"O ótimo é inimigo do bom"

Quinta, 07 Mai 2015 13:42 Escrito por 
Esta expressão não é de Dom Bosco, mas poderia ser atribuída a ele porque era uma de suas premissas. Pode ser entendida como contentar-se com a média, e não buscar a perfeição no que se faz. Mas esta não é a interpretação dada por Dom Bosco.

Nosso pai e mestre, Dom Bosco, começou para valer sua presença entre os jovens a partir de 1841. Por quase 50 anos, entregou sua vida e se consumiu convivendo diuturnamente com crianças, adolescentes e jovens. Dom Bosco costumava dividir os jovens que frequentavam seu oratório em Valdocco em três categorias: os bons, os dissipados e os rebeldes.

A expressão “o ótimo é inimigo do bom” está ligada a essa visão e classificação. A medida da excelência e da qualidade em educação não é a mesma para os bons e para os dissipados. Cada um tem sua medida. As ciências da educação, hoje, admitem que cada pessoa tem um tipo de inteligência predominante. O pesquisador norte-americano Gardner diz que existem sete inteligências. São as inteligências múltiplas. Cada pessoa tem todas essas inteligências em diversos graus, mas uma delas prevalece sobre as outras.

 

A ideologia do dom

Outro pedagogo, o suíço Perrenoud, afirma que em educação, ainda hoje prevalece a ideologia do dom. Por isso entende-se que haja pessoas que nasceram para dar certo e outras que nasceram para dar errado. Os professores, os pais, as pessoas em geral, explicam fracassos e sucessos como dom: “Não nasceu para isso” significando “não nasceu para coisa alguma”.

Na verdade, cada pessoa nasceu para dar certo e cada uma delas tem seu dom. Além do mais, a educação existe para extrair todas as possibilidades que cada pessoa carrega em si. Aliás, a palavra educar vem do verbo latino ex-ducere, que é uma palavra composta. O radical 'ducere' significa tirar e o prefixo ex- significapara fora. Pegando a palavra educar ao pé da letra, ela significa tirar para fora, fazer desabrochar. Assim, educar é possibilitar que cada pessoa seja tudo o que ela pode ser.

 

Razões para viver e para sonhar

Para Dom Bosco, cada criança, cada adolescente e cada jovem têm suas possibilidades que são diferentes de outros. Mas têm... Não se podem tratar os diferentes de forma igual. O oratório salesiano é para todos e respeita a caminhada de todos. No entanto, a educação não pode oferecer o mínimo para as pessoas. Cada pessoa tem sua fonte inesgotável de superação. O importante é dar-lhe motivações e horizontes amplos. Toda pessoa precisa ter grandes razões para viver e para sonhar. São as utopias. A utopia é maior que a realidade. Minha vida não é só o que sou. É muito maior que isto. Por isso, a cada dia vou-me superando, avançando e abrindo novos horizontes de vida e de atuação.

Dom Bosco tinha clareza que nem todos os adolescentes e jovens que viviam em seu oratório eram chamados a ser Domingos Sávio. Este atingiu a excelência da virtude e hoje é o único santo adolescente não mártir da Igreja Católica. A maioria, por causa do ambiente sadio do oratório, se constituiu em ótimos pais de família e respeitáveis cidadãos.

 

Um caso exemplar

Conta-se que a irmã do padre José Cafasso, que era confessor e guia espiritual de Dom Bosco, queria colocar seu filho José no oratório de Dom Bosco. Foi aconselhar-se com o irmão e este lhe disse para não colocá-lo no oratório porque não era organizado, uma vez que aceitava a todos indistintamente. A mãe de José Allamano não seguiu o conselho do irmão. Aí ele cresceu nesse ambiente heterogêneo e desenvolveu suas potencialidades. Dom Bosco mostrou-lhe horizontes para sua vida cristã, onde cultivou seu ideal missionário. O jovem tornou-se padre e fundou a Congregação dos Missionários da Consolata. Hoje é beato da Igreja Católica. Quase santo declarado.

