A complexidade do corpo ecológico

Quarta, 24 Julho 2019 15:38 Escrito por 
A complexidade do corpo ecológico iStock.com
No sexto artigo da série de reflexões sobre corpo e chamado de Deus, padre João Mendonça Filho, SDB, fala do “corpo ecológico integral”.  

Papa Francisco, na Laudato Si,´ chama a atenção para uma ecologia integral, ou seja, o saber equilibrar dentro da casa comum o cuidado do ser humano e da natureza. Ambos merecem atenção, pois são obras do mesmo Deus que fez tudo bom (Gen 1,10), completando a obra da criação no ser vivente à sua imagem e semelhança (Gen 1, 26). Do caos ao jardim aonde tudo brota, inclusive o homem e a mulher (Gen 2,8). A tudo isto chamo de corpo ecológico integral. A vocação nasce neste mosaico para servir ao Reino de Deus, para que todos tenham vida plena (J0 10,10).

 

O sentido do corpo cósmico

Somos corpo, ou seja, somos matéria, e a sexualidade encontra-se latente em nós. Com este corpo comunicamos nossas histórias, sonhos, desejos, prazeres e desprazeres. Nele as informações são armazenadas. Nada passa diante de nossos olhos sem o registro do corpo à mente e vice versa. É no corpo que descobrimos que existe o outro diferente de nós e que nos completa nas relações. Nenhum ser humano é uma ilha perdida no meio do nada. Somos seres em interligação, mesmo que a cultura contemporânea queira nos isolar num egocentrismo autodestruidor.

 

O corpo é complexo porque nele há uma linguagem não verbal que funciona até de forma inconsciente e se manifesta no falar, no andar, no pensar, no saber amar, odiar, desejar, simpatizar e desprezar, aproximar e distanciar. Portanto, o corpo marca e divide as classes sociais. Neste sentido, o chamado de Deus aponta sempre para o mais vulnerável, onde os ossos estão expostos a todo tipo de exclusão.

 

A vocação especifica para a vida consagrada e para o ministério presbiteral, na complexidade do corpo social, nos coloca dentro de um dinamismo de entrega e doação de si mesmo para que o Espírito de Deus erga os caídos, liberte os prisioneiros, dê a vista aos cegos, sacie os famintos, console os aflitos e fortaleça os perseguidos. A vocação, portanto, não é excludente, mas nasce e se desenvolve dentro do corpo social ecológico integral, no qual a pessoa chamada sente dentro de si o apelo de Deus para avançar para águas profundas e jogar sempre a rede em busca do essencial.

 

A força do chamado

O chamado de Deus rompe, portanto, as fronteiras das divisões, dos muros, e cria pontes de encontro entre as pessoas. Todo chamado é sempre uma oportunidade de fortalecer as pontes de integração e valorização do humano. É sair de si para edificar, semear e colher os frutos que são semeados ao longo do caminho. Assim compreendemos o discipulado na teologia Lucana; um caminho de encontros ao longo da vida até a plena adesão à pessoa de Jesus que se revela e faz arder nosso coração e ainda nos alimenta com o pão partilhado para a vida do mundo.

 

Na verdade, todo vocacionado é um discípulo que escuta atentamente, que saboreia as palavras e senta-se à mesa para comer depois de uma longa jornada. Assim alimentado, o discípulo retoma o caminho para dar razão à própria esperança (1Pd 3,15). Passa da cegueira à luz, da caída para o reerguimento, da incompreensão da Palavra para a profissão de fé, do medo para a certeza.

 

A integração da fé no chamado

Não há consciência de chamado sem fé, pois a fé ilumina desde dentro nossas cegueiras. É a passagem necessária de uma concepção do ser humano fechada em si para uma abertura que tem como meta a transcendência. O ser humano vai além de si mesmo e precisa chegar a esta capacidade de comunicação. Somente a fé pode nos favorecer o entendimento dessa entrega que preenche mente, vontade e coração. Trata-se, portanto, do corpo espiritual, tema sobre o qual iremos refletir no próximo artigo.

