem, e ser concretos com eles. Não serve para nada dizer a uma criança que ela precisa ser mais ordeira. É necessário explicar a ela que deve recolher e guardar seus brinquedos antes de sair. Explicar exatamente o que se quer e demonstrar como fazer. Precisam também aplaudir os comportamentos corretos e parabenizar os filhos quando se comportam bem.

7 – À medida que crescem, os filhos precisam ir aprendendo, compreendendo e aceitando os limites. O “não” precisa animar a relação mais que provocar o isolamento. Por isso faz-se necessário que os filhos participem da discussão. Antes, e não depois do “não” de seus pais. Vem em seguida o “por quê?” dos filhos. E eles têm direito a receber uma resposta. É necessário ainda compreender a personalidade e o temperamento de cada filho; em certo sentido, os limites devem ser feitos “sob medida”. Respeitar as necessidades e os desejos dos filhos é algo essencial.

Pais e mães precisam aprender a descobrir as diferenças entre as necessidades e os caprichos. Do ponto de vista da criança, os limites podem significar restrições e gerar mal-estar e tristeza; mas podem significar também as portas que os protegem e ajudam a se sentirem seguros.

8 – Os limites ajudam a definir personalidades fortes. Se os pais satisfazem cada capricho dos filhos, as crianças vão crescer frágeis e serão cada vez mais incapazes de suportar as frustrações. Os pais que, com a melhor das intenções, procuram evitar que os filhos tenham qualquer tipo de sofrimento podem na realidade privá-los de desenvolver capacidades para enfrentar as dificuldades.

9 – Os limites ajudam a desenvolver as próprias capacidades. A criança que quer chamar a atenção, que pede um determinado brinquedo ou que quer fazer algo e precisa esperar ou renunciar, aprende também a ser flexível e paciente, a buscar alternativas, a ser criativa, todas qualidades que serão muito úteis em sua vida. Isso estimula a criança a utilizar seus próprios recursos. Isso, claro, quando o “não” está em um contexto de razoabilidade e não produza desesperança.

10 – As regras devem ter sempre consequências. É importante que as consequências estejam bem determinadas, sempre com coerência e antes de que a regra seja desrespeitada. Se a criança reconhece que a regra é justa, com certeza não se rebelará quando seus pais a fizerem aplicar. Como em todas as coisas da vida, as regras não podem ir contra as necessidades e os desejos das pessoas.

 

Fonte: Boletín Salesiano Centro América – setembro 2013.

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Pais e filhos: decálogo da disciplina

Domingo, 24 Novembro 2013 22:48 Escrito por  Bruno Ferrero
A palavra disciplina não significa a imposição de castigos, mas sim um aprendizado que se fundamenta no exemplo, no amor e na confiança.   A coisa mais importante que pais e mães podem ensinar a seus filhos, depois do amor, é a disciplina. A palavra disciplina quer dizer simplesmente ensino. E, portanto, nada tem a ver com a ideia de “castigos e penitências”. Apresento assim, abaixo, dez reflexões simples sobre a disciplina:

1 - A disciplina se aprende mais com os olhos que com os ouvidos. Não se faz com sermões. Os pais não devem se esquecer nunca de que eles são exatamente o modelo e o espelho para tudo que pedem a seus filhos. Têm de expressar uma autoridade que derive de sua credibilidade pessoal. Não quer dizer que tenham de ser perfeitos, mas sim que estejam em atenção permanente para dar seu testemunho consciente às questões que fundamentam o conhecimento humano.

2 – A disciplina nasce do amor. Só pode pretender receber muito quem também se doa muito. Toda aprendizagem, inclusive a dos limites e estruturas, começa pela presença, da qual a criança aprende a confiança, o calor, a intimidade e o vínculo afetivo nas relações com aqueles que a rodeiam. As crianças buscam a felicidade: amam aos que se dedicam a elas e querem sua aprovação e respeito. Se a disciplina é considerada um aprendizado, e se é transmitida com afeto, atenção e dedicação, as crianças se sentirão bem ao ter de cumpri-la. Saber ser luz para os olhos de outros é uma sensação que traz realização e infunde o amor.