Aliás, é impressionante o número de jovens que estudaram ou se formaram na escola de Dom Bosco e que hoje são figuras eminentes na Igreja Católica. Citamos apenas alguns: Beato José Allamano, fundador do Instituto Missões Consolata; São Luis Guanella, Fundador dos Servos da Caridade e do Instituto das Filhas de Santa Maria da Providência; São Luís Orioni, fundador da Pequena Obra da Divina Providência; Beato Miguel Rua, primeiro sucessor de Dom Bosco; Beato Felipe Rinaldi, terceiro sucessor de Dom Bosco, Domingos Sávio... Isto sem falar de Santa Maria Domingas Mazzarello...

 

"As obras de Deus acontecem aos poucos"

"O ótimo é inimigo do bom" é isto. Apresentar a medida certa para cada adolescente e jovem. Nem todos serão Domingos Sávio ou José Allamano, mas todos poderão ser bons cristãos e honestos cidadãos. Muitos jovens chegaram ao oratório de Dom Bosco órfãos ou com suas famílias despedaçadas e, por meio da espiritualidade que aí era vivida, conseguiram formar uma família e educar seus filhos de forma honesta, digna e justa. A defesa e a promoção da dignidade da família fazem parte essencial da missão salesiana.

Dom Bosco gostava de fazer as coisas bem feitas, mas nunca foi um perfeccionista. Tolerava, com bondade e paciência, a exuberância juvenil dos seus colaboradores, satisfeito de ver neles o espírito de verdadeira piedade, o amor ao trabalho, a moralidade a toda prova. Ninguém mais que ele estava convencido de que as coisas não nascem perfeitas: se tornam assim com o tempo.

“As obras de Deus geralmente acontecem aos poucos”, dizia. Os fatos lhe davam razão: em geral os seus empreendimentos começavam na desordem e terminavam na ordem. Ao padre Bonetti, que desejava que no seu colégio tudo fosse perfeito, Dom Bosco escreveu:“Buscamos o ótimo, entretanto em meio a muito mal, devemos nos contentar com o mediano”. Na realidade, Dom Bosco era extraordinário no ordinário da vida.

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Última modificação em Terça, 30 Junho 2015 14:48

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"O ótimo é inimigo do bom"

Quinta, 07 Mai 2015 13:42 Escrito por 
Esta expressão não é de Dom Bosco, mas poderia ser atribuída a ele porque era uma de suas premissas. Pode ser entendida como contentar-se com a média, e não buscar a perfeição no que se faz. Mas esta não é a interpretação dada por Dom Bosco.

Nosso pai e mestre, Dom Bosco, começou para valer sua presença entre os jovens a partir de 1841. Por quase 50 anos, entregou sua vida e se consumiu convivendo diuturnamente com crianças, adolescentes e jovens. Dom Bosco costumava dividir os jovens que frequentavam seu oratório em Valdocco em três categorias: os bons, os dissipados e os rebeldes.

A expressão “o ótimo é inimigo do bom” está ligada a essa visão e classificação. A medida da excelência e da qualidade em educação não é a mesma para os bons e para os dissipados. Cada um tem sua medida. As ciências da educação, hoje, admitem que cada pessoa tem um tipo de inteligência predominante. O pesquisador norte-americano Gardner diz que existem sete inteligências. São as inteligências múltiplas. Cada pessoa tem todas essas inteligências em diversos graus, mas uma delas prevalece sobre as outras.

 

A ideologia do dom

Outro pedagogo, o suíço Perrenoud, afirma que em educação, ainda hoje prevalece a ideologia do dom. Por isso entende-se que haja pessoas que nasceram para dar certo e outras que nasceram para dar errado. Os professores, os pais, as pessoas em geral, explicam fracassos e sucessos como dom: “Não nasceu para isso” significando “não nasceu para coisa alguma”.

Na verdade, cada pessoa nasceu para dar certo e cada uma delas tem seu dom. Além do mais, a educação existe para extrair todas as possibilidades que cada pessoa carrega em si. Aliás, a palavra educar vem do verbo latino ex-ducere, que é uma palavra composta. O radical 'ducere' significa tirar e o prefixo ex- significapara fora. Pegando a palavra educar ao pé da letra, ela significa tirar para fora, fazer desabrochar. Assim, educar é possibilitar que cada pessoa seja tudo o que ela pode ser.

