Aprendamos a olhar “com os olhos de Deus”

Segunda, 18 Março 2019 07:21 Escrito por 
A mensagem do Reitor-mor dos Salesianos para o mês de março: "Ouvi testemunhos de dezenas de jovens, naqueles dias da JMJ e da maravilhosa festa de Dom Bosco no Panamá (com a procissão mais numerosa que alguma vez vi), jovens que narravam histórias de vida em que tinham se sentido como que abraçados por um olhar ‘especial’ de Deus".  

Encontrei pessoas magníficas nos dias da Jornada Mundial da Juventude e jovens maravilhosos. Foram dias inspirados. Por isso as palavras do Papa Francisco que se referem a Dom Bosco e ao seu saber olhar com os olhos de Deus deram a volta ao mundo em poucos segundos, gravaram-se na memória da web e perduram no tempo.

 

Pessoalmente, fiquei muito impressionado com a história de uma jovem mãe que, atingida por uma grave doença, tinha se fechado em casa por mais de ano e meio. Não queria saber de nada, não queria visitar ninguém nem receber qualquer visita. Para ela, a vida tinha acabado.

 

As pessoas que a amavam convidaram-na a passar algum tempo numa casa salesiana. Um pouco à força e bastante contra a vontade, aceitou e, desde aquele dia (e passaram vários anos), nunca mais deixou aquela presença salesiana. Vi-a lá. Foi onde a encontrei. Não poderia imaginar naquele momento as lutas e as batalhas pessoais que ela tinha enfrentado.

 

O seu dinamismo, a sua capacidade de liderança e de envolver os outros e a si mesma fizeram-me pensar numa vida em contínuo crescimento, numa série de bons resultados e de êxitos. Não era assim, mas teve aquela magnífica oportunidade. Com algum receio, aproximou-se timidamente e encontrou pessoas que, sem pedir nada, “sabiam ver com os olhos de Deus”.

 

Do mesmo modo, ouvi testemunhos de dezenas de jovens, naqueles dias da JMJ e da maravilhosa festa de Dom Bosco no Panamá (com a procissão mais numerosa que alguma vez vi), jovens que narravam histórias de vida em que tinham se sentido como que envolvidos por um olhar ‘especial’ de Deus.

 

Abraçar a vida

O Papa Francisco disse magnificamente, durante Vigília do sábado da JMJ, que “abraçar a vida se manifesta também quando aceitamos tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas nem por isso é menos digno de amor”. Isso faz a diferença no modo como tratamos uns aos outros como pessoas.

 

Sabemos, e muitos de nós estão convencidos disso, certamente muitos de vós, amigos leitores: “o amor cura”, o amor é a cura, e “só aquilo que se ama pode ser salvo”. Pois bem, precisamente por isso, o primeiro passo que devemos dar como educadores, como protagonistas convictos do estilo salesiano, ou simplesmente como boas pessoas que caminham no mundo, é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e muitas vezes até com as suas contradições e faltas de sentido (Papa Francisco na Vigília da JMJ).

 

A jovem mãe a quem me referia só precisava encontrar um espaço de vida, um lugar de pessoas em que, com as mãos, com o coração e a mente, com toda a sua pessoa, podia sentir-se “parte de alguma coisa”, de uma “comunidade” maior que precisava dela, com a sua história de vida. E isto mudou-lhe a existência.

 

Naquela noite da JMJ, o Papa Francisco disse algumas palavras sobre Dom Bosco que me encheram de emoção e são também muito exigentes, porque não podemos escutar e ficar indiferentes. Porque fidelidade a Dom Bosco, hoje, significa fazer as mesmas escolhas e tomar as mesmas decisões que ele fez e tomou. E que tomaria também nestes nossos dias difíceis.

