“Como Dom Bosco o teria feito"

Segunda, 08 Dezembro 2014 21:25 Escrito por 
Esta é a definição do reitor-mor padre Ángel Fernández a respeito da iniciativa da comunidade salesiana de Freetown, em Serra Leoa, de abrir um centro de acolhimento aos órfãos do ebola. Outra casa similar também foi aberta na Monróvia, Libéria. Estima-se que o número de crianças desamparadas nessas condições somem quase 4.000, na Guiné, Libéria e Serra Leoa, países africanos onde a epidemia é mais intensa.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), dentre os mais de 5.000 mortos e cerca de 20 mil pessoas contaminadas nesses três países africanos, o vírus também impactou cabalmente a vida de crianças e adolescentes, cujos pais morreram pela epidemia. A crueldade do quadro é que as histórias de abandono, preconceito, medo e desolação, se somam à perda e se multiplicam na mesma escala.

Em Monróvia, a primeira casa de acolhimento para órfãos que sobreviveram ao vírus foi aberta no final de setembro. Uma escola elementar tornou-se um centro de assistência para 60 crianças e adolescentes de 2 a 17 anos. A maior parte deles chegou ao centro por meio do telefonema de algum parente distante que não podia assumir seus cuidados.

"A situação está fora do controle e cada vez mais grave", alerta padre Jorge Crisafulli, provincial representante das Missões Salesianas e à frente do trabalho missionário salesiano na região. Em entrevista concedida por telefone à rede social Cenlinea Online Education, padre Jorge relata as premências sociais e que favorecem a progressão da epidemia, simultaneamente aumentando a necessidade de amparo, especialmente às crianças órfãs. Cerca de 700 estão em quarentena, com suspeita de contaminação.

 

Acusados de bruxaria

O relato do padre Jorge coincide com tantos outros em todos os países atingidos, ao descrever a progressão da epidemia e em escala exponencial, suas consequências sociais. "Há dificuldade, por exemplo, no contexto da cultura local, de aceitar o fato de algumas crianças terem sobrevivido, apesar de toda família ter morrido. Sobre elas paira o estigma da magia negra ou da bruxaria, onde se atribui algum poder sobrenatural que lhes garantiu a sobrevivência", descreve.

Este estigma que atemoriza as pessoas exigiu que o local destinado à função de alojamento, em Freetown, Serra Leoa seja mantido em segredo, pois temem-se atentados provocados por medo de contágio ou da "magia" dos pequenos.

"Somos otimistas e certamente esta situação vai acabar. Há uma intervenção importante dos países do mundo ocidental, das grandes potências da Europa e América, mas a ajuda que está chegando agora, vem tardiamente. Não me refiro só à ajuda material, de recursos, mas nos faltam profissionais. As casas das pessoas supostamente infectadas têm sido isoladas e transformadas em pequenos hospitais e para essa situação, precisamos de ajuda para levar informação e ajuda sanitária e profissional. Médicos, enfermeiros e voluntários. Hoje em Serra Leoa só temos médicos estrangeiros provenientes da China e de Cuba”, alerta padre Jorge Crisafulli.

 

Entusiasmo como vacina

Tal como um cajado, recurso para prosseguir uma caminhada árdua, o entusiasmo das crianças é estimulado no ambiente salesiano e auxilia a Missão Salesiana e as vítimas da epidemia para a sobrevivência.

Em sua entrevista, padre Jorge relata um caso que simboliza o drama de outras centenas de crianças - o de um menino de oito anos. Ele chegou ao centro de acolhimento traumatizado porque perdeu os pais e os demais familiares o abandonaram. Ele foi resgatado vagando pela rua chorando e assustado. "Está transformado agora. Ele chegou chorando e triste e depois de uma semana está rindo, brincando... o fato é que o amor transforma. Temos de crer nesse amor, amparados na força espiritual", descreve.

 

Ambiente salesiano

Há também momentos de intensa experiência com Deus. Padre Ubaldino Andrade, diretor da Comunidade de Freetown, em Serra Leoa, conta que um grupo de meninos de rua com quem vivem e trabalham faz a diferença transformadora: a simples presença deles enche o ambiente de animação. "Seu entusiasmo pela vida é contagiante: tambores, flautas, trompetes, teclados, eles cantam, dançam, jogam bola no pequeno pátio. São jovens e adolescentes que entraram em nossa casa acompanhados por assistentes sociais, colaboradores e amigos que cuidam deles, animados pelo espírito de Dom Bosco".

