CFE 2016: Amar o próximo e conscientizá-lo

Sexta, 05 Fevereiro 2016 17:35 Escrito por 
Com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24), a Campanha da Fraternidade deste ano é ecumênica e aborda o problema do saneamento básico.

A Campanha da Fraternidade de 2016, realizada entre a Quarta-feira de Cinzas (10 de fevereiro) e o Domingo de Ramos (20 de março), tem uma característica peculiar. Ela é ecumênica, ou seja, agrega várias linhas religiosas sob uma temática de relevância para a sociedade, que é muito maior do que a forma de expressar a religiosidade, mas que segue a direção cristã, de amor ao próximo e irmandade pelo bem de todos.

O tema deste ano é “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema, “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24). Saneamento básico é o eixo que se coloca à frente de pelo menos 70% da população brasileira, público estimado de fiéis integrantes das Igrejas Católica Apostólica Romana, Episcopal Anglicana do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Sirian Ortodoxa de Antioquia e Presbiteriana Unida. A união das igrejas forma o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) e esta é a quarta vez que elas se reúnem em torno da Campanha da Fraternidade.

A pastora Romi Márcia Bencke, secretária-geral do Conic, atenta para a relevância de uma ação ecumênica neste momento histórico do Brasil: “O país tem vivido situações complexas de intolerância religiosa, que chegam a agressões físicas. Reunir todas essas linhas religiosas em torno de uma temática tão importante pode ajudar a sociedade a refletir sobre preconceitos dessa ordem. Os nomes de Jeová são vários, mas a fé na transcendência deveria nos levar as ações de amor e misericórdia, de diálogo e acolhida. O desafio do ecumenismo é mostrar que o outro não é uma ameaça, pois a essência da fé é a mesma. E tentar fazer algo pelo bem da coletividade... a Campanha da Fraternidade traz esse testemunho”, analisa.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) é realizada a cada cinco anos e já está em sua quarta edição. A primeira CFE foi organizada no ano 2000, e teve como tema “Dignidade humana e paz”. A segunda, em 2005, falou sobre “Solidariedade e paz”. Em 2010, o tema foi “Economia e Vida”. Nesse ano, a CFE tem como objetivo geral “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa casa comum”, afirma dom Flávio Irala, presidente do Conic.

 

Zelo em gestos

A pastora Romi ressalta que o tema central dessa discussão tem a ver com o cuidado ao meio ambiente. Há muito por avançar no Brasil em duas vias, as bases da cidadania, que são os direitos e deveres de cada um. “O Estado tem muito a fazer em relação ao saneamento básico nos centros urbanos, mas ainda que houvesse um modelo político primoroso nesse aspecto, as melhores respostas teriam de vir das pessoas, da comunidade, ao fazer a sua parte”. Ela exemplifica: “Zelar pelo seu espaço, mantendo-o limpo, cuidar do descarte correto do lixo, verificar se a fossa séptica não está contaminando o lençol freático, são alguns dos exemplos de situações que estão nas mãos das pessoas e que poderiam ser implementadas a partir de gestos diários, independente dos governos”.

 

Situação global

Para ter uma dimensão da importância que esse tema tem para a humanidade, quase a metade dos seres humanos no planeta não tem acesso a esgoto tratado e água encanada; e estima-se que pelo menos 15 milhões de pessoas morram anualmente por causas relacionadas à falta de saneamento básico. Doenças infecciosas como a leptospirose, febre tifóide, cólera e até ebola são as mais comuns dentre as causas dessas mortes, a maioria localizada em comunidades pobres. Para aumentar as exclamações em torno desse tema, a maioria das vítimas é formada por crianças de até cinco anos.

 

No Brasil

Por aqui, as estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) refletem que mais da metade dos lares - 56% das residências brasileiras - não possui saneamento básico. A proliferação do aedes aegypt, mosquito transmissor da dengue, zika e outras doenças, está ligada à falta de saneamento, bem como de políticas públicas de combate aos focos de procriação do mosquito e de ações preventivas da população.