 

O dom das raízes

“Dom Bosco, disse-nos o Papa Francisco, não foi à procura dos rapazes a qualquer lugar distante ou especial … (explodiu um fragoroso aplauso) … vê-se que aqui há gente que quer bem a Dom Bosco … Dom Bosco não foi à procura dos rapazes a qualquer lugar distante ou especial; simplesmente aprendeu a olhar, a ver tudo o que acontecia à sua volta na cidade e olhá-lo com os olhos de Deus e, assim, ficou chocado com centenas de crianças e de jovens abandonados sem escola, sem trabalho e sem a mão amiga de uma comunidade.

 

Muita gente vivia naquela mesma cidade, e muitos criticavam aqueles jovens, mas não sabiam olhá-los com os olhos de Deus. Os jovens, é preciso olhá-los com os olhos de Deus. Ele, Dom Bosco, soube dar o primeiro passo: abraçar a vida como se apresenta; e, a partir dali, não teve medo de dar o segundo passo: criar uma comunidade, uma família em que, com o trabalho e o estudo, se sentissem amados.

 

Dar-lhes raízes em que pudessem segurar-se para chegar ao céu. Para poder ser alguém na sociedade. Dar-lhes raízes em que segurar-se para não ser derrubados pelo primeiro vento que vem. Isto fez Dom Bosco”.

 

Tudo isto e muito mais me deixaram aqueles dias. Deixaram-me a alma e o coração cheios de fisionomias, como dizia o grande bispo Pedro Casaldáliga quando se imaginava na presença de Deus antes de morrer. Naquele momento perguntaram-lhe: “Que fizeste na vida?” Ele apresentou as mãos vazias, mas o coração cheio de nomes.

 

Meus amigos, leitores do Boletim Salesiano, meio de comunicação tão querido, apreciado e estimado por Dom Bosco, seu fundador, “a salvação que Deus nos dá é um convite a fazer parte de uma história de amor que se entrelaça com as nossas histórias; que vive e quer nascer no meio de nós para que possamos dar fruto onde estamos, como somos e com quem estamos” (Papa Francisco).

 

Sob os bons olhos de Deus e de Dom Bosco.

 

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Aprendamos a olhar “com os olhos de Deus”

Segunda, 18 Março 2019 07:21 Escrito por 
A mensagem do Reitor-mor dos Salesianos para o mês de março: "Ouvi testemunhos de dezenas de jovens, naqueles dias da JMJ e da maravilhosa festa de Dom Bosco no Panamá (com a procissão mais numerosa que alguma vez vi), jovens que narravam histórias de vida em que tinham se sentido como que abraçados por um olhar ‘especial’ de Deus".  

Encontrei pessoas magníficas nos dias da Jornada Mundial da Juventude e jovens maravilhosos. Foram dias inspirados. Por isso as palavras do Papa Francisco que se referem a Dom Bosco e ao seu saber olhar com os olhos de Deus deram a volta ao mundo em poucos segundos, gravaram-se na memória da web e perduram no tempo.

 

Pessoalmente, fiquei muito impressionado com a história de uma jovem mãe que, atingida por uma grave doença, tinha se fechado em casa por mais de ano e meio. Não queria saber de nada, não queria visitar ninguém nem receber qualquer visita. Para ela, a vida tinha acabado.

 

As pessoas que a amavam convidaram-na a passar algum tempo numa casa salesiana. Um pouco à força e bastante contra a vontade, aceitou e, desde aquele dia (e passaram vários anos), nunca mais deixou aquela presença salesiana. Vi-a lá. Foi onde a encontrei. Não poderia imaginar naquele momento as lutas e as batalhas pessoais que ela tinha enfrentado.

 

O seu dinamismo, a sua capacidade de liderança e de envolver os outros e a si mesma fizeram-me pensar numa vida em contínuo crescimento, numa série de bons resultados e de êxitos. Não era assim, mas teve aquela magnífica oportunidade. Com algum receio, aproximou-se timidamente e encontrou pessoas que, sem pedir nada, “sabiam ver com os olhos de Deus”.