3 – Como todas as formas de aprendizado, a disciplina é uma tarefa de longo prazo. Apelar para castigos só traz a ilusão de alcançar esse aprendizado. Trata-se de construir uma estrutura, e para isso se exige muito trabalho. Os pais têm de aproveitar cada oportunidade que tenham para se sentar junto aos filhos e lhes dizer: “Quando você se comportar dessa maneira, vou ter sempre de repreendê-lo, até que aprenda a ser responsável e agir bem por si mesmo”.

4 – O pai e a mãe precisam trabalhar juntos, em equipe. Isso só vai acontecer se cultivarem entre si a intimidade, o afeto e a compreensão. Muitos pais não se preocupam com seus filhos porque estão mais preocupados consigo mesmos.

5 – A disciplina não é uma guerra. Não há vencedores, muito menos vencidos. É necessário fazer o maior esforço possível para que as regras sejam construídas entre todos e sejam respeitadas por todos. Os filhos estarão mais dispostos a aceitar aquilo que contribuíram para elaborar. Principalmente se tiverem consciência da ideia básica de que cada forma de convivência necessita de uma “plataforma” que lhe dê sentido, coerência e coesão, para que se possa viver em comunidade.

6 – A boa disciplina é preventiva. As regras têm de estar claramente definidas e combinadas. Os pais têm de ser claros e precisos, porque a disciplina é fonte de segurança. Têm de decidir com antecedência as condutas que querem que seus filhos mudem, e ser concretos com eles. Não serve para nada dizer a uma criança que ela precisa ser mais ordeira. É necessário explicar a ela que deve recolher e guardar seus brinquedos antes de sair. Explicar exatamente o que se quer e demonstrar como fazer. Precisam também aplaudir os comportamentos corretos e parabenizar os filhos quando se comportam bem.

7 – À medida que crescem, os filhos precisam ir aprendendo, compreendendo e aceitando os limites. O “não” precisa animar a relação mais que provocar o isolamento. Por isso faz-se necessário que os filhos participem da discussão. Antes, e não depois do “não” de seus pais. Vem em seguida o “por quê?” dos filhos. E eles têm direito a receber uma resposta. É necessário ainda compreender a personalidade e o temperamento de cada filho; em certo sentido, os limites devem ser feitos “sob medida”. Respeitar as necessidades e os desejos dos filhos é algo essencial.

Pais e mães precisam aprender a descobrir as diferenças entre as necessidades e os caprichos. Do ponto de vista da criança, os limites podem significar restrições e gerar mal-estar e tristeza; mas podem significar também as portas que os protegem e ajudam a se sentirem seguros.

8 – Os limites ajudam a definir personalidades fortes. Se os pais satisfazem cada capricho dos filhos, as crianças vão crescer frágeis e serão cada vez mais incapazes de suportar as frustrações. Os pais que, com a melhor das intenções, procuram evitar que os filhos tenham qualquer tipo de sofrimento podem na realidade privá-los de desenvolver capacidades para enfrentar as dificuldades.

9 – Os limites ajudam a desenvolver as próprias capacidades. A criança que quer chamar a atenção, que pede um determinado brinquedo ou que quer fazer algo e precisa esperar ou renunciar, aprende também a ser flexível e paciente, a buscar alternativas, a ser criativa, todas qualidades que serão muito úteis em sua vida. Isso estimula a criança a utilizar seus próprios recursos. Isso, claro, quando o “não” está em um contexto de razoabilidade e não produza desesperança.

10 – As regras devem ter sempre consequências. É importante que as consequências estejam bem determinadas, sempre com coerência e antes de que a regra seja desrespeitada. Se a criança reconhece que a regra é justa, com certeza não se rebelará quando seus pais a fizerem aplicar. Como em todas as coisas da vida, as regras não podem ir contra as necessidades e os desejos das pessoas.

 

Fonte: Boletín Salesiano Centro América – setembro 2013.

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