Passo e compasso salesiano

Sexta, 02 Setembro 2016 13:55 Escrito por  Sandra de Angelis e Camila Santos
Resgatar a expressão da alegria é um desafio dos ambientes salesianos, dos “pátios” criados por Dom Bosco há quase 200 anos.

Uma das atividades mais importantes de qualquer ambiente salesiano é a dança, quando o desafio é incluir a criança e o jovem, estimular a alegria inata de cada um e desenvolver sua autoestima. No Brasil, as experiências de inclusão por meio de música e dança no contexto salesiano colecionam inúmeros relatos, tanto de educadores como de educandos.

Allan Back é professor de hip-hop no Parque Dom Bosco, em Itajaí, SC, e sua paixão e dedicação aos alunos têm dado resultados valiosos. “Quando cheguei por aqui, em fevereiro de 2014, eu não tinha noção de como atender a estas crianças que vivem em situação tão delicada. Talvez se eu já chegasse com uma Bíblia na mão eu os intimidasse muito. Se eu chegasse falando de educação pareceria um militar. Então arrisquei dançar com eles”, recorda.

Distante mais de 100 anos de Dom Bosco, o jovem professor refletiu tal como o santo, face ao desafio de incluir jovens em direção ao caminho do bem. “São dois os sistemas até hoje usados na educação da juventude: o Preventivo e o Repressivo”, afirmava Dom Bosco. O Sistema Repressivo consistia em fazer com que a lei fosse conhecida e em punir aqueles que a desobedecessem. “Nesse sistema, as palavras e o semblante do superior devem constantemente ser severos e até ameaçadores, e ele próprio deve evitar toda a familiaridade com os dependentes”. Já o Sistema Preventivo, defendido por Dom Bosco, era baseado no amor, na confiança, na educação como forma de prevenir os maus caminhos. Neste sistema, o educador deveria estar junto com o jovem, no pátio e nas atividades de lazer e cultura, pois esses ambientes faziam parte da proposta educativa.

 

Inclusão cadenciada

Allan Back trabalha com dança há 10 anos e há seis, como professor e coreógrafo. “Em 2006, eu comecei a dançar com um grupo em Itajaí, com danças urbanas como o hip-hop. Eu já conhecia o Parque Dom Bosco, e há três anos dava aulas de forma parcial. A professora Elisângela Cândido, que é coordenadora dos cursos de Jovem Aprendiz, me fez um convite para atuar no projeto”, recorda.

Outro projeto dedicado à dança é o do Grupo de Dança Salesiano de Poxoréu, MT, conduzido pelo professor Douglas Souza. O jovem tem formação em jazz e faz ballet há quatro anos. O projeto conta com cerca de 100 alunos, o que exigiu que fossem distribuídos em vários grupos. Ballet clássico, jazz, dança de salão, contemporâneo e street dance são as modalidades aplicadas, mas o resultado é sempre um sucesso quando se pretende incluir crianças e jovens por meio da dança.

“Quando eu cheguei ao Centro Juvenil, os alunos não tinham nenhuma base de dança. Eles eram crus, só sabiam dançar axé e catira, dança típica regional que mistura influências indígenas, europeias e africanas. Eu via talento neles, mas não via técnica”, relembra Douglas. “Eu comecei a ensinar cada passinho para que eles tivessem ciência de cada movimento que estava sendo executado. Até então, eles não sabiam quão grande era a dança”, completa.

O encantamento despertado por meio das aulas de dança, entretanto, é muito mais surpreendente para os alunos, que respondem com entusiasmo. Sarah Dayane da Silva Varias tem 11 anos e participa das aulas de hip-hop em Itajaí há três. Pelo fato de seu pai ter sido dançarino, a pequena mostra familiaridade com a dança. “Aprendi vários passos e movimentos de chão. Nas aulas, a gente ajuda uns aos outros para aprender, e claro que usamos isso depois, na sala de aula e em casa também”, ressalta.

Sarah também conta, entusiasmada, que o grupo já ganhou sua primeira competição, em julho de 2015. “Muito bom realizar um sonho e conseguir atingir nossos objetivos”. Larissa Ferreira Peixer, 11 anos, vai além: “Há três anos eu pensava que nunca iria dançar, mas um dia fui convidada para participar de um programa de TV junto com o grupo. Sabe de uma coisa? Descobri que fui feita para dançar! Quero ser profissional de dança, é um sonho que eu quero realizar...”

 

Pedagogia da vida

Nesses dois contextos, de diferentes realidades regionais brasileiras, um ponto comum que une os dois professores está no cerne da amorevolezza salesiana. “Nós sabemos que somos todos educadores e que a conjugação dos verbos ‘educar’ e ‘evangelizar’ tem dois tempos primordiais: o gerúndio e o infinitivo – educar evangelizando e evangelizar educando”, afirma Allan. “Antes dos ensaios ou subida nos palcos, a oração é o que nos levanta, aumenta nossa união e fortalece nossa amizade e fé”.

Para Douglas Souza, o preparo para os desafios da vida está nas aulas que ministra. “O que eu faço com o auxílio da dança é preparar os meus alunos para a vida, para que eles sejam respeitados onde quer que eles cheguem. Eles são lindos dançando e impressionam as pessoas que os assistem. Então o meu trabalho é prepará-los para que eles sejam bons, mas também que não se sintam superiores”, considera o educador. “Espero que eles saibam do seu valor, que permaneçam na linha do respeito mútuo, nem a mais nem a menos”, finaliza.