No âmbito governamental, estima-se a necessidade de investimentos da ordem de R$ 300 bilhões para implementação de obras de infraestrutura e gestão no tratamento de água. O plano seria de 20 anos para universalizar o tratamento de águas e esgoto no país. No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entretanto, foram destinados R$ 70 bilhões para essa área. Passados mais de seis anos desde o início do Programa Nacional de Saneamento Básico, apenas 12% das obras estão prontas

Este programa foi instituído pela Lei Federal 14.445, a partir de uma das metas do milênio, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover políticas públicas nesse âmbito. Entretanto, grande parte dos municípios brasileiros não conseguiu atender aos prazos para apresentação de projetos de saneamento.

 

Conscientização

“Ao analisar os números, no Brasil, entendemos a premência de ações do Estado para conter a progressão de todo sofrimento que é gerado quando pessoas vivem sem higiene adequada. Mas também vemos que é preciso disseminar uma conscientização da população, para que, em uma via de mão dupla, direitos e deveres sejam requeridos de ambos, do Estado e do cidadão”, analisa a pastora Romi. “O tema da CFE tem a ver com sustentabilidade e meio ambiente. É preciso repensar a cultura do consumo, do estilo de vida que é adotado nas concentrações populacionais. As indústrias precisam também valorizar o reuso da água, com o auxílio das tecnologias para esse fim, otimizando os recursos naturais. Portanto, como se evidencia, o tema aborda um aspecto amplo de reflexão”, finaliza.

 

Os números do saneamento no Brasil

O Texto-base da CFE 2016 traz várias informações sobre a situação do saneamento básico no Brasil. Veja abaixo alguns dados levantados a partir do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento Básico (2013):

  • 82% da população brasileira não têm acesso à água tratada
  • Mais de 100 milhões de pessoas não têm acesso à coleta de esgoto
  • Apenas 39% dos esgotos são tratados
  • Diariamente é despejado na natureza o equivalente a 5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento
  • 10,6% dos domicílios não são contemplados pelo serviço público de coleta de resíduos sólidos (PNAD/2013)
  • O Brasil está entre os 20 países do mundo nos quais as pessoas têm menos acesso a banheiros
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CFE 2016: Amar o próximo e conscientizá-lo

Sexta, 05 Fevereiro 2016 17:35 Escrito por 
Com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24), a Campanha da Fraternidade deste ano é ecumênica e aborda o problema do saneamento básico.

A Campanha da Fraternidade de 2016, realizada entre a Quarta-feira de Cinzas (10 de fevereiro) e o Domingo de Ramos (20 de março), tem uma característica peculiar. Ela é ecumênica, ou seja, agrega várias linhas religiosas sob uma temática de relevância para a sociedade, que é muito maior do que a forma de expressar a religiosidade, mas que segue a direção cristã, de amor ao próximo e irmandade pelo bem de todos.

O tema deste ano é “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema, “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24). Saneamento básico é o eixo que se coloca à frente de pelo menos 70% da população brasileira, público estimado de fiéis integrantes das Igrejas Católica Apostólica Romana, Episcopal Anglicana do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Sirian Ortodoxa de Antioquia e Presbiteriana Unida. A união das igrejas forma o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) e esta é a quarta vez que elas se reúnem em torno da Campanha da Fraternidade.

A pastora Romi Márcia Bencke, secretária-geral do Conic, atenta para a relevância de uma ação ecumênica neste momento histórico do Brasil: “O país tem vivido situações complexas de intolerância religiosa, que chegam a agressões físicas. Reunir todas essas linhas religiosas em torno de uma temática tão importante pode ajudar a sociedade a refletir sobre preconceitos dessa ordem. Os nomes de Jeová são vários, mas a fé na transcendência deveria nos levar as ações de amor e misericórdia, de diálogo e acolhida. O desafio do ecumenismo é mostrar que o outro não é uma ameaça, pois a essência da fé é a mesma. E tentar fazer algo pelo bem da coletividade... a Campanha da Fraternidade traz esse testemunho”, analisa.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) é realizada a cada cinco anos e já está em sua quarta edição. A primeira CFE foi organizada no ano 2000, e teve como tema “Dignidade humana e paz”. A segunda, em 2005, falou sobre “Solidariedade e paz”. Em 2010, o tema foi “Economia e Vida”. Nesse ano, a CFE tem como objetivo geral “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa casa comum”, afirma dom Flávio Irala, presidente do Conic.