Na paróquia, todos os dias, cerca de 230 jovens se encontram. São salesianos jovens do MJS (Movimento Juvenil Salesiano) e crianças que participam do acampamento de verão. "É muito bonito: jovens colocando-se a serviço dos outros jovens ensinando, animando os jogos e várias atividades. Um dos pontos-chaves do acampamento de verão é, agora, educação para a higiene e os cuidados necessários para evitar a infecção: são mensagens que passam das crianças para suas famílias e para o contexto social em que vivem. É um serviço prestado a toda a comunidade; é importante, de fato, reduzir o medo e o pânico que invade especialmente os bairros mais pobres. Uma informação correta é a primeira maneira de prevenir a difusão da epidemia. Os jovens se tornam, assim, embaixadores daquela educação sanitária tão necessária em uma crise como a que estamos vivendo. Compartilhamos a alegria de amigos que se recuperaram do ebola. Para nós, é vital para perceber que não se trata de uma viagem só de ida para a morte. Algumas pessoas que receberam cuidados médicos desde os primeiros sintomas da doença sobreviveram", encerra.

 

Missões Salesianas em favor das crianças e jovens

O trabalho missionário salesiano está presente em mais de 130 países. A primeira expedição missionária salesiana data de 1875, quando o próprio Dom Bosco enviou um grupo de 10 missionários à Patagônia, seguindo a orientação de um de seus sonhos.

A ação das Missões Salesianas (Misiones Salesianas), entidade fundada em 1970 em Madri, na Espanha, em sua essência continua a mesma: levar a esperança do Evangelo especialmente em regiões inóspitas, onde as populações vivem conflitos políticos, situações de mazelas decorrentes de catástrofes ou epidemias, como é o caso de vários países da África. Zelar pela integridade de crianças e adolescentes em situação de risco social, seja ele por questões políticas, ambientais, ou as duas, continua a ser sua missão.

As Missões Salesianas trabalham para que as crianças e jovens tenham um futuro melhor e possam contribuir para o desenvolvimento de suas comunidades. É preciso construir uma consciência na sociedade sobre os problemas que afetam os mais fracos. Um dos meios nessa direção é mobilizar recursos materiais e humanos para promover programas de educação, formação para o trabalho, alimentação adequada, além do cuidado com a saúde dos menores.

Este trabalho é financiado pelas contribuições voluntárias de indivíduos e entidades privadas. Neste momento, está em curso uma campanha para angariar recursos para a Missão na África: a Campanha SOS Filhos do Ebola.

Veja mais informações no site:

http://www.misionessalesianas.org/

 

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“Como Dom Bosco o teria feito"

Segunda, 08 Dezembro 2014 21:25 Escrito por 
Esta é a definição do reitor-mor padre Ángel Fernández a respeito da iniciativa da comunidade salesiana de Freetown, em Serra Leoa, de abrir um centro de acolhimento aos órfãos do ebola. Outra casa similar também foi aberta na Monróvia, Libéria. Estima-se que o número de crianças desamparadas nessas condições somem quase 4.000, na Guiné, Libéria e Serra Leoa, países africanos onde a epidemia é mais intensa.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), dentre os mais de 5.000 mortos e cerca de 20 mil pessoas contaminadas nesses três países africanos, o vírus também impactou cabalmente a vida de crianças e adolescentes, cujos pais morreram pela epidemia. A crueldade do quadro é que as histórias de abandono, preconceito, medo e desolação, se somam à perda e se multiplicam na mesma escala.

Em Monróvia, a primeira casa de acolhimento para órfãos que sobreviveram ao vírus foi aberta no final de setembro. Uma escola elementar tornou-se um centro de assistência para 60 crianças e adolescentes de 2 a 17 anos. A maior parte deles chegou ao centro por meio do telefonema de algum parente distante que não podia assumir seus cuidados.

"A situação está fora do controle e cada vez mais grave", alerta padre Jorge Crisafulli, provincial representante das Missões Salesianas e à frente do trabalho missionário salesiano na região. Em entrevista concedida por telefone à rede social Cenlinea Online Education, padre Jorge relata as premências sociais e que favorecem a progressão da epidemia, simultaneamente aumentando a necessidade de amparo, especialmente às crianças órfãs. Cerca de 700 estão em quarentena, com suspeita de contaminação.

 

Acusados de bruxaria

O relato do padre Jorge coincide com tantos outros em todos os países atingidos, ao descrever a progressão da epidemia e em escala exponencial, suas consequências sociais. "Há dificuldade, por exemplo, no contexto da cultura local, de aceitar o fato de algumas crianças terem sobrevivido, apesar de toda família ter morrido. Sobre elas paira o estigma da magia negra ou da bruxaria, onde se atribui algum poder sobrenatural que lhes garantiu a sobrevivência", descreve.

Este estigma que atemoriza as pessoas exigiu que o local destinado à função de alojamento, em Freetown, Serra Leoa seja mantido em segredo, pois temem-se atentados provocados por medo de contágio ou da "magia" dos pequenos.