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Última modificação em Sexta, 02 Setembro 2016 15:36

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Passo e compasso salesiano

Sexta, 02 Setembro 2016 13:55 Escrito por  Sandra de Angelis e Camila Santos
Resgatar a expressão da alegria é um desafio dos ambientes salesianos, dos “pátios” criados por Dom Bosco há quase 200 anos.

Uma das atividades mais importantes de qualquer ambiente salesiano é a dança, quando o desafio é incluir a criança e o jovem, estimular a alegria inata de cada um e desenvolver sua autoestima. No Brasil, as experiências de inclusão por meio de música e dança no contexto salesiano colecionam inúmeros relatos, tanto de educadores como de educandos.

Allan Back é professor de hip-hop no Parque Dom Bosco, em Itajaí, SC, e sua paixão e dedicação aos alunos têm dado resultados valiosos. “Quando cheguei por aqui, em fevereiro de 2014, eu não tinha noção de como atender a estas crianças que vivem em situação tão delicada. Talvez se eu já chegasse com uma Bíblia na mão eu os intimidasse muito. Se eu chegasse falando de educação pareceria um militar. Então arrisquei dançar com eles”, recorda.

Distante mais de 100 anos de Dom Bosco, o jovem professor refletiu tal como o santo, face ao desafio de incluir jovens em direção ao caminho do bem. “São dois os sistemas até hoje usados na educação da juventude: o Preventivo e o Repressivo”, afirmava Dom Bosco. O Sistema Repressivo consistia em fazer com que a lei fosse conhecida e em punir aqueles que a desobedecessem. “Nesse sistema, as palavras e o semblante do superior devem constantemente ser severos e até ameaçadores, e ele próprio deve evitar toda a familiaridade com os dependentes”. Já o Sistema Preventivo, defendido por Dom Bosco, era baseado no amor, na confiança, na educação como forma de prevenir os maus caminhos. Neste sistema, o educador deveria estar junto com o jovem, no pátio e nas atividades de lazer e cultura, pois esses ambientes faziam parte da proposta educativa.

 

Inclusão cadenciada

Allan Back trabalha com dança há 10 anos e há seis, como professor e coreógrafo. “Em 2006, eu comecei a dançar com um grupo em Itajaí, com danças urbanas como o hip-hop. Eu já conhecia o Parque Dom Bosco, e há três anos dava aulas de forma parcial. A professora Elisângela Cândido, que é coordenadora dos cursos de Jovem Aprendiz, me fez um convite para atuar no projeto”, recorda.

Outro projeto dedicado à dança é o do Grupo de Dança Salesiano de Poxoréu, MT, conduzido pelo professor Douglas Souza. O jovem tem formação em jazz e faz ballet há quatro anos. O projeto conta com cerca de 100 alunos, o que exigiu que fossem distribuídos em vários grupos. Ballet clássico, jazz, dança de salão, contemporâneo e street dance são as modalidades aplicadas, mas o resultado é sempre um sucesso quando se pretende incluir crianças e jovens por meio da dança.

“Quando eu cheguei ao Centro Juvenil, os alunos não tinham nenhuma base de dança. Eles eram crus, só sabiam dançar axé e catira, dança típica regional que mistura influências indígenas, europeias e africanas. Eu via talento neles, mas não via técnica”, relembra Douglas. “Eu comecei a ensinar cada passinho para que eles tivessem ciência de cada movimento que estava sendo executado. Até então, eles não sabiam quão grande era a dança”, completa.

O encantamento despertado por meio das aulas de dança, entretanto, é muito mais surpreendente para os alunos, que respondem com entusiasmo. Sarah Dayane da Silva Varias tem 11 anos e participa das aulas de hip-hop em Itajaí há três. Pelo fato de seu pai ter sido dançarino, a pequena mostra familiaridade com a dança. “Aprendi vários passos e movimentos de chão. Nas aulas, a gente ajuda uns aos outros para aprender, e claro que usamos isso depois, na sala de aula e em casa também”, ressalta.

Sarah também conta, entusiasmada, que o grupo já ganhou sua primeira competição, em julho de 2015. “Muito bom realizar um sonho e conseguir atingir nossos objetivos”. Larissa Ferreira Peixer, 11 anos, vai além: “Há três anos eu pensava que nunca iria dançar, mas um dia fui convidada para participar de um programa de TV junto com o grupo. Sabe de uma coisa? Descobri que fui feita para dançar! Quero ser profissional de dança, é um sonho que eu quero realizar...”

 

Pedagogia da vida

Nesses dois contextos, de diferentes realidades regionais brasileiras, um ponto comum que une os dois professores está no cerne da amorevolezza salesiana. “Nós sabemos que somos todos educadores e que a conjugação dos verbos ‘educar’ e ‘evangelizar’ tem dois tempos primordiais: o gerúndio e o infinitivo – educar evangelizando e evangelizar educando”, afirma Allan. “Antes dos ensaios ou subida nos palcos, a oração é o que nos levanta, aumenta nossa união e fortalece nossa amizade e fé”.

Para Douglas Souza, o preparo para os desafios da vida está nas aulas que ministra. “O que eu faço com o auxílio da dança é preparar os meus alunos para a vida, para que eles sejam respeitados onde quer que eles cheguem. Eles são lindos dançando e impressionam as pessoas que os assistem. Então o meu trabalho é prepará-los para que eles sejam bons, mas também que não se sintam superiores”, considera o educador. “Espero que eles saibam do seu valor, que permaneçam na linha do respeito mútuo, nem a mais nem a menos”, finaliza.

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