As exigências da comunidade educativa de Dom Bosco

Quarta, 17 Julho 2013 18:22 Escrito por 
Para Dom Bosco a comunidade educativa, quer no modelo escolar ou no oratoriano, representava, por excelência, o espaço feito ambiente onde o Plano Educativo e Pastoral ofereceria as condições necessárias para o jovem desenvolver um processo de amadurecimento estável, capacitando-o para a concretização da síntese entre fé e vida.   Na comunidade educativa, o jovem era acolhido responsavelmente pelos primeiros colaboradores de Dom Bosco, sendo respeitado na sua individualidade, escutado na sua necessidade, valorizado na sua cultura e na sua linguagem e, por todos, prestigiado quando da definição de seus caminhos. Era uma comunidade onde os jovens e os colaboradores de Dom Bosco viviam um clima de familiaridade, provocador de uma experiência diferenciada (preventiva) e geradora de novos homens com novas perspectivas de futuro.

No Oratório de São Francisco de Sales, em Turim, berço da obra de Dom Bosco, o jovem entrava em contato com oportunidades reais para cultivar os valores que determinavam a consolidação de uma personalidade sadia e integral, aberta aos desafios do cotidiano e agente de uma história subvertedora da lógica irracional dos processos de desumanização.

O jovem dos anos 1800, na experiência da comunidade educativa existente nos primeiros oratórios, ao estabelecer uma relação com os colaboradores de Dom Bosco, com um projeto sustentado por uma espiritualidade singular, passa a ter a percepção que muito mais do que agente de uma história de limites, de finalidades que se esgotam na materialidade da vida terrestre, é agente de uma história celeste, que ultrapassa a todo esforço de nossa inteligência e possui sua originalidade no mistério da Trindade.

 

Novas relações

Era uma comunidade onde todas as forças envolvidas estavam comprometidas com o repensar do “eu” frente ao “outro”, redefinindo identidades e assentando novas relações, imperativas para a salvação do jovem. Tais relações, apesar de um tempo de conservadorismo, envolviam uma perspectiva vanguardista de exigências que para muitos eram contrárias às regras, às normas e aos códigos de comportamento vigentes no século XIX. As exigências presentes nas novas relações, existentes na comunidade educativa dos primeiros oratórios, estavam assentadas em um tripé de comprovada sabedoria:

A primeira exigência defendia a necessidade da conexão permanente da vida do jovem com o dia a dia histórico, com o chão da realidade. Por meio dela, o jovem, com sua competência e suas habilidades, mobilizaria “ferramentas” para o enfrentamento das diferentes situações complexas, desafios que  a vida oferecesse. A segunda pregava a urgência da busca do real e verdadeiro sentido da vida, enquanto forma para o combate de todas as experiências identificadas com a solidão, o anonimato, o individualismo, o egoísmo e a impessoalidade. Por último, não menos importante que as outras duas, existia a exigência de uma experiência voltada para o seguimento de Jesus. Tal experiência, de forma diferente de tudo que até então era defendido e pregado pelo mundo católico, anunciava que o seguimento de Jesus era algo muito exigente, revolucionário, promotor, por meio das ações humanas, das transformações estruturais necessárias para que a sociedade pudesse saborear as delícias de uma vida identificada com um projeto de dignidade.

 

Exigências para os primeiros colaboradores

As novas relações, aquelas que Dom Bosco sonhou e definiu como prioritárias para seu projeto, nos primeiros oratórios, dependiam enormemente de quatro atitudes que deveriam estar internalizadas em cada colaborador. Cada colaborador deveria, com toda a força do seu ser, realizar uma opção fundamental pela:

·                     Participação consciente e desejada nos destinos da comunidade educativa, visando ao existir de ações educativas e pastorais promotoras da salvação do jovem (“Dai-me almas, ficai com o resto”).

·                     Identificação com o Projeto Operativo de Dom Bosco que permitia ao colaborador assumir, com animação e esperança, a formação humana e cristã do jovem, assegurando uma forte personalização frente aos desafios que impactam ou impactariam seu projeto de vida (“bons cristãos e honestos cidadãos”).

·                     Formação permanente do jovem, vendo sempre que a mesma não se reduz às formalidades do Projeto Operativo, indo além, abraçando todas as oportunidades existentes para desenvolver com ele aquilo que é necessário e vital para a vida juvenil (“Que os jovens não sejam somente amados, mas que eles próprios saibam que são amados”).

·                     Sensibilidade frente às mudanças que estavam ocorrendo na sociedade, fundamentais para a compreensão da realidade juvenil, que exige uma preocupação constante com a atualização profissional e pessoal (“estar com os tempos e lugares”).

É nessa comunidade educativa, de novas identidades, bem como novos homens, relações, exigências, atitudes e realidades, que Dom Bosco e seus colaboradores desenvolveram um projeto fincado no passado, com uma espantosa contemporaneidade e uma possibilidade infinita de futuro. Um projeto caracterizado de maneira radical pela qualidade da presença, do encontro, que continua formando, no nosso tempo de hoje, pessoas que representam a dupla cidadania: da terra e do céu.

 

José Augusto Abreu Aguiar é professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ.