"Somos otimistas e certamente esta situação vai acabar. Há uma intervenção importante dos países do mundo ocidental, das grandes potências da Europa e América, mas a ajuda que está chegando agora, vem tardiamente. Não me refiro só à ajuda material, de recursos, mas nos faltam profissionais. As casas das pessoas supostamente infectadas têm sido isoladas e transformadas em pequenos hospitais e para essa situação, precisamos de ajuda para levar informação e ajuda sanitária e profissional. Médicos, enfermeiros e voluntários. Hoje em Serra Leoa só temos médicos estrangeiros provenientes da China e de Cuba”, alerta padre Jorge Crisafulli.

 

Entusiasmo como vacina

Tal como um cajado, recurso para prosseguir uma caminhada árdua, o entusiasmo das crianças é estimulado no ambiente salesiano e auxilia a Missão Salesiana e as vítimas da epidemia para a sobrevivência.

Em sua entrevista, padre Jorge relata um caso que simboliza o drama de outras centenas de crianças - o de um menino de oito anos. Ele chegou ao centro de acolhimento traumatizado porque perdeu os pais e os demais familiares o abandonaram. Ele foi resgatado vagando pela rua chorando e assustado. "Está transformado agora. Ele chegou chorando e triste e depois de uma semana está rindo, brincando... o fato é que o amor transforma. Temos de crer nesse amor, amparados na força espiritual", descreve.

 

Ambiente salesiano

Há também momentos de intensa experiência com Deus. Padre Ubaldino Andrade, diretor da Comunidade de Freetown, em Serra Leoa, conta que um grupo de meninos de rua com quem vivem e trabalham faz a diferença transformadora: a simples presença deles enche o ambiente de animação. "Seu entusiasmo pela vida é contagiante: tambores, flautas, trompetes, teclados, eles cantam, dançam, jogam bola no pequeno pátio. São jovens e adolescentes que entraram em nossa casa acompanhados por assistentes sociais, colaboradores e amigos que cuidam deles, animados pelo espírito de Dom Bosco".

Na paróquia, todos os dias, cerca de 230 jovens se encontram. São salesianos jovens do MJS (Movimento Juvenil Salesiano) e crianças que participam do acampamento de verão. "É muito bonito: jovens colocando-se a serviço dos outros jovens ensinando, animando os jogos e várias atividades. Um dos pontos-chaves do acampamento de verão é, agora, educação para a higiene e os cuidados necessários para evitar a infecção: são mensagens que passam das crianças para suas famílias e para o contexto social em que vivem. É um serviço prestado a toda a comunidade; é importante, de fato, reduzir o medo e o pânico que invade especialmente os bairros mais pobres. Uma informação correta é a primeira maneira de prevenir a difusão da epidemia. Os jovens se tornam, assim, embaixadores daquela educação sanitária tão necessária em uma crise como a que estamos vivendo. Compartilhamos a alegria de amigos que se recuperaram do ebola. Para nós, é vital para perceber que não se trata de uma viagem só de ida para a morte. Algumas pessoas que receberam cuidados médicos desde os primeiros sintomas da doença sobreviveram", encerra.

 

Missões Salesianas em favor das crianças e jovens

O trabalho missionário salesiano está presente em mais de 130 países. A primeira expedição missionária salesiana data de 1875, quando o próprio Dom Bosco enviou um grupo de 10 missionários à Patagônia, seguindo a orientação de um de seus sonhos.

A ação das Missões Salesianas (Misiones Salesianas), entidade fundada em 1970 em Madri, na Espanha, em sua essência continua a mesma: levar a esperança do Evangelo especialmente em regiões inóspitas, onde as populações vivem conflitos políticos, situações de mazelas decorrentes de catástrofes ou epidemias, como é o caso de vários países da África. Zelar pela integridade de crianças e adolescentes em situação de risco social, seja ele por questões políticas, ambientais, ou as duas, continua a ser sua missão.

As Missões Salesianas trabalham para que as crianças e jovens tenham um futuro melhor e possam contribuir para o desenvolvimento de suas comunidades. É preciso construir uma consciência na sociedade sobre os problemas que afetam os mais fracos. Um dos meios nessa direção é mobilizar recursos materiais e humanos para promover programas de educação, formação para o trabalho, alimentação adequada, além do cuidado com a saúde dos menores.

Este trabalho é financiado pelas contribuições voluntárias de indivíduos e entidades privadas. Neste momento, está em curso uma campanha para angariar recursos para a Missão na África: a Campanha SOS Filhos do Ebola.

Veja mais informações no site:

http://www.misionessalesianas.org/

 

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