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A complexidade do corpo ecológico

Quarta, 24 Julho 2019 15:38 Escrito por 
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No sexto artigo da série de reflexões sobre corpo e chamado de Deus, padre João Mendonça Filho, SDB, fala do “corpo ecológico integral”.  

Papa Francisco, na Laudato Si,´ chama a atenção para uma ecologia integral, ou seja, o saber equilibrar dentro da casa comum o cuidado do ser humano e da natureza. Ambos merecem atenção, pois são obras do mesmo Deus que fez tudo bom (Gen 1,10), completando a obra da criação no ser vivente à sua imagem e semelhança (Gen 1, 26). Do caos ao jardim aonde tudo brota, inclusive o homem e a mulher (Gen 2,8). A tudo isto chamo de corpo ecológico integral. A vocação nasce neste mosaico para servir ao Reino de Deus, para que todos tenham vida plena (J0 10,10).

 

O sentido do corpo cósmico

Somos corpo, ou seja, somos matéria, e a sexualidade encontra-se latente em nós. Com este corpo comunicamos nossas histórias, sonhos, desejos, prazeres e desprazeres. Nele as informações são armazenadas. Nada passa diante de nossos olhos sem o registro do corpo à mente e vice versa. É no corpo que descobrimos que existe o outro diferente de nós e que nos completa nas relações. Nenhum ser humano é uma ilha perdida no meio do nada. Somos seres em interligação, mesmo que a cultura contemporânea queira nos isolar num egocentrismo autodestruidor.

 

O corpo é complexo porque nele há uma linguagem não verbal que funciona até de forma inconsciente e se manifesta no falar, no andar, no pensar, no saber amar, odiar, desejar, simpatizar e desprezar, aproximar e distanciar. Portanto, o corpo marca e divide as classes sociais. Neste sentido, o chamado de Deus aponta sempre para o mais vulnerável, onde os ossos estão expostos a todo tipo de exclusão.

 

A vocação especifica para a vida consagrada e para o ministério presbiteral, na complexidade do corpo social, nos coloca dentro de um dinamismo de entrega e doação de si mesmo para que o Espírito de Deus erga os caídos, liberte os prisioneiros, dê a vista aos cegos, sacie os famintos, console os aflitos e fortaleça os perseguidos. A vocação, portanto, não é excludente, mas nasce e se desenvolve dentro do corpo social ecológico integral, no qual a pessoa chamada sente dentro de si o apelo de Deus para avançar para águas profundas e jogar sempre a rede em busca do essencial.

 

A força do chamado

O chamado de Deus rompe, portanto, as fronteiras das divisões, dos muros, e cria pontes de encontro entre as pessoas. Todo chamado é sempre uma oportunidade de fortalecer as pontes de integração e valorização do humano. É sair de si para edificar, semear e colher os frutos que são semeados ao longo do caminho. Assim compreendemos o discipulado na teologia Lucana; um caminho de encontros ao longo da vida até a plena adesão à pessoa de Jesus que se revela e faz arder nosso coração e ainda nos alimenta com o pão partilhado para a vida do mundo.

 

Na verdade, todo vocacionado é um discípulo que escuta atentamente, que saboreia as palavras e senta-se à mesa para comer depois de uma longa jornada. Assim alimentado, o discípulo retoma o caminho para dar razão à própria esperança (1Pd 3,15). Passa da cegueira à luz, da caída para o reerguimento, da incompreensão da Palavra para a profissão de fé, do medo para a certeza.

 

A integração da fé no chamado

Não há consciência de chamado sem fé, pois a fé ilumina desde dentro nossas cegueiras. É a passagem necessária de uma concepção do ser humano fechada em si para uma abertura que tem como meta a transcendência. O ser humano vai além de si mesmo e precisa chegar a esta capacidade de comunicação. Somente a fé pode nos favorecer o entendimento dessa entrega que preenche mente, vontade e coração. Trata-se, portanto, do corpo espiritual, tema sobre o qual iremos refletir no próximo artigo.

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