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Última modificação em Quarta, 02 Abril 2014 16:09

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As exigências da comunidade educativa de Dom Bosco

Quarta, 17 Julho 2013 18:22 Escrito por 
Para Dom Bosco a comunidade educativa, quer no modelo escolar ou no oratoriano, representava, por excelência, o espaço feito ambiente onde o Plano Educativo e Pastoral ofereceria as condições necessárias para o jovem desenvolver um processo de amadurecimento estável, capacitando-o para a concretização da síntese entre fé e vida.   Na comunidade educativa, o jovem era acolhido responsavelmente pelos primeiros colaboradores de Dom Bosco, sendo respeitado na sua individualidade, escutado na sua necessidade, valorizado na sua cultura e na sua linguagem e, por todos, prestigiado quando da definição de seus caminhos. Era uma comunidade onde os jovens e os colaboradores de Dom Bosco viviam um clima de familiaridade, provocador de uma experiência diferenciada (preventiva) e geradora de novos homens com novas perspectivas de futuro.

No Oratório de São Francisco de Sales, em Turim, berço da obra de Dom Bosco, o jovem entrava em contato com oportunidades reais para cultivar os valores que determinavam a consolidação de uma personalidade sadia e integral, aberta aos desafios do cotidiano e agente de uma história subvertedora da lógica irracional dos processos de desumanização.

O jovem dos anos 1800, na experiência da comunidade educativa existente nos primeiros oratórios, ao estabelecer uma relação com os colaboradores de Dom Bosco, com um projeto sustentado por uma espiritualidade singular, passa a ter a percepção que muito mais do que agente de uma história de limites, de finalidades que se esgotam na materialidade da vida terrestre, é agente de uma história celeste, que ultrapassa a todo esforço de nossa inteligência e possui sua originalidade no mistério da Trindade.

 

Novas relações

Era uma comunidade onde todas as forças envolvidas estavam comprometidas com o repensar do “eu” frente ao “outro”, redefinindo identidades e assentando novas relações, imperativas para a salvação do jovem. Tais relações, apesar de um tempo de conservadorismo, envolviam uma perspectiva vanguardista de exigências que para muitos eram contrárias às regras, às normas e aos códigos de comportamento vigentes no século XIX. As exigências presentes nas novas relações, existentes na comunidade educativa dos primeiros oratórios, estavam assentadas em um tripé de comprovada sabedoria:

A primeira exigência defendia a necessidade da conexão permanente da vida do jovem com o dia a dia histórico, com o chão da realidade. Por meio dela, o jovem, com sua competência e suas habilidades, mobilizaria “ferramentas” para o enfrentamento das diferentes situações complexas, desafios que  a vida oferecesse. A segunda pregava a urgência da busca do real e verdadeiro sentido da vida, enquanto forma para o combate de todas as experiências identificadas com a solidão, o anonimato, o individualismo, o egoísmo e a impessoalidade. Por último, não menos importante que as outras duas, existia a exigência de uma experiência voltada para o seguimento de Jesus. Tal experiência, de forma diferente de tudo que até então era defendido e pregado pelo mundo católico, anunciava que o seguimento de Jesus era algo muito exigente, revolucionário, promotor, por meio das ações humanas, das transformações estruturais necessárias para que a sociedade pudesse saborear as delícias de uma vida identificada com um projeto de dignidade.

 

Exigências para os primeiros colaboradores

As novas relações, aquelas que Dom Bosco sonhou e definiu como prioritárias para seu projeto, nos primeiros oratórios, dependiam enormemente de quatro atitudes que deveriam estar internalizadas em cada colaborador. Cada colaborador deveria, com toda a força do seu ser, realizar uma opção fundamental pela:

·                     Participação consciente e desejada nos destinos da comunidade educativa, visando ao existir de ações educativas e pastorais promotoras da salvação do jovem (“Dai-me almas, ficai com o resto”).

·                     Identificação com o Projeto Operativo de Dom Bosco que permitia ao colaborador assumir, com animação e esperança, a formação humana e cristã do jovem, assegurando uma forte personalização frente aos desafios que impactam ou impactariam seu projeto de vida (“bons cristãos e honestos cidadãos”).

·                     Formação permanente do jovem, vendo sempre que a mesma não se reduz às formalidades do Projeto Operativo, indo além, abraçando todas as oportunidades existentes para desenvolver com ele aquilo que é necessário e vital para a vida juvenil (“Que os jovens não sejam somente amados, mas que eles próprios saibam que são amados”).

·                     Sensibilidade frente às mudanças que estavam ocorrendo na sociedade, fundamentais para a compreensão da realidade juvenil, que exige uma preocupação constante com a atualização profissional e pessoal (“estar com os tempos e lugares”).

É nessa comunidade educativa, de novas identidades, bem como novos homens, relações, exigências, atitudes e realidades, que Dom Bosco e seus colaboradores desenvolveram um projeto fincado no passado, com uma espantosa contemporaneidade e uma possibilidade infinita de futuro. Um projeto caracterizado de maneira radical pela qualidade da presença, do encontro, que continua formando, no nosso tempo de hoje, pessoas que representam a dupla cidadania: da terra e do céu.

 

José Augusto Abreu Aguiar é professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ.

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