 

Zelo em gestos

A pastora Romi ressalta que o tema central dessa discussão tem a ver com o cuidado ao meio ambiente. Há muito por avançar no Brasil em duas vias, as bases da cidadania, que são os direitos e deveres de cada um. “O Estado tem muito a fazer em relação ao saneamento básico nos centros urbanos, mas ainda que houvesse um modelo político primoroso nesse aspecto, as melhores respostas teriam de vir das pessoas, da comunidade, ao fazer a sua parte”. Ela exemplifica: “Zelar pelo seu espaço, mantendo-o limpo, cuidar do descarte correto do lixo, verificar se a fossa séptica não está contaminando o lençol freático, são alguns dos exemplos de situações que estão nas mãos das pessoas e que poderiam ser implementadas a partir de gestos diários, independente dos governos”.

 

Situação global

Para ter uma dimensão da importância que esse tema tem para a humanidade, quase a metade dos seres humanos no planeta não tem acesso a esgoto tratado e água encanada; e estima-se que pelo menos 15 milhões de pessoas morram anualmente por causas relacionadas à falta de saneamento básico. Doenças infecciosas como a leptospirose, febre tifóide, cólera e até ebola são as mais comuns dentre as causas dessas mortes, a maioria localizada em comunidades pobres. Para aumentar as exclamações em torno desse tema, a maioria das vítimas é formada por crianças de até cinco anos.

 

No Brasil

Por aqui, as estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) refletem que mais da metade dos lares - 56% das residências brasileiras - não possui saneamento básico. A proliferação do aedes aegypt, mosquito transmissor da dengue, zika e outras doenças, está ligada à falta de saneamento, bem como de políticas públicas de combate aos focos de procriação do mosquito e de ações preventivas da população.

No âmbito governamental, estima-se a necessidade de investimentos da ordem de R$ 300 bilhões para implementação de obras de infraestrutura e gestão no tratamento de água. O plano seria de 20 anos para universalizar o tratamento de águas e esgoto no país. No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entretanto, foram destinados R$ 70 bilhões para essa área. Passados mais de seis anos desde o início do Programa Nacional de Saneamento Básico, apenas 12% das obras estão prontas

Este programa foi instituído pela Lei Federal 14.445, a partir de uma das metas do milênio, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover políticas públicas nesse âmbito. Entretanto, grande parte dos municípios brasileiros não conseguiu atender aos prazos para apresentação de projetos de saneamento.

 

Conscientização

“Ao analisar os números, no Brasil, entendemos a premência de ações do Estado para conter a progressão de todo sofrimento que é gerado quando pessoas vivem sem higiene adequada. Mas também vemos que é preciso disseminar uma conscientização da população, para que, em uma via de mão dupla, direitos e deveres sejam requeridos de ambos, do Estado e do cidadão”, analisa a pastora Romi. “O tema da CFE tem a ver com sustentabilidade e meio ambiente. É preciso repensar a cultura do consumo, do estilo de vida que é adotado nas concentrações populacionais. As indústrias precisam também valorizar o reuso da água, com o auxílio das tecnologias para esse fim, otimizando os recursos naturais. Portanto, como se evidencia, o tema aborda um aspecto amplo de reflexão”, finaliza.

 

Os números do saneamento no Brasil

O Texto-base da CFE 2016 traz várias informações sobre a situação do saneamento básico no Brasil. Veja abaixo alguns dados levantados a partir do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento Básico (2013):

  • 82% da população brasileira não têm acesso à água tratada
  • Mais de 100 milhões de pessoas não têm acesso à coleta de esgoto
  • Apenas 39% dos esgotos são tratados
  • Diariamente é despejado na natureza o equivalente a 5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento
  • 10,6% dos domicílios não são contemplados pelo serviço público de coleta de resíduos sólidos (PNAD/2013)
  • O Brasil está entre os 20 países do mundo nos quais as pessoas têm menos acesso a banheiros
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