 

Razões para viver e para sonhar

Para Dom Bosco, cada criança, cada adolescente e cada jovem têm suas possibilidades que são diferentes de outros. Mas têm... Não se podem tratar os diferentes de forma igual. O oratório salesiano é para todos e respeita a caminhada de todos. No entanto, a educação não pode oferecer o mínimo para as pessoas. Cada pessoa tem sua fonte inesgotável de superação. O importante é dar-lhe motivações e horizontes amplos. Toda pessoa precisa ter grandes razões para viver e para sonhar. São as utopias. A utopia é maior que a realidade. Minha vida não é só o que sou. É muito maior que isto. Por isso, a cada dia vou-me superando, avançando e abrindo novos horizontes de vida e de atuação.

Dom Bosco tinha clareza que nem todos os adolescentes e jovens que viviam em seu oratório eram chamados a ser Domingos Sávio. Este atingiu a excelência da virtude e hoje é o único santo adolescente não mártir da Igreja Católica. A maioria, por causa do ambiente sadio do oratório, se constituiu em ótimos pais de família e respeitáveis cidadãos.

 

Um caso exemplar

Conta-se que a irmã do padre José Cafasso, que era confessor e guia espiritual de Dom Bosco, queria colocar seu filho José no oratório de Dom Bosco. Foi aconselhar-se com o irmão e este lhe disse para não colocá-lo no oratório porque não era organizado, uma vez que aceitava a todos indistintamente. A mãe de José Allamano não seguiu o conselho do irmão. Aí ele cresceu nesse ambiente heterogêneo e desenvolveu suas potencialidades. Dom Bosco mostrou-lhe horizontes para sua vida cristã, onde cultivou seu ideal missionário. O jovem tornou-se padre e fundou a Congregação dos Missionários da Consolata. Hoje é beato da Igreja Católica. Quase santo declarado.

Aliás, é impressionante o número de jovens que estudaram ou se formaram na escola de Dom Bosco e que hoje são figuras eminentes na Igreja Católica. Citamos apenas alguns: Beato José Allamano, fundador do Instituto Missões Consolata; São Luis Guanella, Fundador dos Servos da Caridade e do Instituto das Filhas de Santa Maria da Providência; São Luís Orioni, fundador da Pequena Obra da Divina Providência; Beato Miguel Rua, primeiro sucessor de Dom Bosco; Beato Felipe Rinaldi, terceiro sucessor de Dom Bosco, Domingos Sávio... Isto sem falar de Santa Maria Domingas Mazzarello...

 

"As obras de Deus acontecem aos poucos"

"O ótimo é inimigo do bom" é isto. Apresentar a medida certa para cada adolescente e jovem. Nem todos serão Domingos Sávio ou José Allamano, mas todos poderão ser bons cristãos e honestos cidadãos. Muitos jovens chegaram ao oratório de Dom Bosco órfãos ou com suas famílias despedaçadas e, por meio da espiritualidade que aí era vivida, conseguiram formar uma família e educar seus filhos de forma honesta, digna e justa. A defesa e a promoção da dignidade da família fazem parte essencial da missão salesiana.

Dom Bosco gostava de fazer as coisas bem feitas, mas nunca foi um perfeccionista. Tolerava, com bondade e paciência, a exuberância juvenil dos seus colaboradores, satisfeito de ver neles o espírito de verdadeira piedade, o amor ao trabalho, a moralidade a toda prova. Ninguém mais que ele estava convencido de que as coisas não nascem perfeitas: se tornam assim com o tempo.

“As obras de Deus geralmente acontecem aos poucos”, dizia. Os fatos lhe davam razão: em geral os seus empreendimentos começavam na desordem e terminavam na ordem. Ao padre Bonetti, que desejava que no seu colégio tudo fosse perfeito, Dom Bosco escreveu:“Buscamos o ótimo, entretanto em meio a muito mal, devemos nos contentar com o mediano”. Na realidade, Dom Bosco era extraordinário no ordinário da vida.

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