 

Do mesmo modo, ouvi testemunhos de dezenas de jovens, naqueles dias da JMJ e da maravilhosa festa de Dom Bosco no Panamá (com a procissão mais numerosa que alguma vez vi), jovens que narravam histórias de vida em que tinham se sentido como que envolvidos por um olhar ‘especial’ de Deus.

 

Abraçar a vida

O Papa Francisco disse magnificamente, durante Vigília do sábado da JMJ, que “abraçar a vida se manifesta também quando aceitamos tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas nem por isso é menos digno de amor”. Isso faz a diferença no modo como tratamos uns aos outros como pessoas.

 

Sabemos, e muitos de nós estão convencidos disso, certamente muitos de vós, amigos leitores: “o amor cura”, o amor é a cura, e “só aquilo que se ama pode ser salvo”. Pois bem, precisamente por isso, o primeiro passo que devemos dar como educadores, como protagonistas convictos do estilo salesiano, ou simplesmente como boas pessoas que caminham no mundo, é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e muitas vezes até com as suas contradições e faltas de sentido (Papa Francisco na Vigília da JMJ).

 

A jovem mãe a quem me referia só precisava encontrar um espaço de vida, um lugar de pessoas em que, com as mãos, com o coração e a mente, com toda a sua pessoa, podia sentir-se “parte de alguma coisa”, de uma “comunidade” maior que precisava dela, com a sua história de vida. E isto mudou-lhe a existência.

 

Naquela noite da JMJ, o Papa Francisco disse algumas palavras sobre Dom Bosco que me encheram de emoção e são também muito exigentes, porque não podemos escutar e ficar indiferentes. Porque fidelidade a Dom Bosco, hoje, significa fazer as mesmas escolhas e tomar as mesmas decisões que ele fez e tomou. E que tomaria também nestes nossos dias difíceis.

 

O dom das raízes

“Dom Bosco, disse-nos o Papa Francisco, não foi à procura dos rapazes a qualquer lugar distante ou especial … (explodiu um fragoroso aplauso) … vê-se que aqui há gente que quer bem a Dom Bosco … Dom Bosco não foi à procura dos rapazes a qualquer lugar distante ou especial; simplesmente aprendeu a olhar, a ver tudo o que acontecia à sua volta na cidade e olhá-lo com os olhos de Deus e, assim, ficou chocado com centenas de crianças e de jovens abandonados sem escola, sem trabalho e sem a mão amiga de uma comunidade.

 

Muita gente vivia naquela mesma cidade, e muitos criticavam aqueles jovens, mas não sabiam olhá-los com os olhos de Deus. Os jovens, é preciso olhá-los com os olhos de Deus. Ele, Dom Bosco, soube dar o primeiro passo: abraçar a vida como se apresenta; e, a partir dali, não teve medo de dar o segundo passo: criar uma comunidade, uma família em que, com o trabalho e o estudo, se sentissem amados.

 

Dar-lhes raízes em que pudessem segurar-se para chegar ao céu. Para poder ser alguém na sociedade. Dar-lhes raízes em que segurar-se para não ser derrubados pelo primeiro vento que vem. Isto fez Dom Bosco”.

 

Tudo isto e muito mais me deixaram aqueles dias. Deixaram-me a alma e o coração cheios de fisionomias, como dizia o grande bispo Pedro Casaldáliga quando se imaginava na presença de Deus antes de morrer. Naquele momento perguntaram-lhe: “Que fizeste na vida?” Ele apresentou as mãos vazias, mas o coração cheio de nomes.

 

Meus amigos, leitores do Boletim Salesiano, meio de comunicação tão querido, apreciado e estimado por Dom Bosco, seu fundador, “a salvação que Deus nos dá é um convite a fazer parte de uma história de amor que se entrelaça com as nossas histórias; que vive e quer nascer no meio de nós para que possamos dar fruto onde estamos, como somos e com quem estamos” (Papa Francisco).

 

Sob os bons olhos de Deus e de Dom Bosco.

 

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